sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Foi bom o ano?

Eu diria que foi bom o ano se bem gastas foram as horas em quanto me gastei, em que medida vivi, me dividi e somei no trabalho, nas amizades, na família, no amor.
Suponho tenha sido bom o ano se meus sonhos e minhas vontades não se curvaram aos vícios ou virtudes com que esses mesmos sonhos e vontades foram, em quanto me gastei, contrariados pelo meu caráter sem me enfraquecer ou sem que de tudo me arrependesse. E se tudo me fez crescer apesar das objeções, do não e o talvez. E se não me conformei aos usos que vão com o tempo e as modas dissipando em nuvens vontades e sonhos.
Se o ano foi bom?
Suponho, tenha sido, se não me amesquinhei a favor ou contra a mesquinhez de um governo, de uma política, de um partido, de um salário, de uma religião ou crença a me ofuscar a visão como quem vive à custa e a reboque das opiniões do mundo feito massa, manada, multidão, com o coração e a mente manobráveis, valetudinário, pusilânime. Se não violentei minha natureza para vender meu peixe mais caro do que realmente valia nem falseei argumentos para aferir vantagem ou alimentar ilusões ou extorquir esperanças.
Suponho tenha sido bom o ano se não dei por funda esperança rasa, para frente, para trás ou de través a iludir-me de auto-confiança, se honestamente não caí de joelho diante de falsos deuses e ídolos de papel. E se dei a cada coisa dimensão, peso e medida pelo que realmente é e não pelo que aparenta ser, se não cedi a adulações nem acariciei máscaras de afetos deliberados que me tributaram falsas estimas. E se sentei-me à mesa igualmente grato em todas as horas do banquete de mil talheres ou do trivial repasto ou repouso.
Terá sido bom o ano se, inacessíveis a mim as cordilheiras himalaias, meus arremessos e escaladas não foram arrivismo, mas caminho e conquista, levados a passo lento que fosse, porém firme, sob calos meus e meus. Terá sido bom o ano se não disfarcei minha insegurança com indiferença nem se por orgulho julguei inteligência o equívoco de não reconhecer ou reparar os erros, pedir ou conceder uma chance de acertar, fingindo dominar sentimentos que, no fundo, fizeram-me  refém da culpa.
Foi bom o ano?
Terá sido se, sob o manto ou à descoberta de minhas falhas e acertos tudo fiz e vivi se não à imagem de um deus ou para espelho de meus semelhantes, por redenção da minha humanidade e em razão da vida.  
Bom terá sido este ano se, tudo somado e subtraído, do que passou alguma saudade restar. 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Dos contos do reino



Quando a Rainha de Jabá decidiu que cada assalto ao tesouro real será maior enquanto mais o populacho comparar cada novo saque aos mais velhos golpes, decretou: todas as fraudes do reino não passam de ilusão. Seus ministros e conselheiros punguistas proclamaram em coro “Noooooosssaaaa!, como ninguém pensou nisso antes, Majestade?”
Os banqueiros continuaram enchendo o saco de ações e nem te ligo, enquanto Sua Majestade lá, a reinar com a leseira que lhe rendeu e garante o privilégio do trono. 
Os alquimistas é que foram saindo de fininho: pela cara dos conselheiros de Sua Majestade manteúda, já sabiam que viria por aí mais que um decretozinho qualquer despejando sobre eles, os alquimistas, toda a culpa da derrocada das artes e ofícios de iludir o povo com essa conversinha fiada de fraudes no tesouro real. Tudo propaganda enganosa. Afinal o tesouro nunca foi público. Salvo a conta que é de todos, o gasto é que é de poucos, senão dos que mais roubam. Isso a Rainha fez e faz saber.
No mais, livres continuam a farra, a foda e o musaranho, tudo sob a parvoeira do Reino do Bananal de Paradoxos, onde mais preocupam se calham feriados em meio de semana e mais anda a plebe ocupada com seus falsos ídolos, um pônei, um pato e uma pitomba, entre os quais. Quem não entendeu que leia Rabelais e faça como queira, que a ignorância é mãe de todos os males e eu cá vou em busca de um grande talvez.
Pouco e bom quem achou foi o arlequim: “De tudo quanto sei”, pensou, “conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam.”
Então deu uma pirueta e saiu correndo a esparramar a bossa real.
Moral da história: B-o-s-s-a, ouviste? Não confundais.  

