sábado, 29 de janeiro de 2011

Dos contos do reino


E deu-se por achar El-Rey morto e posto.
Mas vivinho da silva, plenipotenciário, semideus quase.
Repetido e enviesado nos trejeitos e nas trapizongas de sua sucessora, a Rainha de Jabá, cujo temperamento perceptivelmente depende de fatores variáveis como o desenho das nuvens no céu, a direção e a cor do vento ou uma coceira no fiofó.  
A Rainha de Jabá anda em passo de bugio e ronca em tom de vanerão.
É feia pra dedéu, mastiga de boca aberta, é chata, boba, peidorrenta.
Passa a maior parte do tempo coçando o saco.
Quando fala, se fala, pouco ou nada diz.
E todos se perguntam “ahn... o quê?”
Mas a rainha promete...
As crianças do reino, bem longe dela, claro, a imitam: fazem caretas, sacodem o traseiro e dizem aquelas palavrinhas mágicas que fariam tia Dercy virar o cu na cova.
Enquanto isso, o povo – ah, o povo, esse detalhe soberano...
...o povo vai se havendo com suas ínguas e mínguas.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Questão de prioridade

R$ 622 milhões.

É o valor que o governo federal – Dilma Rousseff do PT – vai gastar com propaganda no primeiro ano de governo.

Nem é tanto assim, perto dos R$ 650 milhões torrados por Lula só em 2010. É que, diz-se por aí, DR está numa de "contenção de gastos".  Evidente, não se está em ano eleitoral.

No montante não está incluída a verba publicitária das estatais. Que também fazem propaganda do governo.

R$ 700 milhões.

É o valor previsto na Medida Provisória decretada pela presidente DR para recursos contra catástrofes. Como a que deixou mais de 800 mortos na região serrana do Rio de Janeiro.

Pode comparar.
Tudo é questão de prioridade.
As pessoas têm todo o direito à informação, não é mesmo?  

De uma, uma

Ela promete fazer amanhã o que Lula jurou em cartório ter feito ontem.
É mentira? Ou é a verdade que não aconteceu, como diz o poeta?
Dilma Rousseff presidente, depois da tragédia anunciada que deixou mais de 850 mortos e 470 desaparecidos na região serrana do Rio de Janeiro, promete criar, em quatro anos, o Sistema Nacional de Prevenção e Alerta de Desastres Naturais, o Sindec.
Pasmo é que no país das maravilhas de Lula o Sistema Nacional de Defesa Civil já existe e funciona a toda eficiência desde 2005. É o que diz papelada registrada em cartório sobre os feitos de seu governo.
O Sindec de Lula, consta, já “instalou nas cinco macrorregiões geográficas do Brasil as Coordenadorias Regionais de Defesa Civil, ou órgãos correspondentes, responsáveis pela articulação e coordenação do Sistema em nível regional”.
Pasmo é que Dilma Rousseff, a ministra gerente do PAC, não saiba onde foi que o antigo chefe mandou instalar o dito Sindec.
De uma, uma: mentiu Lula e confirma a mentira DR.
Pernas curtas tem a mentira.
Mas montada no alheio, anda muito de cavalo.    

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Memória do Holocausto

“Caro professor:
Eu sou um sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum ser humano deveria testemunhar: câmaras de gás construídas por engenheiros ilustres, crianças envenenadas por médicos altamente especializados, recém-nascidos mortos por enfermeiras diplomadas, mulheres e bebês assassinados e queimados por gente formada em ginásio, colégio e Universidade. Por isso, caro professor, eu duvido da educação. E eu lhe formulo um pedido:
– Ajude seus estudantes a se tornarem humanos. Seu esforço, professor, nunca deve produzir monstros eruditos e cultos, psicopatas e Eichmans educados. Ler e escrever aritmética são importantes somente se servirem a tornar nossas crianças seres mais humanos.”

(Carta publicada em 2002, p.10, por Anita Novinsky em “Janusz Korczak e a esperança perdida”.)


27 de janeiro é o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto, instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A data é uma homenagem simbólica aos seis milhões de judeus e às outras tantas vítimas do extermínio nazista. A resolução foi co-patrocinada por 104 países e aprovada por consenso, incluindo o Brasil. O texto rejeita qualquer questionamento de que o Holocausto foi um evento histórico, enfatiza o dever dos Estados-membros de educar futuras gerações sobre os horrores do genocídio e condena todas as manifestações de intolerância ou violência baseadas em origem étnica ou crença religiosa.


Paraíso ou Inferno?

