quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A nova pois era do pré-sal

Ela e a turma da jornalice financiada com dinheiro do público bocó bem que tentaram dar à coisa o nome de “partilha”. Mas dê-se o apelido que quiser, com tintas encarnadas o fato é que Dilma Rousseff do PT privatizou o petróleo do pré-sal e ponto.
Na privatização do campo de Libra, o arremate do leilão a entrega a um consórcio único foi literalmente um negócio da China para a empresa estatal Chinese General Nuclear Power Group, associada com a francesa Total e a anglo-holandesa Shell, com participação da Petrobras. A China, já fortemente atuante no mercado de energia – de todo tipo e não só do petróleo –, sai ainda mais fortalecida no imperalismo do setor.
Enquanto o resto do mundo desenvolvido se move na busca por outras fontes de energia, no Brasil se anuncia o prodígio dos falsos milagres. Arrota-se por aí que o dinheiro será aplicado em educação e saúde como se, de repente, fosse chover dinheiro nessas hortas. Mais fácil é chover dinheiro nas hordas. A grana do petróleo gotejará ao longo dos anos, não virá em barris extraídos na hora.
Descontadas as maminhas e mamatas que vão pelo fundo do poço, se o futuro é incerto com as dificuldades do presente com inflação e tudo, [quase] mais incertas são as projeções. A mais óbvia é que nada se resolverá com propagandas (caras e inúteis, como aquela financiada pela Petrobras para fazer cápsulas do tempo com mensagens dos brasileiros, levá-las à região do pré-sal e desenterrar daqui a dez anos). Muito menos com o cinismo do marketing político-eleitoreiro já prospectado para 2014. Fica aí a mensagem, não precisa enterrar.
O Brasil já gasta muito – e mal – com educação e o resultado é a distribuição de diploma a um contigente absurdo de analfabetos funcionais. Que, não bastasse, são também analfabetos políticos que votam como apostadores de um bolão do final de uma telenovela. Na saúde, melhor pegar com Deus para o alívio dos enfermos e o livramento das almas.  
Mas tudo indica que vem aí uma nova era. Quando passar o carnaval, rasgada a fantasia petista da república sindicalizada, fatalmente virá a razão cobrar a fatura. É!... Pois era.

Uma de duas: gambás

Uma:
Quase metade dos deputados federais que integram os dois novos partidos criados neste ano são alvo de investigações criminais no STF (Supremo Tribunal Federal).
Dos 44 nomes do Pros e do Solidariedade (SDD), 20 respondem a inquéritos ou ações penais no STF – única corte a julgar crimes de deputados.
O SDD tem mais suspeitos: 13, contra 7 do Pros.
A proporção de deputados das novas siglas com pendências na Justiça (45%) supera a média da Câmara (37%) apurada pelo site Congresso em Foco (leia mais).
Duas:
O presidente do PT, Rui Falcão, reuniu-se na tarde desta quarta-feira com o comando do recém-criado PROS e ouviu que a tendência da nova sigla é apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
O PROS atraiu 17 deputados federais e negocia a formação de um bloco com o PP, o que o transformaria na terceira maior bancada da Câmara.
“A ideia do governo é fazer uma reforma ministerial em dezembro. Se o PROS for chamado a contribuir com a administração, tem quadros a oferecer”, afirmou o líder do partido na Câmara, deputado Givaldo Carimbão, que participou da reunião com o presidente do PT. (Leia mais).
Comento: Como há várias modalidades de mensalão e no Brasil o prontuário criminal é apenas o pré-requisito para ingresso na carreira política...

