Domingo passado, escritores
e poetas russos se juntaram em marcha numa praça de Moscou. Saíram em passeata para
testar a vigilância e a repressão da polícia ao grupo de oposição ao governo de
Vladimir Putin, que desde 1999 – e já em seu terceiro mandato como presidente –,
vai apodrecendo no podre poder de uma popularidade aumentada com a-judas do
legislativo camarada e mandato presidencial com prazo dilatado de quatro para
seis anos. Eleito a reboque de fraudes eleitorais, contam; a urna eleitoral
russa não é eletrônica, como a programável brasileira. Lá o voto é manual, mas
os eleitores não são cadastrados por seções, daí podem apostar quantas vezes
quiserem na roleta.
Os escritores Boris Akunin
e Dmitry Bykov lideraram o passeio popular pelo centro de Moscou desde a Praça
Pushkin até Chistye Prudiye. Desde que Putin assumiu a presidência, a polícia
praticamente varreu os manifestantes de Moscou e deteve pessoas que passaram a
usar uma fita branca como símbolo da oposição.
A surpresa foi que a marcha
ganhou a adesão de populares e o movimento cresceu. "Podemos ver por essa
adesão em massa que a literatura ainda exerce uma autoridade em nossa sociedade",
declarou, com orgulho, o poeta Lev Rubinstein, um dos organizadores do
protesto.
Da Rússia saudosa das
revoluções ao Brasil sob o sono das utopias e apatias, vai uma distância maior do
que os 12.000 quilômetros a separar os dois países. Marchas e protestos neste
democratíssimo e libérrimo Brasil? Só vão tangidas pelo coro dos contentes sob
o arranjo e o clamor dos privilégios e dos pendores de minorias. Se tanto, por
uma maconhazinha ali, por uma vadia ou uma homofobia acolá. Se muito, por um
soberano Jesus além, neste país onde uma maioria dita católica/evangélica nem
pestaneja nem se cora por re-eleger uma tuia de velhacos barrabás com a bênção
de padres, pastores e outros pês da vida.
Marcha contra a corrupção,
pelo julgamento e condenação de mensaleiros? Que é isso, companheiro? ¿Un poco más
temprano, hasta la prescripción, quien sabe? ¿Mañana, tal vez? Ou nunca, perhaps. Que escritor, que artista emprestaria sua
cara e carisma, que arriscaria sua pele numa revolução sem cachês? Que ídolo,
que deus de bondade e coragem?
A literatura já não exerce
qualquer autoridade – se é que alguma vez exerceu – neste país de não leitores,
de analfabetos funcionais, de analfabetos políticos e vice-versa. Aqui toca outra
banda. Os ídolos? São os mesmos, as aparências é que já não enganam não.
Calados, quietos, encastelados ou aderidos, desde as caminhadas cantantes e
seguintes à canção, movimento social agora é o das cadeiras de uma galera que
quer tchu, quer tchá e só tira o pé do chão em ritmo de pererê, pererê, pererê,
pepê. Que faz enem para levar título sertanejo-universitário.
Nem se apele ao engajamento
cívico e político de qualquer agente ou artista que tem de ir aonde o povo está
– até, porque, OK, o sinal está fechado
ao materialismo histórico-dialético pelas benesses desse capitalismo selvagem,
osso que os neo-socio-comunistas agarraram e não querem largar, porque com
muito gosto roem. A gravata é vermelha, mas a cor da cueca é o verde-dólar.
Agora, que a intelligentsia
local vai bem amuadinha isso vai, estúpida, estarrecida, estupefaciente, estiolada,
sei lá. Estorvo? Nenhum, parece, na velha-nova
fazenda-modelo que em tudo reprisa a velha granja dos bichos da fábula de
Orwell. O último escritor de que se tem notícia por tascar uma bengalada é morto. Tudo bem que um cantor Dinho Ouro Preto de vez em quando manda o José
Sarney tomar no cu durante um show. E morre aí também a coisa. Uma catarsezinha
sem importância, que não faria nem cócega na língua de uma – já defunta, porra!
– Dercy, para alívio das sôfregas massas juvenis e seus cabrestos nada sutis.
Quanto aos escritores, lá
se vão 90 anos desde que se reuniram na distante Semana de 22, até como reação
a uma poesia sem compromisso (sim, havia outras questões em pauta, como a arte
de fazer arte). O enjambement agora é política parnasiana. Desde a Semana para cá, prosa e poesia vão silenciando o quanto e o que
está sob o olhar de outros e uns que foram assados no passado, mas são, no presente, assim...
a soldo das ideologias. Tudo cabível e acomodado naquela síntese fatal de Millôr
Fernandes, sobre os amantes da democracia, os bravos combatentes do regime militar
e as indenizações ora percebidas por eles por conta da refrega: “Quer dizer que
aquilo não era ideologia, era investimento?”
Idealismo? É vento de
moinho quixote a soprar em vão sobre máscaras niilistas de deuses mortos: nem contra,
nem a favor. Muito antes pelo contrário.
Grande mestre...como esta
ResponderExcluirto de mandando um artigo que achei interesante...da uma olha
saudades
Nubia Maria
http://www.hierophant.com.br/arcano/posts/view/Alexandre/1307