Um político brasileiro anda tranquilamente pela rua quando é atropelado e morre.
A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro na entrada.
– Bem-vindo ao Paraíso!, diz São Pedro. Antes que você entre, há um probleminha. Raramente vemos parlamentares por aqui, sabe, então não sabemos bem o que fazer com você.
– Não vejo problema, é só me deixar entrar, diz o político.
– Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores. Vamos fazer o seguinte: você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso.  Aí, pode escolher onde quer passar a eternidade.
– Não precisa, já resolvi. Quero ficar no Paraíso, diz o velho político.
– Desculpe, mas temos as nossas regras.
São Pedro o acompanha até o elevador e ele desce, desce, desce, desce, desce, desce até o Inferno. A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe. Ao fundo, o clube onde estão todos os seus amigos e outros políticos conhecidos.
Todos muito felizes em traje social. Ele é cumprimentado, abraçado e eles começam a falar sobre os bons tempos em que ficaram ricos à custa do povo. Jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta e caviar.
Quem também está presente é o diabo, um cara muito amigável que passa o tempo todo trazendo belas garotas.
Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora de ir embora. Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe.
Ele sobe, sobe, sobe, sobe e a porta se abre outra vez. São Pedro está esperando por ele.
Agora é a vez de visitar o Paraíso. Ele passa 24 horas, junto a um grupo de almas contentes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando.
Tudo vai muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba e São Pedro retorna.
– E aí ? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Agora escolha a sua casa eterna.
Ele pensa um minuto e responde:
– Olha, eu já pensei. O Paraíso é muito bom, mas acho que vou ficar melhor no Inferno.
Então São Pedro o leva de volta ao elevador e ele desce, desce, desce, desce, desce, desce até Inferno.
A porta abre e ele se vê no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo.
Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas catando o entulho e colocando em sacos pretos.
O diabo vai ao encontro de seu novo hóspede e passa o braço pelo ombro dele.
– Não estou entendendo, – gagueja o político. Ontem mesmo eu estive aqui e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar, nós dançamos com belas garotas e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e meus amigos arrasados!!!
O diabo olha pra ele, sorri ironicamente e diz:
– Ontem estávamos em campanha. Agora, já conseguimos o seu voto...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Médicos reprovados

Publicado em O Estado de S. Paulo (03/01/2011)

Os resultados do projeto-piloto criado pelos Ministérios da Saúde e da Educação para validar diplomas de médicos formados no exterior confirmaram os temores das associações médicas brasileiras.

Dos 628 profissionais que se inscreveram para os exames de proficiência e habilitação, 626 foram reprovados e apenas 2 conseguiram autorização para clinicar.

A maioria dos candidatos se formou em faculdades argentinas, bolivianas e, principalmente, cubanas.

As escolas bolivianas e argentinas de medicina são particulares e os brasileiros que as procuram geralmente não conseguiram ser aprovados nos disputados vestibulares das universidades federais e confessionais do País.

As faculdades cubanas – a mais conhecida é a Escola Latino-Americana de Medicina (Elam) de Havana – são estatais e seus alunos são escolhidos não por mérito, mas por afinidade ideológica. Os brasileiros que nelas estudam não se submeteram a um processo seletivo, tendo sido indicados por movimentos sociais, organizações não governamentais e partidos políticos.

Dos 160 brasileiros que obtiveram diploma numa faculdade cubana de medicina, entre 1999 e 2007, 26 foram indicados pelo Movimento dos Sem-Terra (MST). Entre 2007 e 2008, organizações indígenas enviaram para lá 36 jovens índios.

Desde que o PT, o PC do B e o MST passaram a pressionar o governo Lula para facilitar o reconhecimento de diplomas cubanos, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira têm denunciado a má qualidade da maioria das faculdades de medicina da América Latina, alertando que os médicos por elas diplomados não teriam condições de exercer a medicina no País.

As entidades médicas brasileiras também lembram que, dos 298 brasileiros que se formaram na Elam, entre 2005 e 2009, só 25 conseguiram reconhecer o diploma no Brasil e regularizar sua situação profissional.

Por isso, o PT, o PC do B e o MST optaram por defender o reconhecimento automático do diploma, sem precisar passar por exames de habilitação profissional - o que foi vetado pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira. Para as duas entidades, as faculdades de medicina de Cuba, da Bolívia e do interior da Argentina teriam currículos ultrapassados, estariam tecnologicamente defasadas e não contariam com professores qualificados.

Em resposta, o PT, o PC do B e o MST recorreram a argumentos ideológicos, alegando que o modelo cubano de ensino médico valorizaria a medicina preventiva, voltada mais para a prevenção de doenças entre a população de baixa renda do que para a medicina curativa.

No marketing político cubano, os médicos "curativos" teriam interesse apenas em atender a população dos grandes centros urbanos, não se preocupando com a saúde das chamadas "classes populares".

Entre 2006 e 2007, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara chegou a aprovar um projeto preparado pelas chancelarias do Brasil e de Cuba, permitindo a equivalência automática dos diplomas de medicina expedidos nos dois países, mas os líderes governistas não o levaram a plenário, temendo uma derrota. No ano seguinte, depois de uma viagem a Havana, o ex-presidente Lula pediu uma "solução" para o caso para os Ministérios da Educação e da Saúde. E, em 2009, governo e entidades médicas negociaram o projeto-piloto que foi testado em 2010. Ele prevê uma prova de validação uniforme, preparada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC, e aplicada por todas as universidades.

Marque a alternativa correta

O Enem virou prova:

A – de incompetência do Ministro da Educação;
B – do fiasco do SISU (Sistema Inoperante para Sacanear Univesitários);
C – de descaso com a Educação e desrespeito aos direitos dos estudantes;
D – de bagunça e desperdício com dinheiro público;
E – todas as alternativas estão corretas.