sábado, 24 de dezembro de 2011

Os Reis Magos

(PAULO MENDES CAMPOS)
Existiam no Oriente três homens maduros, Gaspar, Melquior, Baltazar, que acreditavam em tudo; e porque viam em tudo uma linguagem estrangeira, eles se movimentavam entre os textos radiosos da esperança. E só acreditavam que estivéssemos no mundo, nem que o nosso tempo fosse o tempo, nem que a nossa vida fosse a vida, mas que o mundo, o tempo e a vida fossem portas trancadas, e a chave fosse a imaginação do homem. Pois é preciso imaginar para crer.
Gaspar, Melquior, Baltazar sabiam que o mundo significa outra coisa: e, se um grito de gralha se perde acima dos abetos, não é um grito de gralha, mas um augúrio para o sonho do homem: e se o próprio sol há de morrer, e o homem vive na escuridão, a verdadeira luz precisa ser adivinhada. Pois a luz que nos alumia também não é a verdadeira luz.
E enquanto todos ansiavam angustiadamente por um milagre, Gaspar, Melquior e Baltazar já estavam satisfeitos de todos os milagres que se realizam cada dia; o milagre do dia e da noite; o milagre da água, da terra e do fogo; o milagre de ter olhos e ver; o milagre de ter ouvidos e ouvir; o milagre de ter um corpo; então, já satisfeitos de viver em um mundo de milagres, eles viram a estrela que os aliviava das maravilhas de todos os dias, pois era uma estrela inventada, uma estrela que os outros homens não viam.
E os três reis magos seguiram a estrela ao longo de duras noites de inverno; e, chegando a Belém, a estrela parou acima do humilde lugar onde se encontravam um menino e sua mãe. E, abrindo os cofres de ouro, incenso e mirra, eles adoraram o símbolo que se fez carne, prostrados diante do nascimento, da glória, da crucificação e da morte. A vida deixou de ser um milagre. E Gaspar, Melquior e Baltazar puseram-se em marcha em busca de seus reinos contentes de terem visto uma criança que não era um milagre.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Onde estão os Cristãos?

(RALPH WALDO EMERSON, in 'Essays')

 
O homem civilizado construiu um coche, mas perdeu o uso dos pés.
Sustém-se com o auxílio de muletas, mas falta-lhe todo o apoio do músculo.
Possui um belo relógio de Genebra, mas perdeu a habilidade de calcular as horas pelo sol.
Seguro de que obterá no almanaque náutico de Greenwich a informação desejada quando dela carecer, o homem da rua não sabe reconhecer estrela nenhuma no céu.
Não observa o solstício, nem tampouco o equinócio, e a sua mente não logra visualizar o quadrante do claro calendário do ano.
O livro de notas prejudica-lhe a memória; as bibliotecas sobrecarregam-lhe a inteligência; a agência de seguros aumenta o número de acidentes; e talvez constitua um problema saber se a maquinaria não entorpece, se o refinamento não nos fez perder alguma energia, se o Cristianismo entrincheirado nas instituições e nos ritos não nos roubou o vigor da vida selvagem.
Pois todo estóico era um estóico; mas, na Cristandade, onde estão os cristãos?

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Museu dos Soldadinhos

O Museu dos Soldadinhos de Plomo, em Valência, Espanha, possui a maior coleção de soldados de brinquedo e figuras em miniaturas do mundo. São mais de 85 mil deles em exibição em dioramas intrincadas e displays, além de mais de um milhão armazenados, que retratam de cenas espetaculares a grandes batalhas da História.
  
Soldados de Napoleão na Guerra da França contra a Inglaterra  

Tudo começou com o pai de Alejandro Noguera, diretor do museu. Ele conta que seu pai recebeu um conjunto de soldados espanhóis de brinquedo. Era o início de um hobby e de uma vasta coleção privada, que legou aos filhos como uma forma de instrução, mais que um passatempo. Criança ainda, Noguera diz que não se lembra de um feriado em que não andava pelas lojas e mercados de pulga olhando para os soldadinhos de brinquedo. “Foi muito divertido, nós usamos os exércitos da Segunda Guerra Mundial, com regras sobre diplomacia e economia, mas foi também uma maneira de meu pai nos ensinar sobre negócios, porque se você sabe como organizar um exército, sabe como organizar um negócio, uma biblioteca, qualquer coisa”. 

Batalha da Guerra de Sucessão Espanhola

Brincar com soldados em miniatura para reproduzir grandes batalhas tem sido um hobby para muitas pessoas há centenas de anos. É um brinquedo que permite desenvolver diferentes estratégias em diferentes cenários e, claro, recontar histórias, pois cada peça tem um valor e ocupa um lugar na cena. Algumas peças parecem ter vida própria. Com detalhes e características admiráveis, destacam-se de maneira peculiar na ação e na disposição com que as envolvemos nos roteiros imaginados. 

