quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Chuvas, tragédias e vuvuzela


Entra ano, sai ano, vem a força destruidora das chuvas desaguar em tragédias humanas estampadas nas manchetes dos jornais e no desespero de moradores das áreas atingidas.
Noticiários recentes faziam até desconfiar que a chuva é uma armação política para jogar os alagamentos e o caos da cidade de São Paulo à irresponsabilidade de seus governantes. O governo do estado está sob comando de Geraldo Alckmin (PSDB) e a prefeitura administrada por Gilberto Kassab (DEM).
Em Minas Gerais, a Defesa Civil já decretou emergência em 65 municípios. Região Metropolitana de Belo Horizonte, Sul, Zona da Mata são as mais afetadas.
Apesar da chuva intensa e generalizada, não faltaram parangonas internéticas a sugerir que os estragos nas cidades governadas por partidos de oposição ao PT eram um castigo do céu por causa de “voto errado” e não um fenômeno da natureza. E da irresponsabilidade, claro, de governantes. Porque em grande parte é.
Mas foi o prefeito de Teresópolis, RJ, Jorge Mário (PT) quem nesta quarta-feira decretou calamidade pública na cidade arrasada com deslizamentos e mortes por causa das chuvas. Mais de cem mortos até agora e cerca de 1.300 desabrigados na região serrana. É o acidente mais grave ocorrido no estado desde a tragédia de Angra, um ano atrás, e o deslizamento do morro do Bumba, em Niterói, quando morreram dezenas de pessoas soterradas em abril do ano passado.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), é aquele que anda ocupado em defender a legalização das drogas e a descriminação do aborto. Cabral apoia Lula que apoia Dilma Rousseff, a presidente ex-ministra do programa “Minha Casa, Minha Vida”, que entregou apenas 10% das casas prometidas, pouco mais de 3 mil residências, a essa gente desabrigada. Em tempo: no Vale do Itajaí, Santa Catarina, arrasado pelas chuvas de 2008, ainda hoje há cerca de 300 famílias vítimas daquelas chuvas vivendo em abrigos provisórios.
Sérgio Cabral está de férias em Paris e só chegará ao Rio na quinta-feira, 13. Procurado pela imprensa, disse que já conversou com a presidente DR para tratar das medidas emergenciais sobre os desastres causados pela chuva.
Detalhe: o PAC 2 de Dilma prevê investimentos de R$120 milhões para Teresópolis, onde vivem 150 mil habitantes, contra R$69 milhões destinados a São Paulo – o que beneficiaria 12 milhões de pessoas, para aplicar em áreas de risco e deslizamentos. O investimento per capita do PAC 2 na petista Teresópolis, para áreas de risco, será de R$800. Em São Paulo, será de menos de R$6.
O vice-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, declarou que “O quadro é triste e desesperador.” Óbvio, Pezão, e aí? Ainda mais num estado onde Olimpíadas e Copa do Mundo, projetos de política circense, estão no pódio das prioridades. Onde se gastou dinheiro para instalar teleféricos no morro e não para conter as encostas. É mais que triste e desesperador. A ser assim, não será nem de longe a última das catástrofes.
Sérgio Cabral, vale lembrar, é o mesmo governador do Rio de Janeiro que, na tragédia de Angra dos Reis, culpou as autoridades e a elite de omissão pelas ocupações irregulares nas encostas e a construção de moradias em áreas de risco. Culpou principalmente a cumplicidade dos políticos.
Culpou com conhecimento de causa. A tragédia de Angra foi anunciada. Um laudo técnico já acusava o risco na região sem que o governador nada fizesse para impedir. Quer dizer, algo ele até fez. Assinou um decreto permitindo a construção de mansões de ricos e famosos na área de preservação ambiental que engloba os pontos mais calamitosos da catástrofe de Angra. O decreto de Cabral, por beneficiar as celebridades, ficou conhecido como “decreto Luciano Huck”, em alusão à mansão que o apresentador, cliente da mulher do governador, possui na região (veja aqui).
Além da negligência de autoridades e elite (segundo Cabral), há os “movimentos sociais” pró-invasão, estimulados por ideologias populistas e esquerdismos irresponsáveis, perniciosos. Sinal da carência de políticas públicas de assentamento, moradia e urbanização. 
Por ocasião da tragédia de Angra, Sérgio Cabral disse que a situação leva tempo para resolver. É verdade. Até hoje Angra busca a liberação de verbas para a conclusão de obras nas encostas do município, devastado pelas chuvas de janeiro de 2010. A verba é parte do total de R$80 milhões prometidos pelo governo Lula, à época, dos quais apenas R$30 milhões foram repassados pelo estado do Rio à cidade (confira).
Não se está aqui trombeteando o desastre, porque tudo isso é lamentável. Há vidas em perigo. Há perdas e danos irreparáveis. É dever do poder público agir e prevenir, rápido. No enxurrio das omissões, irresponsabilidades e negligências, tudo junto e misturado, é previsível o dilúvio universal. E tome vuvuzela!

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