A conta da farra

Um novo recorde.
Chegam a R$ 80 milhões os gastos sigilosos do governo feito com cartões corporativos.
Tudo isso em meio ao caos das chuvas, ao drama dos mortos e desabrigados, às denúncias de desvios no programa Minha Casa, Minha Vida, ao fiasco do Enem, à alta sorrateira da inflação e ao aumento acintoso dos salários dos parlamentares.
É dinheiro gasto sem que o contribuinte – que paga a conta – saiba onde foi parar.
Desde que foi implantado, em agosto de 2001, os gastos com o cartão já atingiram R$ 357,6 milhões. Quem mais utilizou os cartões ao longo dos últimos nove anos? A Presidência da República. Só em 2007 foram R$ 58,7 milhões, o equivalente a quatro mil moradias populares.
As despesas não podem ser discriminadas por serem “informações protegidas por sigilo, para garantia da segurança da sociedade e do Estado”.
Resta saber onde está essa “segurança da sociedade”. Já por parte do governo se vê a farra mais do que garantida pelo “sigilo”.
O aumento com as despesas foi de 66% em relação aos milhões consumidos em 2009, de acordo com dados da ONG Contas Abertas. Confira aqui.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A vida de um santo


Ficou fora do Oscar 2011 o fiasco “Lula, o filho do Brasil”.
Surpresa? Nenhuminha, neo.
Sites americanos especializados em cinema já davam como bola fora, desde a controversa indicação ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro.
Não é nem de longe produção de cinema brasileiro comparável aos ótimos É Proibido Fumar, de Anna Muylaert, e Bróder, do diretor Jeferson, ganhador do Festival de Gramado em 2010. É uma decepção crítica e comercial desde o lançamento.
Frustrada, portanto, a propaganda eleitoral mais cara nunca antes produzida na história deste país, feita de encômio à promoção da publicidade internacional de Lula e do partido que ele encarna.
Propaganda feita com socos de sentimentalismo piegas na boca do estômago. 
Financiada com dinheiro de empresas com negócios – portanto, com interesses no governo Lula.
Fiada na crença de que os membros da Academia de Cinema votam com as tripas apenas em películas de apelo emocional e mensagem de superação e auto-ajuda do tipo “only in America”.
Para os conhecedores da arte, aquilo nem é uma cinebiografia. 
É um “hagiopic”.
Hagiológico é uma obra sobre a vida de um santo.
O filme de Lula é um hagiológico.

Raciocínio lógico

Quatro lombrigas são colocadas em quatro tubos de ensaio separados:
• A primeira lombriga em álcool;
• A segunda lombriga em fumo de cigarro;
• A terceira em esperma;
• A quarta em terra natural.
No dia seguinte a professora mostra aos alunos o resultado:
• A primeira lombriga, em álcool, está morta;
• A segunda, no fumo do cigarro, está morta;
• A terceira, em esperma, está morta;
• A quarta, em terra natural, é a única viva e saudável.
A professora comenta que é bastante nítido o que é prejudicial e pergunta à classe:
– O que podemos aprender com esta experiência?
Joãozinho responde:
 – Quem Bebe, Fuma e Faz Sexo nunca vai ter lombriga, fessora!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vou cantar-te nos meus versos

É hora da Copa e dos Jogos Olímpicos. Daqui em diante, é hora de ONGs que apoiam o esporte, tiram crianças das ruas, combatem drogas. Depois das festas, todas serão investigadas por desvio de dinheiro público. E sumirão do mapa.
Copa e Olimpíadas vão para a passarela. Gilberto Gil estará num carro alegórico, representando "o espírito olímpico visitando a Pátria do Esporte num dia de sol, ao raiar do fogo da vitória e homenageando o mamoeiro que dá limão".
O desenho dos mascotes vai misturar um índio, o sol, aliás parecidíssimo com uma bola Jabulani, o Carnaval, tudo criado por Hans Donner e Oscar Niemeyer. O mascote se chamará "Caíque Boleiro", ou "Maninho do Olimpo".
A tocha olímpica será roubada (seguindo o destino da Taça Jules Rimet). O carnavalesco da Beija-Flor, orientado por Joãozinho 30, fará uma réplica.
Cláudia Leitte e Ivete Sangalo cantarão o Hino da Copa e o das Olimpíadas, compostos por Latino. Em baixo do palco, centenas de pessoas exibirão cartazes de cartolina, com a inscrição "Galvão, filma nóis" e "100% Comunidade".
Vai faltar gás para a tocha olímpica. E aquele pedestal chiquérrimo para a bola da Copa não chega até a semifinal.
Um vira-lata simpaticíssimo vai furar a segurança e confraternizar com os atletas. Será batizado de Copinha e virará mascote, com direito a ficar no Maracanã. Será adotado por um ex-ministro, que dirá que cachorro também é gente.
Uma música de sucesso: "Segura na minha tocha que eu acendo a sua pira".
(Texto de BRICKMANN & Associados)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Lanterna dos afogados

Parece que foi hoje (veja abaixo) o vídeo gravado há quatro anos!
A verdade, mais que óbvia neste caso, soa à profecia.
Enquanto o Brasil tiver mais “otariedade” que autoridade, a desgraça tem endereço certo e residência fixa.
Mas grande parte da imprensa neotonta “prefere” mostrar o drama pessoal dos flagelados das chuvas a questionar a conduta criminosa de honoráveis patifes.
O discurso de choro e vela cai sob encomenda para escoimar a patifaria política.
Precisa dizer a quem interessa?
A conivência de borrego manso é pior que a hipocrisia da contumácia.
Contumácia, neo, é a recusa deliberada de não comparecer na responsabilidade ao chamado do juízo. Se falta responsa, que dirá juízo.
Mais fácil dizer e fazer crer que “tudo é por causa chuva” para encharcar o humanismo bacoco e deixar a solidariedade de ocasião alojar freguesias no país dos iludidos e afogados.
A natureza se vinga? Nenhuma desgraça humana é natural.
Os que constroem precisam saber que... chove.
Precisa desenhar?


