quarta-feira, 30 de maio de 2012

Você é rico e não sabia

“As pessoas com renda familiar per capita entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019 são as que formam a classe média brasileira, segundo uma nova definição aprovada ontem por uma comissão da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).
De acordo com a secretaria, essa classe representa 54% da população brasileira e é a maior do país.
Dentro da classe média, foram definidos três grupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441, a média, com renda familiar per capita de R$ R$ 441 a R$ 641 e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 641 e R$ 1.019.
A classe alta estaria acima de R$ 1.019 e também foi dividida em dos grupos. A baixa classe alta ficaria entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a alta, que fica acima deste valor.”
Leia mais aqui, na reportagem de Maria Paula Autran.
Comento: Parece mágica, mas é só mais um embuste de governo popululista. Faz lembrar aquele programelho em que o sujeito trocava sem saber uma geladeira por uma dentadura para estampar sorriso amarelo de quem ganha sem levar. Não há nada mais falsamente reconfortante do que o autoengano. Se a vida está ruim, por que melhorá-la se é possível adotar novos padrões, conceitos, indicadores, seja lá o apelido que se dê para demonstrar que, na verdade, o péssimo é bom?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Eu não acredito...

Eu não acredito que o ex-presidente Lula Luiz Inácio da Silva pressionou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para adiar o julgamento do mensalão – aquela sofisticada organização criminosa do PT, segundo a Procuradoria Geral da República, chefiada pelo José Dirceu.
Não acredito na reportagem da revista Veja – segundo a qual a conversa teria ocorrido em um encontro casual no escritório de advocacia do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim.
Não acredito que Lula disse que o julgamento do mensalão agora seria “inconveniente”, porque a decisão poderá influenciar o resultado das eleições deste ano. Não, não acredito que tenha feito ameaça velada ao ministro Gilmar, em troca de suposto apoio na Comissão Parlamentar de Inquérito do bicheiro Carlinhos Cachoeira, por causa de um encontro em Berlim, entre Mendes e o senador Demóstenes Torres, investigado na CPI.
Eu não acredito que Lula comanda o engonço dessa CPI do Cachoeira, chefiada por seu agora amiguinho de infância, Fernando Collor, aquele que por pouco escapou de um impeachment só deus e o brasileiro memorioso sabe por quê.
Tudo bem que eu acredito que o ministro Gilmar Mendes, constrangido por Lula, tenha lhe dito para ir fundo na CPI, mas não acredito não seja esta a vontade de Lula.
Aliás, eu não acredito que essa CPI do Cachoeira é só mais um engodo para desviar o foco do mensalão como não acredito que o tal Cachoeira é amigo de tutti quanti e seja boi de piranha dessa pataquada para tentar impedir que o bando de mensaleiros pague por seus crimes na Justiça.
Falar em Justiça, também não acredito que só porque a maioria dos ministros do STF é indicada pelo camarada Lula o julgamento do mensalão vai sendo arrastado em passo de lesma lerda, para não ser decidido em ano eleitoral e dar na prescrição-prêmio dos réus.
Não. Eu não acredito que essa chicana toda possa ser respaldada pela Suprema Corte de Justiça. Nem acredito que o Lula falou, durante o encontro com Gilmar Mendes, que “O Zé Dirceu está desesperado.” – até porque o Zé, eu, você, eles, nós sabemos que a Justiça nesse país não é do tipo “apertou, afrouxe, oi, eu acho que é tudo deboche, aqui tudo se leva no bico”.
Eu não acredito que essa turma esteja convencida de que todos os brasileiros – com exceção daqueles que levam o $eu para dar testemunho e fé nessa carocha toda – sejam tão idiotas, tão bananas de mesmo cacho.
Nem meu amigo, o ET de Varginha, que está aqui, ó, doidinho pra dar um alô.

domingo, 27 de maio de 2012

O “Quinto dos Infernos”

