quinta-feira, 29 de março de 2012

O brasileiro não leitor é o mesmo brasileiro eleitor!

Cai número de leitores no País e metade não lê


A terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a ser apresentada hoje na Câmara, revelou que a população leitora diminuiu no País. Enquanto em 2007 55% dos brasileiros se diziam leitores, hoje esse porcentual caiu para 50%.
São considerados leitores aqueles que leram pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Diminuiu também, de 4,7 para 4, o número de livros lidos por ano. Entraram nessa estatística os livros iniciados, mas não acabados. Na conta final, o brasileiro leu 2,1 livros inteiros e desistiu da leitura de 2.
A pesquisa foi feita pelo Ibope Inteligência por encomenda do Instituto Pró-Livro (IPL), entidade criada em 2006 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional de Editores e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares. "É no mínimo triste a gente não poder comemorar um crescimento", disse Karine Pansa, que acumula a direção do IPL e da CBL. Ontem, o Estado mostrou que 75% dos brasileiros nunca pisaram em uma biblioteca.

quarta-feira, 28 de março de 2012

"Viver é desenhar sem borracha."

Com tanto vaso ruim...
... e vai-se Millôr Fernandes (1923-2012).
Humorista, desenhista, escritor, dramaturgo.
Pensador, gênio.
Criança, muito cedo eu já lia Millôr no jornal O Pasquim e em sua coluna Pif Paf, na revista O Cruzeiro. Alguns exemplares chegavam lá em nossa casa humilde porque um tio da Marinha os trazia do Rio de Janeiro, numa época em que computadores eram visagens da ficção científica e livros eram um luxo, tesouros da juventude, asas e sonhos que pairavam acima das nossas necessidades. Mas instigavam descobrir e ir muito além delas.  
Eu gostava das ilustrações, do estilo de Millôr, embora, menino, me escapasse um tanto da ironia de seus textos.
É dele, impagável, a frase: “O último refúgio do oprimido é a ironia, e nenhum tirano, por mais violento que seja, escapa a ela. O tirano pode evitar uma fotografia, não pode impedir uma caricatura. A mordaça aumenta a mordacidade.”
Millôr foi um dos meus primeiros professores nas primeiras letras, ao lado das revistas Conde Drácula (das edições Bloch), Gato Félix e Walt Disney, que minha infância devorou no pensamento mágico.
O Brasil fica mais medíocre.
Mais conveniente, mais conformado.
Menos divertido.
Mais jeca.
Mais intelectualmente castrado nestes tempos obscuros e sem graça do “politicamente correto” em que, parafraseando Millôr, mais brinca a hipocrisia como quem brinca com a roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada... e em geral, quando a gente encontra um espírito aberto, entra e verifica que está é vazio.