Não é a chuva que deve ir para a cadeia

MARCOS SÁ CORRÊA

    (Foto: Veja, Ed.Abril)

Das surpresas do clima, quem pode falar por todos os políticos com conhecimento de causa são os faraós egípcios. Eles, como o ex-presidente Lula, agiam como enviados do céu à Terra. E, ao contrário do ex-presidente Lula, não falam desde que saíram de cena, a não ser por intermédio de escribas e hieróglifos.

Mas, como encarnações do Sol, se o Sol fracassava lá em cima, eram arrancados do trono cá embaixo, surrados e cuspidos no fundo do Nilo. Tudo porque o rio deixava de inundar o delta que nutria seu reino agrícola. Lá, o regime político mudava conforme o regime do rio. Tornava-se violento e insurreto até o Nilo voltar à normalidade, irrigando uma nova dinastia.

As vítimas dessas tragédias políticas e climáticas não tinham, na época, como saber que as cheias do Nilo eram regidas pelas chuvas de monção do Sudeste Asiático, que por sua vez dependiam de ventos conjurados pela temperatura das águas no Oceano Pacífico, do outro lado da terra, na costa da América do Sul, um lugar mais distante que o Sol do cotidiano egípcio.

O culpado da desordem era um fenômeno natural que só entrou há duas décadas no noticiário internacional, com o nome de El Niño. Mas deixar o clima fazer seus estragos à solta, em Tebas ou Mênfis, tinha custo político, porque da regularidade do rio dependiam vidas humanas. O preço era injusto, cruel e exorbitante. Como é injusto, e talvez seja também cruel e exorbitante, que hoje não se processe no Brasil, por homicídio culposo, o político que patrocina baixas evitáveis e supérfluas em encostas carcomidas e vales entulhados por ocupações criminosas.

No dia em que um prefeito, olhando as nuvens no horizonte, enxergar a mais remota possibilidade de ir para a cadeia pelas mortes que poderia impedir e incentivou, as cidades brasileiras deixariam aos poucos de ser quase todas, como são, feias, vulneráveis e decrépitas. De graça ou com o dinheiro virtual do PAC, os políticos não consertarão nunca a desordem que os elege.

Não adianta ameaçá-los com ações contra o Estado ou a administração pública, porque o Estado e a administração pública, na hora de pagar a conta, somos nós, os contribuintes. O remédio é responsabilizar homens públicos como pessoas físicas pelos crimes que cometem contra a vida. Às vezes em série, como acaba de acontecer na região serrana do Rio de Janeiro.

O resto é conversa fiada. Ou, pior, papo de verão em voo de helicóptero, que nessas ocasiões poupa às autoridades até o incômodo de sujar os sapatos na lama. Pobres faraós. O longo e virtuoso o caminho civilizatório que nos separa de seu linchamento está nos levando de volta à impunidade anárquica das entressafras dinásticas, quando a favelização lambia até as suntuosas muralhas de Luxor.

Linchar um político não é a mesma coisa que malhar seus projetos. E os brasileiros estão perdendo mais uma chance de bater com força no projeto de lei número 1876/99, que o deputado Aldo Rebelo transfigurou, para enquadrar o Código Florestal nos princípios do fato consumado. Ele reduz à metade as áreas de preservação em margens de rio, dispensa da reserva legal propriedades pequenas ou médias e consolida os desmatamentos ilegais. Nunca foi tão fácil saber aonde ele quer chegar, folheando as fotografias aéreas das avalanches em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Dá para ver nas imagens o que havia antes nos pontos mais atingidos. É o que o novo Código Florestal vai produzir no campo. Mais disso.

(Texto publicado no Jornal O Estado de S.Paulo, 14.01.11)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Não é o fim da tragédia