Durante o Século 18, o Brasil-Colônia pagava um alto tributo para seu colonizador, Portugal. Esse tributo incidia sobre tudo o que fosse produzido em nosso País e correspondia a 20% (ou seja, 1/5) da produção. Essa taxação altíssima e absurda era chamada de "O Quinto". Esse imposto recaía principalmente sobre a nossa produção de ouro. O "Quinto" era tão odiado pelos brasileiros, que, quando se referiam a ele, diziam "O Quinto dos Infernos". E isso virou sinônimo de tudo que é ruim.
A Coroa Portuguesa quis, em determinado momento, cobrar os "quintos atrasados" de uma única vez, no episódio conhecido como "Derrama". Isso revoltou a população, gerando o incidente chamado de "Inconfidência Mineira", que teve seu ponto culminante na prisão e julgamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a carga tributária brasileira chegou a 38% ou praticamente 2/5 (dois quintos) de nossa produção. Ou seja, a carga tributária que nos aflige é praticamente o dobro daquela exigida por Portugal à época da Inconfidência Mineira, o que significa que pagamos hoje literalmente "dois quintos dos infernos" de impostos...
Para quê? Para sustentar a corrupção? Os mensaleiros? O Senado com sua legião de "Diretores"? A festa das passagens, o bacanal (literalmente) com o dinheiro público, as comissões e jetons, a farra familiar nos 3 Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)?!? Nosso dinheiro é confiscado no dobro do valor do "quinto dos infernos" para sustentar essa corja, que nos custa (já feitas as atualizações) o dobro do que custava toda a Corte Portuguesa!
E pensar que Tiradentes foi enforcado porque se insurgiu contra a metade dos impostos que pagamos atualmente...!
A Corte portuguesa levava tudo e nada deixava. Os atuais criadores de impostos são mais hipócritas: grande parte da população não sabe que paga impostos indiretos que fazem parte dos dois quintos, pelo contrário, recebe através de "bolsas" de toda sorte, cotas em empregos e universidades, etc. Os muito ricos se beneficiam dos impostos através de contratos magnânimos com esta excrescência chamada BNDES. E pagam um percentual mínimo do que ganham. Quem sustenta as farras é a classe média!
(Este texto, que recebi sem indicação de fonte, segue rolando na rede.)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Que dó da Chanel!