Novilíngua

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Kamã

Meu cachorro adora música.
Janis Joplin, Bob Dylan, Padre Zezinho.
Tem também uns sambinhas de Vinicius de Moraes e Bebel Gilberto que ele curte pra caramba.
Adora Kozmic Blues, da Janis. E mais: Adeus Maria Fulô, com Marina de La Riva e Águas de Março, com Zé Ramalho e Tetê Espíndola. Reality Check, de Stigmato; Young Folks, de Peter Bjorn and John.
Mas Things Have Changed e Hurricane, do Dylan, são as músicas prediletas dele. E, claro, curte Aretha Franklin. Tem apuro musical, seletivo, e nisso posso dizer que é mais gente que muito bípede falante com polegar opositor que anda macaqueando por aí.
Basta pôr o CD pra tocar que ele fica sentado lá no sofá ou perto do som, uivando. Às vezes chega a cabeça perto da caixa de som, como se assim quisesse ouvir melhor, farejando de onde vem a música.
Nessas horas, acho, não fica uivando, mas cantando – eu imagino.
Parece um tenor canino.
O nome dele é Kamã.
Kamã, em língua indígena kaxinauá, significa cachorro.
Meu cachorro se chama cachorro. E, guardadas nossas diferenças – e semelhanças –  tenho certeza de que muito mais ele me humaniza com sua cachorrice do que eu o cuido com minhas hu-manias. 
Quando estou trabalhando muito, geralmente corrigindo carradas de redações (e algumas parecem escritas em língua menos inteligível que au-au-auês), ele vem até mim, coloca as patas e a cabeça no meu colo, esfrega o focinho, ou senta-se me encarando, como a dizer: e aí, cara, não acha que já está nisso tempo demais?
Às vezes esse gesto é só um tipo de manha mesmo que ele desenvolveu quando ele entende que precisa me levar para fazer uma caminhada. Ou apenas trocar um pouquinho de camaradagem, que isso muito bicho sabe fazer melhor que ninguém.
Às vezes fica deitado, quieto e discreto, como agora, na porta do quarto, próximo à mesa do computador no qual escrevo. Dali, tem uma visão estratégica do corredor que dá acesso aos demais cômodos da casa e fica escarrapachado, como um lorde, na sua tranquilidade canina.
O nome dele eu tomei emprestado do cachorro de um amigo, também Kamã.
Kamã o cachorro, não o amigo.
Gostei e ficou.
Não sei se Kamã gosta. De vez em quando, quando o chamo pelo nome, parece ignorar. Me olha assim meio de esguelha ou olhando em volta, mas com uma cara que é inegável sorriso. 
Acho que prefere “Amigo” ou “Miguinho”, como costumo chamá-lo também.
Kamã é um fox paulistinha.
Manto negro, patinhas brancas como estivesse calçado de meia, máscara marrom, uma pinta branca no pescoço que o torna único. 
Olho vivo, brilhante.
É valente, dócil, companheiro, sempre vigilante.
Sonhei com ele, igualzinho é, num mesmo sonho em que me vi em uma igreja de Nossa Senhora das Graças, em 2008, um ano antes de adquiri-lo. Nem jamais tencionava possuir um animal de estimação porque, de fato, quem acaba ficando preso é a gente, de alguma forma.
Só resolvi comprar um cachorro porque entrou ladrão aqui em casa, em janeiro de 2009. Além dos artefatos auschwitzanos de segurança instalados, cerca elétrica e quetais, pensei que ele também serviria de alarme.
Quanto eu saí para comprá-lo, rodei pelos petshops da cidade.
Eu queria um cão de pequeno porte, pelo liso. 
Cães pinscher, poodle e outros havia muitos.
Olhei e olhei. Esse não... hum, não... esse também não.
Já estava quase desistindo e só faltava uma loja para procurar, quando eu disse ao meu sobrinho Pedro, que me acompanhava: vamos lá ver, mas só compro se for um paulistinha.
A ideia me veio assim, de repente.
Quando chegamos à loja, lá estava.
Ele olhou para mim, eu olhei para ele.
Pronto.
Amor de cachorro, que nem pode acontecer também com gente, é à primeira vista. Com a vantagem do faro que o bicho tem.
A carinha tímida, o olhinho pedindo carinho e colo, quem resiste?
– É ele!, eu disse.
Ele estava deitado no fundo da gaiola, tristinho, amuado.
Quando me viu, logo ergueu os olhinhos, olhou de lado mas ficou na dele.
Abanou, tímido, o rabinho cotó.
Deve ter pensado: é mais um que vem me olhar e vai me deixar aqui nessa gaiola.
Cachorro e passarinho na gaiola são tudo uma tristeza só.
O Kamã continuou quieto quando o vendedor o tirou de lá.
No carro, eu e Pedro seguimos pensando nos nomes.
Pensei em Naruto, por causa do desenho animado de que a minha sobrinha Ana Paula, então com dois aninhos, gostava. Ela ficava imitando as lutas do desenho.
– Tio, vamo bincá de lutinha?...
Aqui em casa, Kamã, com três meses, ficava mais quieto numa área que destinei para ele. Bem cuidado com vacinas e alimento, mas sem mimos, sem muitas brincadeiras senão uma bolinha de borracha que deixei para ele morder. Era apenas um cachorro e seu dono.