As charges acima dispensariam quaisquer comentários.
Mas outras tragédias virão.
Naturais ou humanas, como essas, solapadas no terror das águas e dos deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro.
Nas imagens e relatos, sob a ótica das edições televisivas que nos dão o [des]conforto da distância diante da dor dos outros, não falta a gota da consternação que comoveu até a misericórdia o Papa, a implorar a assistência e consolação divina para os desalojados e quantos sofrem física e moralmente.
Mas a gota d’água a transbordar um pote até aqui de lástimas é a da irresponsabilidade.
Não se vá imputar a calamidade aos céus nem aos flagelados que ocupam barrancos e áreas impróprias (ou não) à moradia, gente entregue à [má] sorte de sucessivas administrações públicas relapsas, incompetentes e inoperantes.
Se essa gente lá está – e centenas de pessoas já não estão mais – é por causa do deixa-rolar do poder público. Do descaso de governos e das políticas “de gabinete” que transformam a conivência criminosa em votos nos períodos eleitorais para candidatos nada cândidos. De votos que botam no poleiro uma trupe ocupada em legislar em causa própria, a esbaldar-se em vantagens indevidas e a defender interesses de partidos e ‘cumpanhêros’. Aqueles que se elegem e se enriquecem à custa da desgraça dessa gente.
São as excelências das artes de furtar, de prevaricar com o dinheiro público, de subtrair a ética da administração da vida do país e “governar” com empulhação marqueteira.  
A tragédia do Rio de Janeiro foi anunciada por estudo encomendado pelo governo (confira aqui).
Mas a iminência do desastre não tem agenda. A campanha eleitoral, a eleição, a reeleição é o que interessa, o resto não tem pressa.
A tragédia anunciada do Rio de Janeiro, um crime social, não é nem será a última.  
Não precisa calendário maia, é só ver os sinais dos tempos na res publica do Brasil de hoje.
A tragédia do Rio não bastará para chamar à responsabilidade um povo conformado, feliz com o orgulho barato do desenvolvimento nacional nunca antes visto na história desse país, pelo qual se paga muito caro. Nem vai pôr a garrote governantes safados na paz da bovinidade. Os mesmos que irão valer-se da prosaica solidariedade deste povo para se soerguer nesse país de [nem] todos, povo marcado, êh, povo feliz. Que só é nação na vã euforia dos gramados ou no batel da desgraça.
Por solidariedade e consternação, mais que justificados pelo horror da hora, brotarão os esforços e o engajamento de toda parte do país com a ação do voluntariado, o trabalho da Cruz Vermelha, das ONGs, Defesa Civil, polícias, corpo de bombeiros, dos bancos que já disponibilizaram contas para doações, de artistas, das iniciativas privadas. A sociedade civil, mais uma vez, fará o seu papel, para suprir a sonegação de seus governantes.
Os donativos para acudir as principais necessidades – água, comida, produtos de higiene, remédios, roupas e cobertores – chegarão às vítimas.
A reconstrução de vidas e destinos se fará, é certo, lenta e penosa, nas memórias para sempre turvadas por um rio que passou torando o caos.
Só não terá torado a corrupção, a irresponsabilidade, a demagogia, o descaso, a incompetência, a canastrice de governantes em todos os níveis, salve-se aí alguma fatídica exceção.
E depois, depois vem carnaval, copa do mundo, olimpíada... Com superfaturamento, muito jogo de empurra e barriga vai-se levando... Com jeito vai.
Mas que se saiba: falta de aviso não foi, como atestou o estudo feito pelo próprio governo. Estudo que deveria servir de alerta para o resto do Brasil.
Falta de dinheiro não é, porque o país tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo, cerca de 35% do PIB. Falta de projeto também não é, porque o Ministério das Cidades tem verba e um Programa de Prevenção e Preparação para Desastres. Falta de empenho e compromisso sim, porque o Centro de Prevenção de Desastres – há dois anos – não sai do papel em meio a um PAC virtual que, dizem, há por aí.
Repetindo: Há dois anos, o Ministério da Integração Nacional empurra a construção do Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres (Cenad), com orçamento acumulado de R$ 2,6 milhões, o que poderia evitar e minimizar os danos provocados pelas chuvas com o monitoramento dos riscos. O Cenad não saiu do papel “por conta de dificuldades relacionadas ao terreno que vai abrigar o departamento em Brasília”, informou o site da ONG Contas Abertas (clique aqui para ler matéria na íntegra).
As tragédias acima poderiam até não acontecer.
As tragédias acima dispensariam quaisquer comentários.
Mas outras charges virão.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Filosofia de sabonete

Para quem anda abestado com os altos salários dos tiriricas mais as ajudas de custo isso-e-aquilo, tome mais esta:

R$ 2,7 milhões de reais

É o valor da conta que tu+eu+nós pagamos de gastos dos funcionários para eles, os ex-presidentes dos Estados Unidos da República Federativa do Brasil.
Não se pense que porque o chefe deixou o cargo as regalias minguaram.
Os ex-celências têm direito a oito funcionários permanentes, de livre escolha, com salários que variam de R$ 2,1 mil até R$ 9 mil, para exercer funções de segurança e assessoria.  
O valor da continha milionária está publicado no site da ONG Contas Abertas, para quem quiser conferir (clique aqui).
São cinco os ex-celências: Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), José Sarney (PMDB-AP), Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Itamar Franco (PPS-MG) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).
Antes os ex recebiam ainda o salário embolsado enquanto presidentes. A mordomia foi cortada no governo FHC.
Sarney, Collor e Itamar Franco continuam senadores.
Você pergunta se o acúmulo de cargo acumula as vantagens? Sim.
Hein? Se os vencimentos podem chegar a mais que o dobro permitido pela Constituição Federal que estabeleceu como teto salarial o subsídio de ministro do Supremo Tribunal Federal? Sim (veja aqui).
Se os ex podem passar férias na praia do Forte dos Andradras, e nós pagando? Sim, se algum camarada ministro convidar.
E passaporte diplomático, pode? Sim, carteirada aqui é “de lei”, neo.
E tem mais?     
Os ex-celências têm à disposição dois veículos oficiais de luxo e combustível ilimitado (confira aqui). Os carros são novos e o modelo mais utilizado é o Chevrolet Omega. Valor? R$ 150 mil. Os dois carros? Não, cada.
Não, não pense que se morrerem acaba a maminha, a mamona, a mamata, a mamadeira ou outro apelido que se lhe dê. No óbito, fica a pensão vitalícia de R$ 26,7 mil para a viúva.
Justo. Tudo em nome dos relevantes serviços prestados à nação.
E dos irrelevantes?
Aí, neo, é a filosofia do antigo sabonete: vale quanto pesa.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A montanha de sermão


