domingo, 31 de julho de 2011

Redação

O tema de redação pedia:
Leia:
 
Redija um texto dissertativo, interpretando e relacionando a crítica contida na charge às questões ambientais de impacto global.
O aluninho escreveu:
“Os cientistas tentam provar que existe vida fora da terra mas se existe eles não entram em contato com a gente, porque, ficam pensando que o ser humano faz isso com as árvores o que é que vão fazer com eles, também que são verdes.” (sic)
O professorzinho leu.
É verdade e dou fé.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Quero vê-la mais longe

 
Eu gosto de aluno é bem longe de mim.
Eu tive uma aluna, Amanda de Andrade.
Recordo Amanda na adaptação que fiz da obra de George Orwell para o teatro da escola, em 2006.
A personagem dela, uma tartaruga retirante, abandonava discreta a granja dos bichos que tinha virado uma porqueira sob a governança dos porcos (nada diferente do Brasil de então e de agora).
Amanda estava na sétima série, aluna com os olhos cheios de interrogação, os lábios exclamativos, as mãos fingidamente serenas tateando porquês.
Professor de redação, fui reencontrá-la na 3ª série do ensino médio, destoando do, digamos assim, “high profile” reinante.
Entre redação e outra, prova e outra, uma conversa, vinha lá Amanda com um sussurro ou espasmo transmudado em prosa ou poesia – esse sítio para o qual se retirou, menina, com sua literatura a falar de árvores que crescem juntas confabulando projetos.
Um dia ela me confidenciou: Juarez, preciso te contar, escrevi uns contos e vou lançar um livro.
Agora, recebo um convite.
Dia 29 de julho, ela estreia com seu livro de contos, o seu “Buquê de Palhetas”, pela Paco Editora, na Casa da Cultura, em Divinópolis.
Ainda não li o livro mas já gosto.
Gosto, e vou lá, ver de perto, pegar meu exemplar autografado.
Vou lá, ver de perto Amanda naquele movimento de pedra atirada na água. Pedra que vai ao fundo e desce percutindo, espraiada em ondas na superfície, as superfícies, segredadas às funduras. 
Vou lá, ver de perto Amanda.
Vou dar-lhe um abraço bem apertado, grato porque Amanda segue lição do mestre explicador:  vai bem longe de mim.
Quero vê-la mais longe ainda, Amanda.

sábado, 23 de julho de 2011

A poesia vai acabar


A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não acabarem).
Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei:
"Que fez algum poeta por este senhor?"
E a pergunta afligiu-me tanto
por dentro e por fora da cabeça que
tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
– Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? –

(MANUEL ANTÓNIO PINA)

sábado, 16 de julho de 2011

A brisa do coração - Dulce Pontes

Lua que brilha branca na manhã
Sobre o mercado dos melões de Ouro
Curiosa espreita as casas cor de rosa
À procura do nosso tesouro
O segredo a descobrir está fechado em nós
O tesouro brilha aqui embala o coração mas
Está escondido nas palavras e nas mãos ardentes
Na doçura de chorar nas carícias quentes
No brilho azul do ar uma gaivota
No mar branco de espuma sonoro
Curiosa espreita as velas cor de rosa
À procura do nosso tesouro
O segredo a descobrir está fechado em nós
O tesouro brilha aqui embala o coração mas
Está escondido nas palavras e nas mãos ardentes
Na doçura de chorar nas carícias quentes

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Lua colorida

Este mosaico de cores mostra mudanças na composição da superfície da Lua, em imagem capturada pela sonda Galileu, da Nasa. 


As brilhantes áreas rosadas são terras altas, como se vê em torno da bacia oval Crisium, ao fundo da imagem. Os tons de azul para laranja indicam fluxos de lava vulcânica. À esquerda da bacia de Crisium, está o Mar Tranquillitatis, em azul escuro, mais rico em titânio do que a área verde e laranja acima. Uma fina camada rica em minerais associada a impactos relativamente recentes no solo é representada por cores claras, como o azul, e as crateras mais jovens têm proeminentes raios azuis estendendo-se a partir delas.