Eu não imaginei que, com tantos cães que tive na minha infância, ainda teria que aprender a conviver com um.
Primeiro, a luta para ensinar o bichinho a fazer xixi e cocô no lugar certo. Depois, acomodá-lo num espaço em que fosse fácil cuidar, porque moro em apartamento. E mais depois o choro dele de noite, que demorei a entender.
À noite eu deixava o Kamã isolado numa área coberta do lado de fora da casa, aninhado sobre uma tábua debaixo do tanque.
Ele passava as noites ali, mas, já mais grandinho, não aceitou e relutou muito até que eu entendesse.
Então deixei-o dormir numa outra área junto à cozinha. Até que se acomodou ali, mas daí a alguns dias, já estava dormindo perto do sofá da sala, que elegeu como seu lugar predileto. Dali, eu noto, ele controla quem entra e quem sai de casa, de orelha em pé, vigia tudo o que se passa na rua. E do sofá também empina o corpo para olhar a rua pelas janelas.
Comecei a adestrá-lo, isto é, pelo menos tentei. 
Sentar, deitar, parar e olhar de um lado e outro antes de atravessar a rua, andar junto (nisso falhei, pois ele sempre dispara na frente e na dianteira fica, olhando para trás, conferindo se eu estou acompanhando-o e, se vê que parei, volta correndo para me buscar).
Com pouco tempo e pouca paciência para investir eu mesmo no treinamento, contratei um adestrador.
Ele e Kamã se deram muito bem.
Mas nos dias em que eu saía para passear com Kamã e testar suas habilidades caninas ele trocava os comandos.
Senta, Kamã. Ele deitava.
Em pé, Kamã, ele sentava.
Bom dia, Kamã, e ele lá, quietinho.
Ou então nem dava a mínima para o que eu ordenava e ficava só querendo passear, dando pulinhos e farejando tudo em volta. 
Pensei que com o adestrador ele já tinha desaprendido tudo o que eu demorara tanto sem nenhuma técnica para ensinar.
Até que fui observar os dois juntos e descobri: Kamã estava sendo adestrado em francês.
Chique demais, pensei. Agora só falta ensiná-lo a miar, e meu cachorro vai ficar poliglota.
Com o adestrador, ele era que nem filho quando vai passear longe do pai – ficava todo obediente, fazia tudo direitinho.
Bastava o adestrador dizer: assis, Kamã.
E o Kamã ali ó, sentadinho.
Adosser!
E ele sentadinho com as patinhas unidas.
Nessa hora, fica parecendo que ele está de smoking, um gentleman de quatro patas, todo espigadinho.
Coucher!
E o Kamã deitadinho.
Mort!
E ele lá, fingindo-se morto.
Bonjour! E ele esticou a patinha.
Kamã aprendeu muito mais.
Ensinei-o a dizer hum, hum-hum, quando o seguro junto ao corpo e toco seu peito, fazendo uma leve pressão com os dedos. 
Tem a mania de percorrer bem cedo a casa, antes de o sol raiar, para ver se todos estão dormindo.
Fica em pé, na cabeceira da cama e, de mansinho, estende a patinha perto do rosto da gente e cheira, para conferir. Faz isso todo dia. Geralmente por volta de 5 horas da matina ele cumpre esse ritual.
Levanta cedo e chama para a cozinha, pois sabe que vai ganhar biscoitos.
Não é do tipo que lambe a cara, a boca da gente, o danado tem lá seus critérios. Mas gosta de dar lambidas atrás da orelha.
Quando fica bravo ou agitado, não gosta que o segure.
Não gosta de ver gente chorando, fica inquieto e late aflito, como se quisesse fazer algo.
Gosta de medir força com a gente com a bolinha caroquenta com a qual brinca desde filhote. Ele gosta de prendê-la entre os dentes e fica como se estivesse provocando: vem, vem pegar.
Quando prendo a bolinha, ele faz força, fica agitado, arqueia o corpo defendendo-se, faz de tudo para não deixar tomá-la. Deixo que ele ganhe a disputa muitas vezes. Outras vezes finjo desinteresse, aí é a vez dele insistir e me deixa pegar a bolinha.
Kamã é um companheiro e tanto. Imaginar a casa, a nossa vida sem ele, é como adentrar um lapso de memória, tatear um apagamento de coisas e sentimentos desses que só as pessoas muito, muito queridas, deixam marcados em nós.
Esse cãozinho que vive ao meu redor foi me ensinando, do jeito dele, com mais pertinácia, paciência e zelo do que eu, que amar não é só estar junto de quem a gente gosta, é preocupar-se e ocupar-se de uma esperança mansa, muitas vezes silenciosa, da qual não se diz mas que, junto de alguém, qualquer um compreende. 
Pode até ser uma armadilha biológica para sobrevivência da espécie, mas vá, entender a mente obstinada ou os motivos de um cão... Quando me pego imaginando a vida sem esse companheiro de agora, sempre me recorre a efemeridade de tudo, como se cada latido seu fosse um alerta diário, espontâneo daquele sentimento – tantas vezes escapável, adiado no cotidiano – de amar, simples, recíproco, sem pedir nada em troca, como se não houvesse amanhã.
E olha, até nisso rima o nome do Kamã. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Corrente do bem