A foto da presidente da república, Dilma Rousseff (PT), e do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), está publicada desde ontem no site do Fluminense Futebol Clube.
A expressão consternada de ambos, reparem, revela um flu, ops, flagrante do espírito de equipe, de torcida, de solidariedade, de humanismo em meio à tragédia na região serrana do Rio de Janeiro.
Já são mais de 500 mortos, sem contar os desaparecidos. Segundo a Defesa Civil, há pelo menos 13 mil desabrigados (os que perderam tudo e necessitam de abrigos públicos) ou desalojados (que contam com a ajuda de vizinhos e familiares) no Estado.
As enchentes na região serrana do Rio de Janeiro já são o quarto maior desastre com chuvas nos últimos 12 meses no mundo, segundo levantamento do Centro de Pesquisas de Epidemiologia dos Desastres (Cred). O Cred, localizado em Bruxelas, na Bélgica, vem compilando dados sobre desastres em todo o mundo há mais de 30 anos (leia notícia na íntegra, aqui).
De acordo com os dados do Cred, as enchentes no Paquistão ocorridas entre julho e agosto do ano passado, que deixaram 1.985 mortos, provocaram o maior número de vítimas fatais nos últimos 12 meses no planeta.
O segundo maior número de mortes em desastres do tipo no último ano ocorreu em Zhouqu, província chinesa de Gansu. Um deslizamento de terra provocado pelas chuvas deixou 1.765 pessoas mortas em agosto. Também na China, em Fujian, província de Sichuan, temporais entre maio e agosto deixaram 1.691 mortos em consequência das cheias e dos deslizamentos de terra.
Na quinta-feira, o número de mortos na tragédia fluminense ultrapassou o saldo de vítimas das enchentes e dos deslizamentos em Nametsi, Uganda, onde 399 pessoas morreram entre fevereiro e março de 2010. Os deslizamentos na região serrana do Rio são, ainda, os mais fatais no Brasil desde 2000. As enchentes de abril do ano passado no Rio deixaram 256 mortos, as inundações de 2003 no Nordeste e no Sudeste mataram 161, e as enchentes de 2008 em Santa Catarina deixaram 151 mortos.
A cheia mais mortífera de que se tem notícia, segundo os registros do Cred, ocorreu na região central da China, em 1931, quando 3,7 milhões de pessoas teriam morrido, segundo as estimativas. Na última década, as enchentes de maio de 2004 no Haiti, com 2.600 mortos, foram as que deixaram o maior número de mortos.
Após sobrevoar a região serrana do Rio de Janeiro, destruída pelas chuvas, a presidente DR, acompanhada de Cabral e comitiva, pousou de helicóptero no estádio das Laranjeiras. Receberam as camisas do Fluminense e posaram para a foto catita, num evento de boas-vindas organizado pelo vice-presidente do clube.
Logo depois, em entrevista coletiva, a presidente DR afirmou, prestem atenção: “Moradias em áreas irregulares no país são a regra, não a exceção”. Levantou uma pergunta retórica:  “Quando não se têm políticas de habitação, a pessoa que ganha até dois salários mínimos vai morar onde?” E saiu-se com a resposta que é síntese da omissão dos governos: “Vai morar onde não pode, porque é justamente as regiões que estão desabitadas”.
A presidente bateu no ponto. Praticamente uma confissão, enquanto não faltam coscuvilheiros insistindo em pôr a calamidade na conta da maior "catástrofe natural" da história do país, consequência das "mudanças climáticas", culpa do aquecimento global ou de São Pedro.
Atentaram para o que ela disse? “Quando não se têm políticas de habitação...”
Uai, e aquele ma-ra-vi-lho-so programa “Minha Casa, Minha Vida”? Ah, sim, basta uma vasculhada na internet para ver que nunca foi entregue o milhão de casas prometido. Uai, e os nove anos em que o PT já está no poder, com DR junto? Uai, não  é ela, segundo Lula, a "mãe do PAC" e foi a ministra responsável pelos grandes projetos de infra-estrutura do país? Uai, neo, e...?
Qualquer neo reconhece, óbvio, que não se muda em uma década a mazela dos séculos, mas já não era tempo de mudar a “regra das moradias irregulares no país”? 
Raciocinemos.
Se DR, como diz Lula, é o braço direito dele, portanto, a continuidade do governo petista; portanto, a continuidade de si mesma...
Se DR reconhece que “não se têm políticas de habitação”...
Quer dizer que as ocupações e construções em área de risco continuarão como “regra”?
Que no rodo e no salve-se-quem-puder das próximas enchentes (porque é certo que elas virão) e atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu?
Pelo menos agora, diante das “cenas fortes” de “um momento muito dramático” em que “montanhas se dissolveram”, segundo observações da presidente DR, ela prometeu investir na prevenção e criar políticas habitacionais. “A prevenção não é uma questão de Defesa Civil apenas, é questão de saneamento, drenagem e políticas de governo”, afirmou.
Correto. Fica a promessa. Amém.
Depois que “montanhas se dissolveram” no flagelo das chuvas, não se fará o milagre da multiplicação de moradias decentes com uma montanha de sermão.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Chuvas, tragédias e vuvuzela