H.G. Wells, o escritor inglês, jogando com um jogo de guerra

Eu tive um Forte Apache, da coleção Gulliver. Eram figuras de vinil, pintadas à mão, de soldados, índios e cowboys, além do pórtico, das paliçadas, as torres de vigia, o alojamento dos soldados e as escadas. Muitas vezes, fiz o chefe Apache Gerônimo, meu preferido, ganhar a batalha contra os soldados da cavalaria americana e tomar o Forte, que era um posto avançado na luta contra os peles-vermelhas. Eu sempre fazia Gerônimo saltar de cima das pedras sobre o soldado a cavalo, na emboscada de uma luta terrível. Também reproduzia com as miniaturas os episódios da série de televisão, de mesmo nome do brinquedo, na qual atuava o Cabo Rusty e seu famoso cão pastor, Rin tin tin.
O passatempo foi substituído depois pelos legos e playmobils, e praticamente desapareceu com o surgimento dos games de computador e RPGs. Creio que pouca gente cultiva esse hobby em todo o mundo, que particularmente cobre domínios da história, da geografia, da arte, da economia, da criação de grandes campos de batalha no terreno da imaginação e da fantasia.
Hoje, fiz uma visita virtual ao Museu dos Soldadinhos. Lembrei-me no ato dessas miniaturas com que, menino, tanto brinquei. Uma época, a Coca-Cola lançou uma promoção em que trocávamos tampinhas de garrafa por miniaturas dos personagens de Walt Disney. Eram de plástico, brancas, não tinham a mesma expressão e vivacidade dos soldadinhos que brincavam nas fronteiras e territórios do real e da imaginação. Eu perdi parte das peças do meu Forte Apache quando nos mudamos de uma casa para outra. Depois, numa reforma da casa, o pedreiro soterrou com entulho outra parte que deixei em cena no quintal e cobriu de cimento, enquanto eu estava na escola. Ficaram lá, enterrados, como parte da minha infância. De resto, ficou a lembrança. Cresci. As batalhas são outras. 

Assassinato do imperador romano Júlio César, por Brutus

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Quando Falar é Fazer: lançamento na Livraria Leitura

Fotos do lançamento do livro Quando Falar é Fazer na Livraria Leitura do BH Shopping, em Belo Horizonte, no dia 3 de dezembro, com minha gratidão a todos cuja presença foi mais um motivo de alegria.












sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Quando Falar é Fazer no Mundo de Fantas



É de Celly Borges a resenha a seguir, sobre meu novo livro “Quando Falar é Fazer”. Celly, também escritora, mantém o blog Mundo de Fantas, no qual se dedica a falar dos livros que lê com uma devoção especial que é mais do que um carinho para qualquer autor.
Obrigado, Celly! Valeu! Aí vai o texto:
“O título do livro escrito por Juarez Nogueira mostra o grande desafio que propõe: ao invés de somente falar, tentar fazer algo concreto.
Quando Falar é Fazer (Gulliver Editora) é dedicado principalmente às crianças, um livro de 24 páginas ricamente ilustradas por Elton Caetano, com cores vibrantes que chamam a atenção dos pequenos e dos grandes que gostam de uma boa leitura independente da faixa etária.
Neste novo livro o leitor acompanha as diferenças entre quem somente fala, quem fala e faz e quem faz, este último é aquele que não precisa contar a todos, enfim, há muitas formas de principalmente colocar algo em prática, um exemplo que dou pode ser como ler um livro e até escrevê-lo ou quem sabe incentivar alguém a ler.
Conheci o autor Juarez Nogueira através do livro O Menino Alquimista (leia a resenha), que já mostrava sua paixão por histórias para crianças e jovens, e nenhuma das duas é escrita de qualquer forma, ele sabe respeitar a inteligência dos leitores e instigá-los ao novo, ao desconhecido, à magia.
E quem fala também faz acontecer, como:
“Quando você diz: por favor, com licença,
Muito obrigado, por gentileza
E fala de tudo com cuidado
Essas palavras, com certeza,
Fazem ver que você é educado”
O poder que a palavra tem é muito grande, e maior ainda quando colocada em prática, boas ações são mais fortes se tiradas do papel, da cabeça, e tornadas reais, concretas.
Esta pequena grande obra pode divertir os pais e os filhos, de forma conjunta, o que é mais um modo de tornar com palavras e gestos uma ação verdadeira e boa.”
Leia mais, no Mundo de Fantas.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Este é o Papel Singular da Alegria