“O PCC, facção do crime organizado de São Paulo, sequestrou ontem, em Brasília, 28 deputados da Câmara Federal e alguns senadores. Os sequestradores estão solicitando US$ 1.000.000,00 para a libertação dos reféns. Se o valor de resgate não for cumprido em 24 horas, vão banhá-los com combustível e os queimarão vivos.
Estamos organizando uma coleta e necessitamos da sua ajuda!
Veja o que conseguimos até agora:
- 580 litros de Gasolina Aditivada
- 320 litros de gasolina Premium
- 175 litros de gasolina convencional
- 125 litros de diesel
- 98 litros de Biodisel
- 380 maços de caixas de fósforos
- 214 isqueiros
- 7 lança-chamas
- 108 sacos de carvão
- 1 retroescavadeira
Pedimos que não mandem álcool, pois há o risco de ser consumido pelos deputados.
Se você não reenviar essa mensagem é porque não tem coração...”
É piada, mas... recebi por e-mail e repasso, em solidariedade à causa.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Cabeceira

Leio e recomendo:

Justiça com P

A farsa do julgamento do mensalão deixou algo positivo (isto é, concreto, real): serviu para escancarar de vez o fato de que a Justitia à brasileira só consegue alcançar preto, pobre, puta e pacóvio. De um só voto golpe, liquidou com aquele discursinho de “igualdade perante a lei” e decretou que só existem dois tipos de criminosos no Brasil: os que pegam e os que não pegam cadeia. 
Agora, pelo menos, há um paradigma jurídico no qual até o mais absoluto dos analfabetos políticos poderá se espelhar quando se trata da matéria para tirar o seu da reta.
Ou alguém aí apostava que a quinta categoria dos pês, a dos políticos salafrários, já não estava mais do que garantida pela máxima do “tudo pode ser pago e deve ser pago”, tão proclamada pela Justitia convenientemente ceguinha, apesar do esforço – isolado – de uns juízes?
Como corrupto não passa nota promissória (daí a descarada alegação de “falta de provas”) nem é possível pôr na cadeia os cúmplices-eleitores da corja toda, não adianta apelar para uma outra categoria, a de pê da vida. Essa aí, ó, segue empastelada desde a marola das mini-festações que, se muito, serviram para levar às ruas um bando de anarcodrúpedes.
Sim. Tudo pode e deve ser pago. Mas isso nada tem a ver com o cumprimento das penas por conta dos delitos praticados, e sim com o sentido mais estrito da expressão. Os devedores da Justitia não pagam por suas dívidas. Nem ela se recobra do prejuízo que dá a si mesma (e ao país – quem se importa?) ao imolar a autonomia da instituição na bandeja do crime organizado, tudo em nome da “tecnicalidade” do julgamento. Tá!
Mas não, não há motivos para descrença. Nunca se viu, com clareza tão irrefutável, juízes cumprindo o dever de fazer a justitia à moda. Basta ter visto ministros como Zavascki e o novato Barroso, que não participaram de todas as etapas da novela do julgamento arrastado pelos corredores da Suprema Corte por mais de sete anos. Eles poderiam, assim como Toffóli também, o causídico do PT e assessor de José Dirceu, declararem-se impedidos de julgar. Poderiam? Com certeza, por questões de mais íntimo foro, lá estavam, empenhados em seu propósito, cumpridores da parte que lhes cabe nesta barafunda.
No mais, o discurso do vitimismo já estava/está no gatilho das mídias comensaleiras para vender a imagem desses heróis da causa, desses patriotas “injustiçados” de todo o casuístico jus operandi. Tem até filme encomendado e tudo, a ser financiado com verbas públicas para recontar uma história a qual até a carochinha considera uma ofensa ao seu QI.  Então, que a ampla defesa recaísse mesmo na zebra postergatória do resultado que aí está: malandro é malando, mané é mané. A cada um, portanto, conforme o que deve e possa pagar por seus respectivo$ advogado$ e pelas garantia$ democrática$.
A ampla defesa, no caso, recaiu no garantismo, confirmado pelo STF ao aceitar os ditos embargos infringentes. Esse garantismo pode ser traduzido pela ideia de que “a lei garante o direito do indivíduo”. Mas até garantismo tem limite, né? Aqueloutros quatro pês que o digam! Ao fim, a manobra toda não permite mais que uma inferência: garantia, de fato, é a impunidade para a abadia dos mensaleiros.
Já estava tudo garantido. Ou dominado?, pior dizendo!