Luiz Felipe Pondé (do Jornal Folha de S.Paulo, 21/05/2012)
Em época de cotas para minorias oprimidas, eu proponho cotas para mulheres bonitas
“Que dó da Chanel!”, disse minha filha ao ouvir que o Monsieur Normal (François Hollande, o socialista) ganhou as eleições presidenciais na França. Só vai restar a Chanel fugir para Bélgica.
Caras como ele parecem não entender que se você coloca limites para o retorno financeiro de quem trabalha, a pessoa trabalha menos e fica preguiçosa. Ou foge para onde não roubem seu dinheiro, fruto de anos de trabalho duro.
Basta ver a história. Estes caras deveriam ler a filósofa russa Ayn Rand e seu maravilhoso "A Revolta de Atlas", da editora Sextante. Sociedades socialistas cultivam a preguiça, a mediocridade e desestimulam a criatividade e coragem profissional. Todo mundo vira funcionário público. Rand conheceu na pele o ridículo do sistema socialista soviético, antes de fugir para os Estados Unidos.
Dirá o leitor que exagero. Sim, um pouco, mas em se tratando da esquerda francesa, acostumada à vida mansa do Estado de bem-estar social, a França produtiva deve ficar alerta.
Assim como a Argentina, que nunca saiu da pasmaceira peronista, a França nunca saiu do delírio jacobino da Revolução Francesa.
Os caras não crescem e continuam a não entender que país é como sua casa, quando se gasta mais do que se ganha, a conta não fecha no final do mês e você estoura sua conta no banco.
Engraçado como a França e outros países europeus ocidentais que não passaram por regimes marxistas gostam de brincar de socialista. Brincam como se a catástrofe que foi a experiência marxista no poder não tivesse acontecido.
Acusam muita gente de não ter “consciência histórica”, quando eles não têm nenhuma. A começar pelos intelectuais de esquerda, esses mandarins da mentira.
Vejam que os países do leste europeu que foram comunistas não chegam nem perto da baboseira da esquerda. Pergunte a uma tcheca ou russa se ela gostaria de voltar ao comunismo.
Mas, como a França ainda tem dinheiro para gastar, o dinossauro francês ganhou a eleição. Se ele não criar juízo e ficar prometendo o que não pode (como deixar os franceses se aposentarem com menos de 60 anos e com isso piorar a pressão sobre a população mais jovem produtiva que paga a conta da previdência social francesa), na próxima eleição, Marine Le Pen (do Front National, partido de extrema-direita) leva, o que seria outra catástrofe. É isso que ela espera, por isso recusou apoio ao Sarkozy.
Tanto a direita radical quanto a esquerda são contra a sociedade de mercado e não entendem nada de economia. Os da esquerda culpam os ricos, os da direita radical culpam os estrangeiros, e nenhum dos dois sabe lidar com a complexidade de um mundo que nada tem de perfeito e que é sempre fruto da velha natureza humana: mentirosa, interesseira e preguiçosa, quando pode. Nada brota onde não há dinheiro. Até minha llhasa apso, mais inteligente do que muita gente que conheço, sabe disso.
E por falar em Chanel (que para mim significa “mulher bonita”), recentemente tivemos mais uma prova de que a natureza humana é atávica em suas mazelas, sendo a inveja uma das piores.
Já disse várias vezes nesta coluna que as mulheres bonitas são vítimas de perseguição por parte das feias – a velha inveja da beleza.
Em recente pesquisa sobre mercado de trabalho, publicada no caderno “Mercado” desta Folha (13/5), israelenses provaram que mulheres bonitas que colocam suas fotos no CV são constantemente eliminadas, não tendo chance de chegar nem a uma primeira entrevista.
E por quê? O fato é que o RH é comumente dominado pelas mulheres, e estas, aparentemente, temem que mulheres bonitas assumam cargos em suas empresas.
Incrível, não? Depois dizem que são os homens que atrapalham a vida profissional das mulheres bonitas. A verdade parece ser o contrário: se aumenta o número de homens envolvidos no processo decisório, a seleção pode deixar de ser injusta para as mais bonitas.
Já que estamos em época de cotas para minorias oprimidas, proponho cotas para mulheres bonitas nas faculdades, nas empresas e no governo. O mundo respira melhor quando tem mulher bonita por perto. Elas são o pulmão do mundo.