Daltônico

Noite alta, um senhor bem vestido, chegando de viagem, toma um taxi no aeroporto e pede ao motorista para levá-lo para casa.
No caminho, vê uma senhora, também muito bem vestida, entrando uma Boate chamada Dito e Feito.
Reconhecendo a mulher, ele pede ao taxista que retorne à porta da boate. Tira do bolso um maço de notas e diz:
– Aqui estão dois mil reais. São seus se você tirar de dentro da boate aquela mulher vestida de vermelho que acaba de entrar. Mas vá tirando e cobrindo de tapas, porque aquela desgraçada é minha esposa.
O taxista, que andava numa ‘dureza daquelas’, aceita de cara e adentra à Boate.
Cinco minutos depois ele sai, arrastando uma mulher pelos cabelos, toda desgrenhada, e gritando todos os impropérios que se possa imaginar.
O senhor no taxi vê a cena e percebe, horrorizado, que a mulher está vestida de verde e sai correndo para alertar o taxista do erro.
– Pare! Pare! O senhor errou. Como o senhor confundiu vermelho com verde? O senhor é daltônico?
Ao que o taxista retruca:
Daltônico é o cacete! Esta é a minha... Já volto lá pra pegar a sua!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por que os brasileiros não reagem?


Intrigado com a corrupção no Brasil, o jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do Jornal “El País” no Brasil, questiona a mansidão bovina dos brasileiros frente a tantos desmandos e malfeitos. Segue o texto de Arias e, ao final, ensaio minha resposta. Aí vai:
O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha afastado dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci – uma espécie de primeiro-ministro – e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que “todos são ladrões” e que “ninguém vai para a prisão”, não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.
Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados saqueadores dos cofres públicos? É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos. Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.
Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo “descontrole” atual em áreas do seu governo e tirou literalmente – diz-se que a purga ainda não acabou – dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.
A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou – e o preço que terá que pagar será elevado – a se desfazer de uma certa “herança maldita” de hábitos de corrupção que vêm do passado.
E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?
O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.
As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.
Será que os jovens não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros)?
O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.
Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos.
E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.
Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.
Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado – onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada – os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que –  também é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.

Minha resposta:
O brasileiro não reage porque, para uma sociedade indignar-se, é preciso haver dignidade. De estar imbuída de dignidade até a medula. A “esquerda” petista – a quadrilha que assomou o poder – é aquela que se autoriza a fazer tudo aquilo que condena e interdita à "direita," como se fosse o erro privilégio e o Direito a exceção. Para isso serve hoje a República. 

O governo Lula da Silva, o camelô de conveniências com seu fácil, eterno discurso de vítima, institucionalizou a corrupção como nunca se viu antes na história deste país, a sustentar a mentira piedosa da democracia de representação popular. Hoje, quando se aponta a corrupção do passado, não é para condená-la, mas justificá-la no presente como um padrão manjado de governismo. Hoje, sindicatos, MST, UNE, blogueiros  ditos progressistas, a imprensa financiada pelo PIG (Partido da Imprensa Governista),  enfim, entidades que provocam as manifestações de indignação (porque estas não surgem nem funcionam por brotação na natureza) e que levam o dito “povo” às ruas, foram cooptadas pelo lulo-petismo, com dinheiro público, contra a sociedade. Some-se a isso uma oposição mais preocupada em engolir o próprio rabo e um Judiciário leniente e tem-se a resposta. 

Indignar-se virou “coisa de elite”, enquanto o dinheiro público serve para animar os militontos e consolidar o malfeito como status quo dominante sob a pecha de que “a corrupção está no DNA do brasileiro” essa mentira descarada de que “somos assim”, como se assim tivéssemos de nos aceitar e compreender com a vitualha dos vícios. 

É a velha história do rei nu, agora na versão petralha reeditada pelo pendoR $ervil. Quanto à Dilma Rousseff, deve ser defeito de ótica ou efeito de alguma tequila. DR parece irritada com a corrupção que Lula, o capi de tutti, subvencionou e com a qual se elegeu? Só pode ser piada. De mau gosto.

domingo, 3 de julho de 2011

A nacionalidade de Adão e Eva

Um alemão, um francês, um inglês e um brasileiro apreciam um quadro de ‘Adão e Eva no Paraíso’.
O alemão comenta: 
– Olhem que perfeição de corpos: ela, esbelta e espigada; ele, com este corpo atlético, os músculos perfilados... Devem ser alemães.
Imediatamente, o francês contesta:
– Não acredito. É evidente o erotismo que se desprende de ambas as figuras...  Ela, tão feminina... Ele, tão masculino... Sabem que em breve chegará a tentação... Devem ser franceses.
Movendo negativamente a cabeça, o inglês comenta: 
– Que nada! Notem a serenidade dos seus rostos, a delicadeza da pose, a sobriedade do gesto. Só podem ser ingleses.
Depois de alguns segundos mais, de contemplação silenciosa, o brasileiro declara:
– Não concordo. Olhem bem: não têm roupa, não têm sapatos, não têm casa, estão na merda... Só têm uma única maçã para comer, mas não protestam, ainda estão pensando em sacanagem e pior, acreditam que estão no Paraíso. Só podem ser brasileiros.