domingo, 25 de março de 2012

Padre Chrystian Shankar e o aconselhamento amoroso no Fantástico show da vida

Eis que aparece o comunicador-Padre Chrystian Shankar no programa Fantástico, da Rede Globo. Por conta da repercussão na web de um vídeo no qual dá conselhos para arranjar namoro, como um método de pregação ou evangelização – parece ser isto – que usa na missa da família, celebrada toda quarta-feira no Santuário de N. Sra. Aparecida, em Divinópolis, Minas Gerais.
Padre Chrystian demonstra qualidades notáveis, acho, para além do tom jocoso de suas prédicas. Eu frequentava as missas no santuário quando ele começou lá o seu trabalho. Menos de um ano e a coisa foi virando um rebanhão, que tornou difícil até – até não, principalmente – entrar na igreja. Vazou cristão, crente, curioso e simpatizante para todo lado, tanto que a missa hoje é exibida em telões para quem se aboleta do lado de fora. Em volta, surgiram barraquinhas e mercancias religiosas (ou nem tão religiosas assim) e tudo ganhou uma dimensão descomunal com as caravanas de fieis (ou nem tão fieis assim). Uma dimensão que em muitos momentos sugeriu-me formar-se ali um quê de fanatismo, nem tanto por conta dele, mas apesar dele. Isso, entendo, exigiria redobrar o próprio esforço no trabalho evangelizador, sob o risco de não se sacrificar ou perder o objetivo.
Afastei-me da igreja. Por mea culpa e bem refletida decisão. É porque em mim diz mais alto a certeza de que se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós. Tenho que calar a voz. Tenho que encontrar a paz. Caminhar decidido pela estrada que pode dar em nada do que eu pensava encontrar – como diz a canção. Mas por uma estrada que fiz e faço por necessidade de busca ou de fé, sem intermediário ou procurador entre mim e Deus.
A repercussão do vídeo de Chrystian ocorre num momento em que o cristianismo é a religião mais achacada em todo o mundo. No Brasil, país de formação católica – e entendo que essa característica muito mais pesa como tradição e cultura do que como religião propriamente – a beligerância voga em campo aberto a combater símbolos como o crucifixo. No Rio Grande do Sul, uma decisão judicial obrigou a retirá-los dos tribunais e repartições públicas. A ação já ganhou apoio em outros estados do país como Rio de Janeiro e São Paulo, em nome do laicismo do Estado – pero disfarçado de intolerância, no país que já teve o nome de Terra de Santa Cruz.
Sobre a retirada dos crucifixos, veja o depoimento do Padre Demetrius dos Santos Silva (clique aqui para conhecê-lo):
“Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas.
Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A Cruz deve ser retirada! Aliás, nunca gostei de ver a Cruz em Tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas.
Não quero mais ver a Cruz nas Câmaras Legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte.
Não quero ver, também, a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados.
Não quero ver, muito menos, a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento.
É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças, das misérias e sofrimentos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos.”
Sigamos. Algo que sempre me incomodou foi ver um país, com tamanha tradição cristã, ser tão tolerante com a corrupção no meio político. Fico pensando num povo-cordeiro-demais a oferecer a face tantas vezes quanto mais espancada pela indignidade dos maus políticos ou a perdoar mais de 7 vezes 70 tanto desmando, irrisão e desídia.  Fico mais tentado a crer que isso, em parte, vai por conta de uma Igreja mais ocupada com aspectos da vida mundana do que dos fundamentos do catolicismo de fato. Como aqueles dez mandamentos essenciais, que entendo como embrião e raiz de todo o Direito e da Democracia, instituídos como base do dever e da conduta dos homens para com Deus e o próximo, entre os quais destaco aqui o 7º: Não roubarás.
Mas por que me alongo tanto? O que tudo isso tem a ver com um padre que usa de seu espaço, competências e carismas para exortar multidão a aconselhamentos que os livros de auto-ajuda e os romances açucarados vendem por atacado ou o consultório sentimental de revistas como Atrevida, Todateen, Nova, Cláudia e os horóscopos de João Bidu oferecem como discurso e prova da fragmentação de uma nova ordem social, onde a fragilidade das relações interpessoais faz sucumbir, pela paixão instantânea e o sexo ocasional, o amor? Ah, o amor, o eterno e insistente amor, do qual ninguém desiste e escapa.
Esse mesmo amor que não resiste a crises financeiras que, sabemos, estão entre as maiores causas dos divórcios e dissolução das famílias, ao lado das traições e dos vícios.  Ah, vão dizer, mas o casal que se ama de verdade resiste. Sim, como muitos casais que se amam para valer não resistem, e fracassam. Digo isso porque acredito que se as estruturas políticas e sociais conferem às pessoas a dignidade necessária para exercerem o sagrado direito à felicidade, com ou sem um par, um cônjuge ou alguém que o valha, com certeza elas se ocuparão, por si mesmas, de fortalecer o elo com o próximo e com Deus.
Digo isso também porque, segundo palavras do repórter Maurício Kubrusly que entrevistou Padre Chrystian, publicadas em um jornal local, ele tem “essa coisa muito particular dele, de falar de uma maneira simples sobre as coisas mais importantes da vida”. Isso vale especialmente se o foco são as relações humanas, a família, a vida diferente e o mundo melhor que todos, inegavelmente, sonham e desejam. Vale sobretudo se o objetivo é a dignidade, a cristianíssima dignidade, independente de credo, cor, classe ou gênero.
Por isso parece-me que Padre Chrystian pode – e deve –, valendo-se do prestígio e do lugar que ocupa, fazer algo grandioso além de dar conselhos sentimentais à multidão das humanas gentes que segue tangida pela moral de rebanho sob a corrupção política no país. Que nem de longe é ao menos pagã. Que cobra pesado o que é de César, mas não dá ao povo o que é do povo.
Há muito a se fazer, Padre.
Em Divinópolis, no Brasil, em todo lugar.
Os cristãos cremos.