domingo, 20 de maio de 2012

A marcha dos escritores e os deuses mortos

Domingo passado, escritores e poetas russos se juntaram em marcha numa praça de Moscou. Saíram em passeata para testar a vigilância e a repressão da polícia ao grupo de oposição ao governo de Vladimir Putin, que desde 1999 – e já em seu terceiro mandato como presidente –, vai apodrecendo no podre poder de uma popularidade aumentada com a-judas do legislativo camarada e mandato presidencial com prazo dilatado de quatro para seis anos. Eleito a reboque de fraudes eleitorais, contam; a urna eleitoral russa não é eletrônica, como a programável brasileira. Lá o voto é manual, mas os eleitores não são cadastrados por seções, daí podem apostar quantas vezes quiserem na roleta.
Os escritores Boris Akunin e Dmitry Bykov lideraram o passeio popular pelo centro de Moscou desde a Praça Pushkin até Chistye Prudiye. Desde que Putin assumiu a presidência, a polícia praticamente varreu os manifestantes de Moscou e deteve pessoas que passaram a usar uma fita branca como símbolo da oposição.
A surpresa foi que a marcha ganhou a adesão de populares e o movimento cresceu. "Podemos ver por essa adesão em massa que a literatura ainda exerce uma autoridade em nossa sociedade", declarou, com orgulho, o poeta Lev Rubinstein, um dos organizadores do protesto.
Da Rússia saudosa das revoluções ao Brasil sob o sono das utopias e apatias, vai uma distância maior do que os 12.000 quilômetros a separar os dois países. Marchas e protestos neste democratíssimo e libérrimo Brasil? Só vão tangidas pelo coro dos contentes sob o arranjo e o clamor dos privilégios e dos pendores de minorias. Se tanto, por uma maconhazinha ali, por uma vadia ou uma homofobia acolá. Se muito, por um soberano Jesus além, neste país onde uma maioria dita católica/evangélica nem pestaneja nem se cora por re-eleger uma tuia de velhacos barrabás com a bênção de padres, pastores e outros pês da vida.
Marcha contra a corrupção, pelo julgamento e condenação de mensaleiros? Que é isso, companheiro? ¿Un poco más temprano, hasta la prescripción, quien sabe? ¿Mañana, tal vez? Ou nunca, perhaps. Que escritor, que artista emprestaria sua cara e carisma, que arriscaria sua pele numa revolução sem cachês? Que ídolo, que deus de bondade e coragem?
A literatura já não exerce qualquer autoridade – se é que alguma vez exerceu – neste país de não leitores, de analfabetos funcionais, de analfabetos políticos e vice-versa. Aqui toca outra banda. Os ídolos? São os mesmos, as aparências é que já não enganam não. Calados, quietos, encastelados ou aderidos, desde as caminhadas cantantes e seguintes à canção, movimento social agora é o das cadeiras de uma galera que quer tchu, quer tchá e só tira o pé do chão em ritmo de pererê, pererê, pererê, pepê. Que faz enem para levar título sertanejo-universitário.
Nem se apele ao engajamento cívico e político de qualquer agente ou artista que tem de ir aonde o povo está – até,  porque, OK, o sinal está fechado ao materialismo histórico-dialético pelas benesses desse capitalismo selvagem, osso que os neo-socio-comunistas agarraram e não querem largar, porque com muito gosto roem. A gravata é vermelha, mas a cor da cueca é o verde-dólar.
Agora, que a intelligentsia local vai bem amuadinha isso vai, estúpida, estarrecida, estupefaciente, estiolada, sei lá.  Estorvo? Nenhum, parece, na velha-nova fazenda-modelo que em tudo reprisa a velha granja dos bichos da fábula de Orwell. O último escritor de que se tem notícia por tascar uma bengalada é morto. Tudo bem que um cantor Dinho Ouro Preto de vez em quando manda o José Sarney tomar no cu durante um show. E morre aí também a coisa. Uma catarsezinha sem importância, que não faria nem cócega na língua de uma – já defunta, porra! – Dercy, para alívio das sôfregas massas juvenis e seus cabrestos nada sutis.  
Quanto aos escritores, lá se vão 90 anos desde que se reuniram na distante Semana de 22, até como reação a uma poesia sem compromisso (sim, havia outras questões em pauta, como a arte de fazer arte). O enjambement agora é política parnasiana. Desde a Semana para cá, prosa e poesia vão silenciando o quanto e o que está sob o olhar de outros e uns que foram assados no passado, mas são, no presente, assim... a soldo das ideologias. Tudo cabível e acomodado naquela síntese fatal de Millôr Fernandes, sobre os amantes da democracia, os bravos combatentes do regime militar e as indenizações ora percebidas por eles por conta da refrega: “Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?”
Idealismo? É vento de moinho quixote a soprar em vão sobre máscaras niilistas de deuses mortos: nem contra, nem a favor. Muito antes pelo contrário. 