Entra ano, sai ano, vem a força destruidora das chuvas desaguar em tragédias humanas estampadas nas manchetes dos jornais e no desespero de moradores das áreas atingidas.
Noticiários recentes faziam até desconfiar que a chuva é uma armação política para jogar os alagamentos e o caos da cidade de São Paulo à irresponsabilidade de seus governantes. O governo do estado está sob comando de Geraldo Alckmin (PSDB) e a prefeitura administrada por Gilberto Kassab (DEM).
Em Minas Gerais, a Defesa Civil já decretou emergência em 65 municípios. Região Metropolitana de Belo Horizonte, Sul, Zona da Mata são as mais afetadas.
Apesar da chuva intensa e generalizada, não faltaram parangonas internéticas a sugerir que os estragos nas cidades governadas por partidos de oposição ao PT eram um castigo do céu por causa de “voto errado” e não um fenômeno da natureza. E da irresponsabilidade, claro, de governantes. Porque em grande parte é.
Mas foi o prefeito de Teresópolis, RJ, Jorge Mário (PT) quem nesta quarta-feira decretou calamidade pública na cidade arrasada com deslizamentos e mortes por causa das chuvas. Mais de cem mortos até agora e cerca de 1.300 desabrigados na região serrana. É o acidente mais grave ocorrido no estado desde a tragédia de Angra, um ano atrás, e o deslizamento do morro do Bumba, em Niterói, quando morreram dezenas de pessoas soterradas em abril do ano passado.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), é aquele que anda ocupado em defender a legalização das drogas e a descriminação do aborto. Cabral apoia Lula que apoia Dilma Rousseff, a presidente ex-ministra do programa “Minha Casa, Minha Vida”, que entregou apenas 10% das casas prometidas, pouco mais de 3 mil residências, a essa gente desabrigada. Em tempo: no Vale do Itajaí, Santa Catarina, arrasado pelas chuvas de 2008, ainda hoje há cerca de 300 famílias vítimas daquelas chuvas vivendo em abrigos provisórios.
Sérgio Cabral está de férias em Paris e só chegará ao Rio na quinta-feira, 13. Procurado pela imprensa, disse que já conversou com a presidente DR para tratar das medidas emergenciais sobre os desastres causados pela chuva.
Detalhe: o PAC 2 de Dilma prevê investimentos de R$120 milhões para Teresópolis, onde vivem 150 mil habitantes, contra R$69 milhões destinados a São Paulo – o que beneficiaria 12 milhões de pessoas, para aplicar em áreas de risco e deslizamentos. O investimento per capita do PAC 2 na petista Teresópolis, para áreas de risco, será de R$800. Em São Paulo, será de menos de R$6.
O vice-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, declarou que “O quadro é triste e desesperador.” Óbvio, Pezão, e aí? Ainda mais num estado onde Olimpíadas e Copa do Mundo, projetos de política circense, estão no pódio das prioridades. Onde se gastou dinheiro para instalar teleféricos no morro e não para conter as encostas. É mais que triste e desesperador. A ser assim, não será nem de longe a última das catástrofes.
Sérgio Cabral, vale lembrar, é o mesmo governador do Rio de Janeiro que, na tragédia de Angra dos Reis, culpou as autoridades e a elite de omissão pelas ocupações irregulares nas encostas e a construção de moradias em áreas de risco. Culpou principalmente a cumplicidade dos políticos.
Culpou com conhecimento de causa. A tragédia de Angra foi anunciada. Um laudo técnico já acusava o risco na região sem que o governador nada fizesse para impedir. Quer dizer, algo ele até fez. Assinou um decreto permitindo a construção de mansões de ricos e famosos na área de preservação ambiental que engloba os pontos mais calamitosos da catástrofe de Angra. O decreto de Cabral, por beneficiar as celebridades, ficou conhecido como “decreto Luciano Huck”, em alusão à mansão que o apresentador, cliente da mulher do governador, possui na região (veja aqui).
Além da negligência de autoridades e elite (segundo Cabral), há os “movimentos sociais” pró-invasão, estimulados por ideologias populistas e esquerdismos irresponsáveis, perniciosos. Sinal da carência de políticas públicas de assentamento, moradia e urbanização. 
Por ocasião da tragédia de Angra, Sérgio Cabral disse que a situação leva tempo para resolver. É verdade. Até hoje Angra busca a liberação de verbas para a conclusão de obras nas encostas do município, devastado pelas chuvas de janeiro de 2010. A verba é parte do total de R$80 milhões prometidos pelo governo Lula, à época, dos quais apenas R$30 milhões foram repassados pelo estado do Rio à cidade (confira).
Não se está aqui trombeteando o desastre, porque tudo isso é lamentável. Há vidas em perigo. Há perdas e danos irreparáveis. É dever do poder público agir e prevenir, rápido. No enxurrio das omissões, irresponsabilidades e negligências, tudo junto e misturado, é previsível o dilúvio universal. E tome vuvuzela!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Quinze minutos de infâmia?