Este é o papel singular da alegria
a lei errante do país
é o maior dos silêncios.
Caminhei por entre rios pontos de água
estações de novembro
pequena razão dos ventos da manhã.
Não trafiquei não porque seja forte
mas porque falo da alegria do estar sobre vós
nestes pontos de água
na acidez da flor
neste país frequentado
algumas coisas nunca mudarão. O rigor
da luz torna invulnerável o desejo de perder
esta pressa de verão.
Algumas coisas serão sempre as mesmas: manhã
encosta o teu ouvido sobre a porta escuta
era a voz os cavaleiros roubados a Ucello
longínquos.
(Profanamos a casa não o corpo
esta forma desenhada ruga a ruga
esta cor amarela sobre a praia.)
JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE, poeta português

Quando Falar é Fazer chega ao Choro

O livro “Quando Falar é Fazer” chegou à Comunidade do Choro, em Divinópolis-MG, pelas mãos e o talento da contadora de histórias Márcia Bloch, do Rio de Janeiro.
Márcia estava de passagem pela cidade, às vésperas do lançamento, quando nos conhecemos na Boutique do Livro. Ela atua no projeto Barraginhas, da equipe ambiental de Furnas Centrais Elétricas, junto àquela comunidade, onde segue trabalhando memória, cultura e identidade.
O sentido de um livro é, ao mesmo tempo, seu destino.
Aonde ele for, vamos juntos Elton – que o ilustrou – e eu, que o escrevi, a quem o levar.
Fico feliz porque o livro chegou a essa gente, esse lugar. Onde há de falar e fazer história.
Valeu, Márcia! 

domingo, 30 de outubro de 2011

"Quando falar é fazer", com gente muito querida!

Gente muito, muito querida, disse sim ao convite para o lançamento do meu livro “Quando Falar é Fazer”, ilustrado pelo artista Elton Caetano.
Já no dia 3 de dezembro, tem sessão de autógrafos na Livraria Leitura, no BH Shopping, em Belo Horizonte.
Obrigado a todos que levaram seu abraço e fizeram acontecer a festa.
Thank you!
Grazie!
Gracias!
Merci!
Danke!
Kiitos!
תודה
شكرا
E tem mais fatos e fotos (sob a lente de Cristiane Silva) na página da Editora Gulliver! Basta clicar aqui. 




sábado, 29 de outubro de 2011

Dia do livro

 “Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.”
(CASTRO ALVES)

domingo, 23 de outubro de 2011

Quando falar é fazer



Vem chegando a hora do lançamento de meu novo livro, “Quando falar é fazer”, pela Editora Gulliver. Com ilustrações do artista Elton Caetano, radicado na Argentina, o texto é um jogo de linguagem. De forma lúdica, ritmada, mostra que falando fazemos coisas, mas também há diferenças entre o falar e o fazer.  
O jornalista Douglas Fernandes, do site Almanake, especializado em cultura e variedades, destaca que a obra sai da mesmice dos livros tradicionais voltados ao público infantil, ao instigar a curiosidade do leitor e também ensinar.
“Quando falar é fazer” é uma excelente obra para ser adotada em escolas e também para ser lida em casa pelos pais, permitindo que a criança descubra a diferença entre o fazer e o falar, assim como o uso das palavras para afirmar ou negar, pedir ou mandar, ajudar ou atrapalhar. O cunho educacional do livro valoriza ainda mais esse trabalho, porque faz com o hábito de leitura se transforme em algo prazeroso.” – diz a grata resenha do Almanake.
Leia mais, aqui.
E estejam convidados. Voilà.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Você está certíssimo...

Segue-se um texto que vai rolando na rede. Vale a pena ler:
“Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:
– A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
– Não havia essa onda verde no meu tempo.
O empregado respondeu:
– Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente.
– Você está certo – responde a velha senhora, nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.
Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.
Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam à eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos.
Canetas? Recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas.
Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Você tem inteira razão...”

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ah, nem...

“É assim no mundo inteiro”.
Fernando Haddad, ministro da Educação, sobre o naufrágio das escolas públicas no Enem-2010, explicando que no mundo inteiro os alunos estão descobrindo que 10 menos 7 é igual a 4 e aprendendo que está certo dizer “nós pega o peixe”, só que em outros idiomas.