O que move a História

Luiz Fernando Verissimo (O Estadão, 20/05/2012)
Os pais de Adolph Hitler teriam sido aconselhados a levar o menino para uma consulta com um médico que estava revolucionando o tratamento de distúrbios mentais, em Viena. Mas decidiram que o que o Adolphinho fazia com insetos era normal para a idade dele e não procuraram o Dr. Freud. O resultado foi o que se viu.
Karl Kraus escreveu que a Viena do começo do século 20 era o campo de provas da destruição do mundo. A derrocada do império Austro-Húngaro foi o fim de um certo mundo, mas acho que Kraus quis dizer mais do que isto. Para ele, as revoluções do pensamento postas em movimento na Viena da sua época trariam o fim do longo dia do humanismo europeu que durara desde a Renascença, e o novo século restauraria a idade das trevas.
O encontro que não houve entre o intelectual judeu que radicalizou o estudo da consciência e o homem que quis eliminar as duas coisas, o judeu e a consciência, da História simboliza este prenúncio, ou esta intuição de Kraus, sobre o século. Seria fatalmente o século do desencontro entre as duas formas de modernidade, a que liberava o pensamento pela investigação científica e a que o aprisionava pelo mito do estado científico.
A questão é até onde coisas vagas como o clima intelectual de uma cidade, ou clínicas como a maluquice de alguém, influenciam a História, ou até que ponto uma boa terapia pediátrica teria evitado o Holocausto. A História teria sido diferente sem Hitler, ou com um Hitler no poder mas tratado por Freud? A ideia do nazismo como uma anomalia patológica, como coisa de loucos, é uma ficção conveniente que absolve boa parte da direita cristã europeia da sua cumplicidade.
Mas a ideia de um determinismo neutro, independente de qualquer escolha moral, também é assustadora. Precisamos de vilões mais do que de heróis, de culpados muito mais do que de inocentes. Nem que seja só para preservar o autorrespeito da espécie.
O materialismo histórico rejeita a ideia de sujeitos regendo a História e marxistas ortodoxos reagem a qualquer sugestão de que as ideias justas venham de um discernimento moral inato. Assim a História como um relato de mocinhos providenciais em guerra com bandidos doentes sobra para a literatura, ou essa categoria de ficção sentimental que é a História convencional.
Pois gostamos de pensar que é a iniciativa humana que move a História, e que o seu objetivo, mesmo que tarde, seja moral e justo, e que ela tenha uma cara e uma biografia.

E cumpriu-se a profecia

O vídeo abaixo não deixa dúvida.
No Brasil basbaque, cumpriu-se a profecia:
“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.” (George Orwell, in A Revolução dos Bichos, 1945.)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A rotina das cobras