No futuro todos terão direito a 15 minutos de fama, profetizou Andy Warhol, o artista que pintou ícones do cinema, como Marilyn Monroe, e produtos norte-americanos famosos como garrafas de coca-cola.
A previsão do artista se confirmou com as chamadas celebridades instantâneas. Aquelas pessoas anônimas que ganham notoriedade repentina, por causa de algum escândalo ou algum fato de repercussão na mídia, a exemplo dos fênomenos da Internet. Essas celebridades-relâmpago costumam voltar ao anonimato da mesma maneira – ou até pior – que dele saíram. Algumas são inofensivas, nem duram o tempo da estação.
Na posse da presidente Dilma Rousseff, a esposa do vice Michel Temer, ex-miss Marcela Temer, roubou (calma, é apenas força de expressão) a cena. Instantaneamente atraiu os flashes e ofuscou a estrela vermelha do PT vestida de branco.
Logo após a posse de Dilma, foi a vez da família Lula da Silva ganhar (mais uma vez) os noticiários por causa de fatos nada meritosos. Os filhos de Lula receberam de presente passaporte diplomático sem motivo justificável, senão o de facilitar-lhes as viagens ao exterior. A seguir, foi a família toda passar férias à custa de dinheiro público, no Forte dos Andradas, uma reserva militar do Guarujá. Segundo consta, “a convite do Ministério da Defesa”, o que tornaria legal a hospedagem.
No estrelato dos Lulinhas, a ascensão foi mais que meteórica. De “pobres” que eram em 2003 saltaram milionários para 2011, donos de seis empresas. Um deles mora em apartamento cujo aluguel de R$12 mil reais é pago por um anônimo amigo dono do grupo Gol, de empresas que têm contratos com o governo, sócio do Lulinha Fábio Luís na Gamecorp. Tudo isso sob as benesses de papai, o filho do Brasil que confunde governar com ser dono do país. O mesmo Lula que tanto enxovalha “as elite” quando lhe falta argumento e razão para explicar imoralidades administrativas como a farra dos cartões corporativos e o mensalão, sem o mínimo de decoro de se repimpar por conta do erário.
Outra faceta da fama e da popularidade de Lula evidenciou-se pouco antes de deixar a presidência, quando decidiu não extraditar o assassino Cesare Battisti, condenado pela justiça italiana. Os fatos já renderam páginas e páginas nos noticiários e até mesmo dada a frequência com que foram expostos, podem parecer mais distantes do interesse público que a aparição de uma celebridade instantânea como Larissa Riquelme, a modelo que ficou mundialmente famosa porque assistia aos jogos da Copa da África com um celular entre os seios. Ou a reprise de um BBB global com novas figurinhas carimbadas com o tempo de duração da passagem de um cometa.
O futuro chegou e o reverso do epigrama de Warhol equivale a dizer que todos terão quinze minutos de infâmia, ao passar por uma experiência vexatória, uma humilhação ou constrangimento. Isso é possível porque a tecnologia pode tornar pública a vida de qualquer um. O olhar penetrante da mídia pode escancarar um deslize, um relaxo ou um malfeito – para usar uma expressão do repertório de Dilma Rousseff, e pronto, realizam-se os quinze minutos da profecia. Acontece que alguns escândalos permanecem, renitentes para além do tempo tolerável senão à solução, ao opróbrio que merecem.
Acontece também que fama e popularidade duradouras têm um custo e manter-se no centro das atenções exige mais que disposição de ânimo. Exige mais do que o “encanto” de declarações bonachonas e de histrionismos no circo do poder. Não deve ser por isso que Lula faz por prolongar os oito anos de poder e fama com mais infâmias. Como se não bastasse o besteirol somatizado ao longo de dois mandatos espetaculosos pelo talento de iludir com a bufonaria de que não sabia de nada.   
No Brasil, já se disse, não tem escândalo que dure 24 horas. Até porque, no circo político mal estoura um escândalo logo vem outro ocupar a cena e tudo não passa de altercação. Resta um vaudeville de infâmias, à burla da lei, onde o mau gosto e um mal ajambrado script se repetem a cada eleição, a cada governo com a canastrice irremediável dos maus atores. Que nem se lixam para a opinião pública e o reproche da plateia, como já declamou um deles, o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), sob acusação de desviar dinheiro público. Ele ganhou, além de notoriedade, um novo mandato. “Vocês batem, mas a gente se reelege.”, declarou no ato da comédia de horrores.
Tem sido assim no teatro político onde a tragicomédia dos maus costumes vai ampliando a galeria das infâmias. Se a fama é o mais duradouro dos túmulos, o que dizer da infâmia? Que a terra lhe seja leve, Lula.