Cidade sitiada

estou reabitando minha cidade
– evacuada em tempos de ameaça de catástrofe.
cada cidadão meu foi para um canto da floresta,
e lá passou medos e saudade.
agora eles voltam por instinto de coisa boa.
sentem um sol novo a entrar nas casas
–  sentem esse sol de longe,
 ainda que permaneçam amedrontados sob a copa da árvore negra –
sol a convidá-los para a remorada.
a convidá-los a viver.
montam barricada agora
e dizem que nunca mais hão de sair
e viverão para sempre.
eu digo que sim, que sim.
que eu acredito neles
apesar de saber que o para sempre é pouco tempo
e termina sempre
– sem atraso –
no fim.
no fim do dia.
fim do dia
quando a casa e o bosque
ficam da mesma cor.

domingo, 4 de setembro de 2011

Exorcismo ao seu alcance

A coisa pega mais que reza braba e praga de mãe.
A coisa faz abestado fugir como o diabo foge da cruz.
A coisa tem efeito de água benta no couro do grão-tinhoso.
A coisa existe e funciona para Gente de Bem.
A coisa é para quem deseja exconjurar o espírito das trevas encarnado no Congresso Nacional, onde o não-sei-que-diga obra pelas artes do maligno.
A coisa tem nome: Voto Distrital.
O Voto Distrital elimina o efeito Tiririca, põe político para enfrentar o batente, enfraquece oligarquias e campanhas milionárias. É a reforma política que de fato interessa, porque dá poder a quem de direito: o cidadão eleitor. 
O melhor de tudo é que basta ver quem é contra o Voto Distrital para saber que o dito cujo é da banda do coisa-ruim.
Participe deste verdadeiro exorcismo na vida pública nacional.
Repasse aos seus contatos.
Mobilize-se, faça acontecer esse expurgo.
Vade retrum, rabudos!
Et aspergatur locus aqua benedicta.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Um programa legal!

Brasileiros Honestos já têm compromisso agendado para o Dia 7 de Setembro. Eles sabem que não adianta protestar apenas na internet. O grito, agora, é nas ruas. Por isso, o Brasil Que Presta já se mobiliza para mostrar sua indignação.
Quem não aceita a ladroagem e entende que já passou da hora de dar um basta à corrupção, mãe e madrasta de todas as desgraças deste país, com certeza vai participar das várias manifestações programadas pelo Brasil afora.
A ideia é promover uma mobilização pacífica, civilizada, apartidária. É chegada a hora de tomar o partido da Ética. Então, nada melhor do que um programa legal: dentro da legalidade e em nome da lei para todos, contra a roubalheira e a impunidade.
Foi com a mobilização popular que o Brasil resgatou a democracia e conquistou o direito ao voto livre e direto. Agora, é o tempo de acordar o país para fazer valer essa conquista, sem dar trégua aos assaltantes do dinheiro público, traidores do povo e da democracia.
Em Belo Horizonte, o protesto acontecerá no dia 7 de setembro, a partir de 12 horas, na Praça da Liberdade.
Outra grande mobilização está prevista para o dia 20 de setembro, na Cinelândia, no Rio de Janeiro.  
Confira, aqui, no site Brasil + Ético, os eventos Anti-Corrupção já programados. 

domingo, 28 de agosto de 2011

Noves fora, zero para a Educação!


Mais quero asnos que me carreguem que cavalo que me derrube. Essa doutrina impera em feudos maranhenses, mas já galopa pelo Brasil da Era Lula, cujo legado é o país da douta ignorância. Que segue diplomando analfabetos funcionais e concede título de doutor honoris causa ao patrono da gandaia. 
Um vexame nacional: esse é o resultado da Prova ABC sobre a alfabetização no país, onde só 32% dos alunos das escolas públicas sabem somar e subtrair. Em nível de leitura, então, vá medir o tamanho da vergonha (basta clicar aqui).    
Ao cabo e ao fundo (sem diferir entre forma e fundo) vai-se instituindo a ignorância como (d)efeito a justificar cotas e bônus para estudantes contra a virtude do mérito de alunos que realmente estudam. 
Nesse trotar, improvável é o futuro do eterno país do futuro. Que o diga a Prova ABC. Mas já se vislumbra, por aí, quanta firmeza de opinião reservam esses brasileirinhos, e-leitores do Brasil de amanhã. A confirmar nas urnas o analfabeto político e o político analfabeto, sob as rédeas da corrupção do populismo trotador, upa!, upa! 