A “Comissão da Verdade” é, de alto a baixo, mais uma farsa publicitária montada segundo o modelo comunista de sempre
Se há uma lição que a História ensina, documenta e prova acima de qualquer dúvida razoável, é a seguinte: sempre que os comunistas acusam alguém de alguma coisa, é porque fizeram, estão fazendo ou planejam fazer logo em seguida algo de muito pior. Acobertar crimes sob afetações histriônicas de amor à justiça é, há mais de um século, imutável procedimento-padrão do movimento mais assassino e mais mentiroso que já existiu no mundo.
Só para dar um exemplo incruento: o Partido dos Trabalhadores ganhou a confiança do eleitorado por sua luta feroz contra os políticos corruptos, ao mesmo tempo que ia preparando, para colocá-lo em ação tão logo chegasse ao poder, o maior esquema de corrupção de todos os tempos, perto do qual a totalidade dos feitos de seus antecessores se reduz às proporções do roubo de um cacho de bananas numa barraca de feira.
Mas nem todos os episódios desse tipo são comédias de Terceiro Mundo. Nos anos 30 do século passado, o governo de Moscou promoveu por toda parte uma vasta e emocionante campanha contra as ambições imperialistas de Adolf Hitler, ao mesmo tempo que, por baixo do pano, as fomentava com dinheiro, assistência técnica e ajuda militar, no intuito de usar as tropas alemãs como ponta-de-lança para a ocupação soviética da Europa.
Os exemplos poderiam multiplicar-se ilimitadamente. Em todos os casos, a regra é a máxima atribuída a Lênin: “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”
Se o acusado realmente cometeu crimes, ótimo: desviarão a atenção dos crimes maiores do acusador. Se é inocente, melhor ainda. Durante os célebres Processos de Moscou, onde o amor ao Partido levava os réus a confessar crimes que não haviam cometido, Bertolt Brecht, ídolo literário maior do movimento comunista, proclamou: “Se eram inocentes, tanto mais mereciam ser fuzilados.” Não foi mera efusão de servilismo histriônico. A declaração obscena mostra a funda compreensão que o dramaturgo tinha da premeditação maquiavélica por trás daquela absurdidade judicial. Como o bem e o mal, na perspectiva marxista, não existem objetivamente e se resumem à resistência ou apoio oferecidos às ordens do Partido, a inocência do réu é tão boa quanto a culpa, caso sirva à propaganda revolucionária – mas às vezes é muito mais rentável. Condenar o culpado dá aos comunistas o ar de justiceiros, mas condenar o inocente é impor a vontade do Partido como um decreto divino, revogando a moral vigente e colocando o povo de joelhos ante uma nova autoridade, misteriosa e incompreensível. O efeito é devastador.
Isso não se aplica somente aos Processos de Moscou. Perseguir o general Augusto Pinochet por delitos arquiconhecidos dá algum prestígio moral, mas condenar o coronel Luís Alfonso Plazas a trinta anos de prisão por um crime que todo mundo sabe jamais ter acontecido é uma operação de magia psicológica que destrói, junto com o inimigo, as bases culturais e morais da sua existência.
Na presente “Comissão da Verdade”, os crimes do acusado são reais, mas menores do que os praticados pelo acusador. A onda de terrorismo guerrilheiro na América Latina data do início dos anos 60, e já tinha um belo currículo de realizações macabras quando, em reação, os golpes militares começaram a espoucar. Computado o total das ações violentas que, partindo de Cuba, se alastraram não só por este continente, mas pela África e pela Ásia, a resposta dos militares à agressão cubana mostra ter sido quase sempre tardia e moderada, sem contar o fato de que, pelo menos no Brasil, veio desacompanhada de qualquer guerra publicitária comparável à que os comunistas, inclusive desde a Europa e os EUA, moviam contra o governo local. Sob esse aspecto, a vantagem ainda está do lado dos comunistas. Os delitos cometidos pelos militares chamam a atenção porque uma rede de ONGs bilionárias, secundada pela militância esquerdista que domina as redações, não permite que sejam esquecidos. Nenhuma máquina de publicidade, no entanto, se ocupa de explorar em proveito da “direita” as vítimas produzidas pela Conferência Tricontinental de 1966, pela OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade, 1967) ou, hoje, pelo Foro de São Paulo. Numa disputa travada com tão escandalosa desproporção de recursos, a verdade não tem a menor chance. Na tão propalada ânsia de restaurar os fatos históricos, ninguém se lembra sequer de averiguar a participação de brasileiros nas ações criminosas empreendidas pelo governo de Fidel Castro em três continentes. Encobrindo esse detalhe, fugindo ao cotejo dos números, trocando os efeitos pelas causas e partindo do pressuposto tácito de que os crimes praticados a serviço de Cuba estão acima do julgamento humano, a “Comissão da Verdade” é, de alto a baixo, mais uma farsa publicitária montada segundo o modelo comunista de sempre. Seu objetivo não é o mero “revanchismo”, como ingenuamente o pensam os militares: é habituar o povo a conformar-se com um novo padrão de justiça, no qual, a priori e sem possibilidade de discussão, um lado tem todos os direitos e o outro não tem nenhum.
A única coisa estranha, nessa reencenação de um script tradicional, é que suas vítimas ainda procedam como se esperassem, de seus julgadores, alguma idoneidade e senso de equilíbrio, sentindo-se surpreendidas e chocadas quando a igualdade perante a lei lhes é negada – tanto quanto os cristãos se sentem repentinamente traídos quando o governo Dilma volta atrás no seu compromisso anti-abortista de campanha. Não há nada de surpreendente em que as cobras venenosas piquem. Surpreendente é que alguém ainda se surpreenda com isso.