sábado, 24 de março de 2012

Chico, Meu Irmão

Leila Jalul
Os carros de som passavam nas ruas fazendo a campanha presidencial.
Lott e Jânio iriam disputar a eleição que, um ano (ou menos) depois, seria transformada na maior pilhéria da história do Brasil. Um louco de bigode, de olhos tortos, de pernas desmanteladas, viciado em bebida que passarinho não bebe, movido por forças ocultas, renuncia como se estivesse brincando de esconde-esconde com uma nação de mais de 70 milhões de gente.
Na Bolívia, pelo que se ouvia nas rádios, a situação era também grave. Toda semana um golpe de estado. Foi por esse tempo que assassinaram um influente de la banda. Era tão influente, tão brilhoso, que nem lembro o nome. O povo na rua gritava "Asesinos". E pou! Lá se foi mais um.
O som de taquara rachada ia e vinha pela minha rua:
“Varre, varre, vassourinha
varre, varre a bandalheira
o povo está cansado de viver dessa maneira
Jânio Quadros é a esperança
deste povo abandonado.”
Eu e meu irmão Chico, cúmplices e interligados tal qual siameses, subíamos na mangueira que meu pai plantou. A fruta era tão boa e doce quanto as das árvores de cemitério. A semente veio do Ceará (grandes merdas!). Ficávamos ali, roubando nossas mangas de nós mesmos, achando que estávamos fazendo bem em apreciá-las. Quanto engano!
No dia em que meu pai descobriu que Chico fazia parte da colheita, diretamente do jirau, lança uma banda de tijolo que acerta justinho na cabeça de meu irmão. Do galho em que me encontrava, só escutei o baque surdo e vi um corpo estendido no chão.
Às pressas, desci, e, por sorte, deu tempo ainda de ver aquele olhar pidão, lágrima descendo, como se dissesse: “Só por causa de uma manga! Tá vendo, mana?” E morreu meu irmão.
Sentindo um ódio, subi de novo na mangueira e cantei a música do Jânio e, ao fim de cada estrofe, gritava a palavra de ordem dos bolivianos: “Asesino! Asesino!”
Enquanto viveu, Chico foi o macaco prego mais sem vergonha que conheci. Aquele troço encarnado e descarnado, no meio das pernas, sempre em ponto de bala.
Levantava a saia de todas as cozinheiras da casa grande e bebia todos os restos de cachaça dos cálices que os seringueiros do meu avô deixavam no balcão.
Enxotado, saía como se risse e se abrigava no meu colo. Nossos papos eram infindáveis. Nossos olhos se entendiam. Nada de palavras.
E foi assim que perdi Chico, meu irmão.
(Leila Jalul é escritora acriana, autora dos livros Suindara, Absinto Maior e Minhas Vidas Alheias.)

terça-feira, 20 de março de 2012

Chame o milico!

Recebi e publico texto que está rolando na rede. Parece tratar-se de uma campanha contra a desmoralização das Forças Armadas, a destacar seu papel como garantidora da ordem e dos poderes constitucionais em um Estado Democrático de Direito. Ou: em qualquer ocasião ou rincão da pátria, ronda e vigia um milico, pela manutenção da segurança, da civilidade e da própria democracia. Apertou? Afrouxou? Chame o milico! Aí vai:
“A PF não quer ir pra fronteira porque a diária é pouca? Chamem os milicos.
A PM não quer subir o morro porque é perigoso? Chamem os milicos.
A PM faz greve porque o salário é baixo? Chamem os milicos.
A Anvisa não quer inspecionar gado no campo? Chamem os milicos.
O Ibama não dá conta de fiscalizar os desmatamentos? Chamem os milicos.
Os corruptos ganham milhões e não constroem as estradas? Chamem os milicos.
As chuvas destroem cidades? Chamem os milicos.
Caiu avião no mar ou na selva? Chamem os milicos.
Em caso de calamidades públicas, a Defesa Civil não resolve? Chamem os milicos.
Desabrigados? Chamem os milicos.
A dengue ataca? Chamem os milicos.
O Carnaval, o Ano Novo ou qualquer festa tem pouca segurança? Chamem os milicos.
Certeza de eleições livres? Chamem os milicos.
Presidentes, primeiros-ministros e visitantes importantes de outros países? Chamem os milicos.
Adicional noturno? Não temos!
Periculosidade? Não temos!
Escalas de 24 por 72 horas? Não temos!
Hora extra, PIS, PASEP? Não temos!
Residência fixa? Não temos!
Certeza de descanso no fim de semana? Não temos!
Salário adequado? Não temos!
Acatar todas as ordens para fazer tudo isso e muito mais, ficando longe de nossas famílias, chama-se respeito à hierarquia.
Aceitar tudo isso porque amamos o que fazemos chama-se disciplina.
Quer conhecer alguém que ama o Brasil acima de tudo? Chame um milico!”

quarta-feira, 14 de março de 2012

Brasil já é exportador de jegue

A China vai importar 300 mil jegues do Nordeste. Um acordo entre Brasil e China liberou o comércio dos animais – também conhecidos como burros e jumentos, que são largamente utilizados pelos chineses nas indústrias de alimentos e de cosméticos.
Leia mais, aqui, no JC Online.
Pois é. O Brasil importa Jac e exporta jegue. Depois dessa notícia, ninguém há de duvidar que após uma década de desgovernança lulopetralha e desindustrializacionista, como diria o velho Odorico Paraguaçu, o Brasil finalmente entrou numa era de desenvolvimento e prosperidade abestada: exporta jumento.
Dizem por aí que Lula está muito sensibilizado com este efeito imprevisto de tamanho milagre econômico, pois perde parte do eleitorado. 