domingo, 18 de agosto de 2013

Acordou?

Alguém aí tem notícia de alguma mini-festação diante do STF, o Supremo Tribunal Federal, a Suprema Corte de Justiça do país, exigindo cadeia para os corruptos mensaleiros?
Jogaram chuchu ou casca de arroz nas vidraças, quebraram um ovo que seja?
E  o STF?  Vai encampar e encenar a farsa de julgar o que já foi julgado? Corrupto na cadeia não é “agenda”, “pauta” ou “objetivo” concreto e suficiente para um “movimento”, um “protesto”, uma “indignação”?
Não é reivindicação a conferir se a Justitia funciona, se é igual para todos ou se estamos todos autorizados ao banditismo nessa democracinha dos pés de lodo?
Então, o gigante acordou? É mesmo? Ooohhh...
Populismo, fisiologismo, demagogia, oportunismo & Cia. vão continuar prosperando com a obrigatoriedade do voto que autoriza – digamos assim – as “escolhas erradas” feitas nas urnas pelos analfabetos políticos?
E aquela lei-cosquinha que “transforma a corrupção em crime hediondo”, aprovada  de través só para “dar uma resposta às ruas”? Que resposta? Que ruas?
Em tempo: mensalão, trensalão, seja lá o apelido ou a forma que se dê ao “esquema” (aqueloutro bebum chamava de “maracutaia”, alguém aí se lembra?...), que se faça o baculejo e se recolha à cela a abadia toda.
Ou só serve mesmo pra gastar o latim, “Justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi”? A justiça é a virtude ou a vontade firme e perpétua de dar a cada um o que é seu?
Não é?

Explicadinho

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O Enem e as redações educadamente insolentes

Semana sim, semana também, corrijo e avalio carradas de redações de aluninhos e aluninhas que se preparam para o vestibular-oficial do país, o VESTIBUNEM, ou Enem, caso queiram.
Invariavelmente, no rodapé do texto, vem a perguntinha: “professor, no Enem devo ficar em cima do muro?” ou “o(a) professor(a) não sei quem lá não sei onde falou que eu não posso falar mal do governo, é verdade?”. Na filosofia do axé, melhor é tirar o pé do chão. Quem fica em cima do muro é político que, pego com as patinhas na botija, fica repetindo o mantra: eu não sabia, eu não sabia.
Outro texto traz o comentário sutil: “procurei agradar gregos e troianos, isso conta no Enem?” A esse respondo que procure agradar primeiro a si mesmo. Já os gregos, troianos, trobriandeses, cocanhenses e brasileiros que tratem de ler – e escrever – inteligentemente.
Quanto a falar mal de governos? E nem é preciso. Eles já falam por si. Aliás, sugiro até que se introduza o tema (em geral, como fazer a introdução?, é também dúvida frequente) da seguinte forma: “No País das Maravilhas, tudo é divino-maravilhoso e todos os sapos e sapas se metamorfoseiam em altezas...”
O “não falar mal de governo” remete a uma leitura rasteira, confunde-se com uma das ditas competências avaliadas no Vestibunem, que tem a ver com uma armadilha do discurso “politicamente correto”: a redação deve apresentar uma solução para o problema abordado com respeito aos direitos humanos e à diversidade sócio-cutural. O politicamente correto é aquela maquiagenzinha feita na linguagem para torná-la pretensamente neutra, sem termos ofensivos.
Acontece que governantes e governantas não leem nem corrigem redações do Vestibunem. Por vezes e por óbvio, nem corretores que engolem receita de miojo, hino de time e outros engasga-lobos que não vêm ao conhecimento público. A maioria dos governantes – com as exceções de outorga – são analfabetos funcionais ou absolutos, de marré-de-si, como tantos e tontos de seus eleitores e eleitoras. Para muitos deles, Educação é aquele negócio que só é bom no currículo dos outros.
Assim dito, não consta que em nome do “politicamente correto” – aquele discurso do tipo “tapinha nas costas” – a redação sofra patrulhamento ideológico para “agradar beltranos e tranas”. Nem pode. Vá ler-se, clarinho lá no artigo 5º, inciso IX da Constituição Federal do Brasil de 1988, a lei máxima do país:
“– é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Quer dizer: ainda é. Ou não?
É pressuposto dos jovens ousar, questionar, protestar. Não é o que se vê nas mini-festações ocorridas no país? Ou eles vão tomar bomba por isso?
Então: que a redação seja instrumento de exercício e manifestação da razão crítica. Aristóteles (360 a.C.), lá na Grécia embrionária da democracia, já havia tocado a trombeta: “A inteligência é a insolência educada.”
Pois que venham os textos educadamente insolentes. Com todas as letras.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A mágica do produto sem processo