Tchu e tcha!

domingo, 13 de maio de 2012

São tristes os poemas para as mães



São tristes os poemas para as mães,  
acalantos de dor e perda,
morte, remorsos erradios,
algum lamento de saudade,
com ranço de desgosto
ou travo de orfandade,
talvez uma súplica sussurrada
em segredo, confidência, confissão,
um choro abafado num canto.
Por vez, algum tributo tardio
ou um pedido de perdão, quem sabe,
como se perdoar sempre fosse
a sina de toda mãe,  
além desse tempo reservado
às rezas e rosas de maio,
quando os filhos são filhos como nunca
– são abraços, são flores, são presentes.
Não seria diferente
meu poema, mãe,
(mais talvez para alívio e desembaraço
de consciência) antes que a memória
levante canteiros de ausência, mure o abraço
e leve para dentro do silêncio
este sentimento com que me carregas
desde menino,
por amor,
por destino.

O melhor trabalho do mundo

O Menino Alquimista

Já nas livrarias a segunda edição do livro “O Menino Alquimista”, pela Gulliver Editora. De cara nova, a capa é do artista plástico Elton Caetano.
Por sua qualidade literária, a obra recebeu o selo “Leitura Altamente Recomendada” pela FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil.
Quando o Mar de Avatares se abre para dar passagem ao Menino e seu sonho, ele segue em uma aventura à procura de um bem maior, num fantástico mundo para além do faz-de-conta, onde tudo é possível.

sábado, 12 de maio de 2012

Casa da Mãe Joana

A expressão, conta o historiador Câmara Cascudo, deve-se a Joana I, rainha de Nápoles e condessa de Provença, que viveu na Idade Média. Teve uma vida atribulada e consta que passou a residir em Avignon, na França, por ter se envolvido em uma conspiração em Nápoles, da qual resultou a morte de seu marido André. Dizem outros que foi na verdade exilada pela Igreja, por causa de sua vida desregrada.
Em 1347, aos 21 anos, Joana regulamentou os bordéis de Avignon. Determinou que o lugar tivesse uma porta por onde todos pudessem entrar.
Transposta para Portugal, a expressão paço-da-mãe-joana virou sinônimo de prostíbulo.
Trazido para o Brasil, o termo paço, por não ser da linguagem popular, foi substituído por casa e casa-de-mãe-joana serviu, por extensão, para indicar o lugar ou situação em que cada faz o que quer, onde impera a desordem, o vale-tudo. Uma variante chula da expressão é cu-da-mãe-joana.
O termo também indica que tal casa não possui janela nem porta, onde todos entram e saem sem pedir licença, imperando, portanto indisciplina e desrespeito.
Conta-se que nos tempos do Brasil Império, durante a menoridade do Dom Pedro II, os homens que mandavam no país costumavam se encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro. Como esses pais-da-pátria mandavam e desmandavam no país, a frase "casa-da-mãe-joana" ficou conhecida como sinônimo de lugar em que ninguém manda e salve-se quem puder.
Em 1960, a Casa da Mãe Joana, digo, a capital do país foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Macho à mesa

A coragem para consumir alimentos que os outros consideram questionáveis.
Por exemplo: é preciso ser macho à mesa para mastigar insetos nos Estados Unidos, ainda que a entomofagia – ou seja, o hábito de comer insetos – seja apreciada no mundo inteiro. Os peruanos saboreiam os insetos driópodes, que são moídos e usados em um molho apimentado. As culturas que apreciam lagartas, grilos e locustas são bem conhecidas.
Com tantos alimentos exóticos sendo apreciados hoje em dia, talvez as pessoas que se orgulham de ser machos à mesa tenham de experimentar insetos.
Esperamos que alguns restaurantes mais atirados – sempre à cata de novidades – comecem a oferecer pratos à base de insetos. Na verdade, se fôssemos menos insetofóbicos, nossos agricultores não precisariam usar tantos pesticidas.
Para saber mais, é só acessar a Food Insects  Newsletter: www.hollowtop.com/finl.html/finl/html.
(O Dicionário do Futuro, Faith Popcorn e Adam Anft).