quarta-feira, 7 de março de 2012

domingo, 4 de março de 2012

Os ricos-pobres

MARTHA MEDEIROS
Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava R$ 1 milhão por mês e que, em uma entrevista, vangloriava-se de nunca ter lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um exemplo de pessoa pobre.
Agora leio uma declaração do publicitário Washington Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar.
Ele diz que há no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura), os pobres-ricos (que não têm dinheiro, mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas ideias) e os ricos-pobres, que são a pior espécie: têm dinheiro, mas não gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias, shows ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.
Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura, educação e viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos. Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas são criativos, abertos e efervescentes.
A riqueza destes dois grupos está na qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência que cultivam e passam adiante. São estes dois grupos que fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da sociedade brasileira.
O que temos aqui, em maior número, é um grupo que Olivetto nem mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder aquisitivo e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem, feito zumbis.
E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam ajudar a fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas que nada: eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam sua pobreza de espírito. Exemplos? Vou começar por uma cena que testemunhei semana passada.
Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto, do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele pode comprar pois, no fundo, é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial.
Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para ir além do óbvio. Só têm dinheiro. Os ricos-pobres pedem, no restaurante, o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém; vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas; viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet; possuem TVs de LCD em todos os aposentos da casa e só assistem programas de auditório; mandam o filho para Disney e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha para eles, pelo amor de Deus!
O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os ricos-ricos (que ganham dinheiro honestamente e sabem que ele serve não só para proporcionar conforto, mas também para promover o conhecimento) e valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros indivíduos que fazem malabarismo para sobreviver mas, por outro lado, são interessados em teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes, gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros seres humanos, fazendo da sua cidade um lugar desafiante e empolgante.
É este o luxo que precisamos, porque luxo é ter recursos para melhorar o mundo que nos coube.  E recurso não é só dinheiro: é atitude e informação.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Como fechar livrarias?

O brasileiro como bom analfabeto detesta ler. Mas os Pernambucanos decidiram exagerar. Um deputado tucano criou uma maneira infalível para fechar livrarias, confiram: Lei defende autor pernambucano – Aprovada no começo da semana, a lei estadual 53/2011, de autoria do deputado Daniel Coelho (PSDB) foi bem-recebida, mas não é unânime. O texto prevê que as livrarias pernambucanas passem a contar com 5% de livros nordestinos em suas prateleiras, sendo metade desse percentual (2,5% do total) reservado a autores do Estado. Quem descumprir, pode ser advertido e até pagar uma multa entre R$ 1 mil e R$ 10 mil.

Homens (e mulheres) de preto

NELSON MOTTA (publicado no Jornal O Globo, 02/03/12)
Como um capitão Nascimento da magistratura, a ministra Eliana Calmon está combatendo os bandidos de toga, os traficantes de sentenças e os vagabundos infiltrados no Judiciário, em defesa da imensa maioria de juízes honestos e competentes que honram a instituição. Por isso é alvo do tiroteio corporativo que tenta fazer de acusações a maus juízes suspeitas sobre toda a classe.
Para merecer os privilégios de que desfrutam, maior rigor é exigido dos que julgam. Nesta nobre função não basta ser honesto, é preciso parecer honesto, ter a integridade, a independência e a competência exigidas pela magistratura, para que a Justiça seja respeitada, e temida, porque sem ela não há democracia.
"Não tenho medo dos maus juízes, mas do silêncio dos bons juízes, que se calam quando tem que julgar colegas", fuzilou a faxineira-chefe. E quem há de contestá-la? Todo mundo entende as relações de amizade que se estabelecem ao longo de muitos anos de trabalho, mas quem escolhe esta carreira – ao contrário de engenheiros, médicos, advogados ou músicos –  tem de estar preparado para julgar igualmente a todos, do batedor de carteiras ao presidente da República – e aos seus colegas.
Com razão, ela diz que os juízes de segundo grau, quando enveredam para o mal, são os mais deletérios, porque os de primeira instância, por corrupção ou incompetência, podem ter suas sentenças anuladas pelo colegiado do tribunal superior. Mas é quase impossível um desembargador ser condenado pelos seus pares.
A ministra os conhece bem: "Esses malandros são extremamente simpáticos, não querem se indispor, dizem que o coração não está bom, que estão no fim da vida". Alguém imagina os desembargadores do Tribunal de Justiça, digamos, do Maranhão, condenando à pena máxima – aposentadoria remunerada – algum colega agatunado? Quanta pressão um juiz pode suportar do político que o nomeou?
Por tudo isto a corregedora nacional apoia a emenda constitucional do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) para que os desembargadores sejam julgados com isenção, não por seus colegas de tribunal, mas pelos juízes do Conselho Nacional de Justiça.