Guilherme Menezes*
Tá na hora do povo começar a valorizar matemática.
Quando escolhi fazer Ciência da Computação, fui obrigado a ouvir de alguém o absurdo de que eu passaria o resto da minha vida instalando Windows.
Aqui, ouço os chineses dizerem que eles querem que os filhos e filhas sejam engenheiros, antes de qualquer outra profissão.
Parece que vivemos em um mundo em que as coisas são construídas por mágica. No supermercado, os produtos aparecem magicamente na prateleira. Você abre a torneira e sai água. Existe um esforço deliberado para separar o processo do produto.
Vivemos no mundo em que você pode conseguir qualquer coisa comprando um livro e seguindo 7 simples passos. Sem esforço. Você abre a torneira e aprende a consertar seu relacionamento.
No Brasil, especificamente, vivemos no mundo em que você quer fazer uma empresa sem pagar nem valorizar direito seus engenheiros, usando mão de obra de estagiários. Não sei porque os juros são altos, o Brasil é o país do retorno rápido e do processo terminado pela metade. É a mágica do produto sem processo.
Nossas crianças recebem uma educação meia-boca, focada em ideologias, como se focar o aprendizado em matemática fosse uma conspiração capitalista de direita com o objetivo de criar uma força de trabalho desvalorizada para a exploração da burguesia.
Só que não é. Ensinar matemática é dar as ferramentas para uma criança entender e modificar o mundo, criar, produzir o que ela acha que é significativo. É dar poder e liberdade para a criança.
Poucas coisas dão mais poder a uma pessoa do que a capacidade de entender a estatística. É essencial a criança sair da escola sabendo que uma média vale mais que um exemplo, e que em determinadas situações nem a média nem nenhuma ferramenta estatística é capaz de simplificar a realidade. Quantas situações de violência, racismo, machismo são frutos da simples incapacidade de perceber essas diferenciações?
Vivemos um delírio (e acho que não só no Brasil) de que você pode ficar rico, virar chefe, diretor, ser ouvido, criar seus filhos, tudo sem trabalhar. Para aprender matemática, o menino tem que sentar a bunda na cadeira e gastar umas horas entendendo o que está acontecendo. No nosso mundo do produto, ninugém quer saber do processo, e perde-se a oportunidade de ensinar às crianças a lição mais importante que a matemática ensina: não é possível fazer as coisas pela metade. Você tem que sentar e aprender tudo sobre funções, porque senão você vai se estrepar quando tentar aprender trigonometria. É simples. Quanto mais tempo você gasta com o problema, melhor vai ser a solução.
E em uma realidde em que o que importa é o consumo do produto, e não o processo do protudo, você encontra aberrações lógicas como pessoas querendo ser chefes sem trabalho. Ou um país em que as coisas são consistentemente feitas pela metade.
(*O texto é produto de Guilherme Menezes, ex-aluno, hoje engenheiro de computação, uma daquelas exceções que justifica e honra o processo de ensinar a pensar o pensado.)

domingo, 23 de junho de 2013