A Sombra do Político

Um Político ia saindo à rua em um dia ensolarado.
Foi quando observou sua sombra que o deixava, rapidamente afastando-se dele.
– “Volte aqui você, canalha”, gritou.
– “Se eu fosse canalha”, respondeu a Sombra, aumentando a sua velocidade, “Eu não estaria deixando de acompanhar você.
Ambrose Bierce, Fábulas Fantásticas (1899).

domingo, 6 de maio de 2012

La Flaca - Jarabe De Palo

Não ver, não ouvir e calar sempre

Danuza Leão
Você quer ser querida pelos amigos, viver sem problemas, ser daquelas pessoas que são sempre lembradas com alegria e prazer? Em outras palavras: você quer ser feliz? Simples: esqueça essas manias de ver, ouvir e, sobretudo, falar, e sua vida passará a ser um mar de rosas.
Não ouça; isso mesmo, não ouça, salvo, talvez, um pouco de música, quando estiver no carro. Quando perceber que estão contando uma história escabrosa da área política, vá para a janela e olhe para fora com enorme atenção.
E se o assunto envolver a vida particular de quem quer que seja – e quanto mais próxima a pessoa, pior –, seja drástico e finja um mal-estar súbito. Se tiver que se explicar, diga, no máximo, que é vagotônico como era o poeta Vinicius, doença que, aliás, já esteve muito na moda e que ninguém nunca soube muito bem do que se tratava.
Agora, o principal: se uma amiga – principalmente se for a que você mais adora – quiser contar seus problemas pessoais, arranje uma desculpa, seja ela qual for, para não ouvir: simule uma crise nervosa, diga coisas desconexas, dê uns gritos, e se for preciso, desmaie, mesmo que esteja no meio da rua. Vale absolutamente tudo para não assumir o papel de confidente, pois vai acabar sobrando para você – ou estou dizendo alguma novidade?
Bem, já falamos do primeiro ponto: não ouvir. Agora vamos ao segundo: não ver.
Quando for a uma festa, use óculos, daqueles que os bandidos obrigam os sequestrados a usar – com vidro negro e opaco – para não enxergar; faça essa riquíssima experiência que é não ver absolutamente nada, a saber: quem deu um amasso em quem, de quem é a perna enroscada debaixo da mesa que você flagrou quando foi pegar o isqueiro que caiu no chão, ou as baixarias que costumam acontecer quando as pessoas se descontraem, digamos assim. E se não conseguir os tais óculos negros, não tem importância: é só passar a noite inteira de olhos fechados – ou não sair de casa, claro.
Agora, o terceiro ponto, muito, mas muito mais importante do que não ver e não ouvir: não falar.
Nunca diga nada sobre nenhum assunto, e não dê, jamais, uma só opinião sobre nada. Se alguém diz que a couve-flor está mais cara, ouça com o ar mais sério do mundo; se ouvir o contrário, também – e continue mudo. Não diga nada, não faça nenhuma ponderação, não emita um único som.
Renuncie a bancar o inteligente e fique até o sol raiar, se for preciso, de boca fechada, que é a posição correta na vida, como você já deve ter aprendido – ou devia.
Se alguém mencionar a crise política e tiver uma vontade súbita de dizer alguma coisa, morda a língua e não faça juízo a respeito de nada: nem sobre a queda – ou a alta – do dólar, nem, sobretudo, sobre a CPI. Opinião, nem pensar.
O maior perigo é quando sua maior amiga está passando por uma crise e pede um conselho.
As pessoas só querem que se diga o que elas querem ouvir, e há até quem ache que amigo só existe para dar razão quando não se tem razão – você não sabia?
E não tenha ilusões: diga você o que disser, contra ou a favor, no final a culpa será sempre sua. Aprenda, mesmo que já um pouco tarde, que a sabedoria da vida é não ver, não ouvir e calar.
O que significa, na prática, não viver – o que é meio triste, convenhamos.

Religioso