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Eu só duvido vendo


Quem não tem colírio e usa óculos escuros, escutou dona Dilma Rousseff, no lançamento do plano Brasil sem Miséria (veja aqui), ressaltar a participação dos governadores no combate à pobreza e declarar em relação aos escândalos que Lula deixou-lhe como herança:
"Quero reafirmar a importância do pacto que firmamos hoje. É o Brasil inteiro fazendo a verdadeira faxina que esse país tem que fazer: a faxina contra a miséria".
A ideia de faxina veio de encomenda da imprensa. A tal faxina não é assim uma Brastemp. Dona Dilma só faz espanar a poeira sem varrer o pó. Bota um lixinho para fora, mas retém o entulho dentro do governo.
A dita faxina é um embuste. Só tolo não vê. Só conivente acata. Dona Dilma não tem um plano de combate à corrupção (até porque é refém dos corruptos  avalizados por Lula). Não tem posição definida quanto aos fatos. Apenas  diz não se deixar pautar pela mídia. Mídia, no caso, entenda-se a minoria de uma imprensa livre fazendo o papel de dedo indicador ao denunciar a sujeira. O resto levanta o polegar. Ou o usa para bater o chamegão chapa-branca do jornalismo analfabeto político.
Falemos de faxina quando o bandido estiver na cadeia, a sentença transitar em julgado e o dinheiro surrupiado voltar aos cofres públicos. Não há faxina de miséria enquanto o governo não se limpa da corrupção parideira de todos os males, a miséria moral inclusive e principalmente.  
No caso de dona Dilma Rousseff, limpar-se da corrupção significa romper com os desvios do passado podre que Luís Inácio deixou-lhe em mãos. Se tal ruptura acontecer, me avisem. Enquanto isso, faxina é o escambau. O que há é uma velha modalidade de burla: demite-se o ladrão ou espera-se que ele peça demissão. Como se esse ato de confissão de culpa limpasse a ficha e o ambiente infectado pela corrupção acumulada nos batentes da imoralidade político-administrativa  escondida por Luís Inácio sob o tapete de seus dois mandatos. Com a qual entronizou sua sucessora.
Se dona Dilma Rousseff quiser mesmo fazer faxina, sabe muito bem por onde deveria começar. É uma questão de, digamos assim, prendas domésticas do Planalto. Mas aí eu só duvido vendo.

Lembranças do pai de todos os escândalos

AUGUSTO NUNES
Relator do processo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa informa que o prazo para a prescrição do crime de formação de quadrilha começou a ser contado a partir da aceitação pelo Supremo Tribunal Federal da denúncia da Procuradoria Geral da República. Nenhum dos acusados, portanto, poderá valer-se desse trunfo legal para escapar do julgamento previsto para março de 2012. O companheiro José Dirceu, por exemplo, não será julgado apenas por corrupção ativa. O STF terá de decidir o que fazer com o chefe da organização criminosa.
As lembranças do mensalão escavadas pelos repórteres Aiuri Rebello e Fernanda Nascimento, reunidas na seção História em Imagens, ajudam a refrescar a curta memória nacional. E reafirmam que o desfecho do processo que trata do pai de todos os escândalos da Era Lula dirá se o Brasil está a caminho do mundo civilizado ou do tempo das cavernas.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O futuro da nação

Universitários do País leem de 1 a 4 livros por ano
Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), 23,24% dos estudantes não leem um livro sequer durante o ano. De uma forma geral, a maioria dos universitários brasileiros não vai muito além disso: lê, em média, de uma a quatro obras por ano. É o que revela levantamento exclusivo feito pelo jornal O Estado de S.Paulo a partir de dados divulgados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
Numa realidade diametralmente oposta, os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) são ávidos por leitura: 22,98% deles leem geralmente mais de dez livros por ano. No Maranhão, um dos Estados mais pobres do País, esse índice é de apenas 5,57%.
No início do mês, a Andifes divulgou pesquisa feita com 19.691 estudantes de graduação de universidades federais de todo o País, apresentando números consolidados do panorama nacional. A partir do cruzamento de dados, foi possível mapear e distinguir os cenários regionais no tocante a hábitos de leitura, frequência a bibliotecas, domínio de língua inglesa e uso de tabaco, álcool, remédios e drogas não lícitas.
A UFMA, que lidera o ranking dos universitários que não leem nada, ficou em quarto lugar entre os menos assíduos à biblioteca da universidade – 28,5% dos graduandos não a frequentam. O primeiro lugar nesse quesito ficou com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio): metade de seus alunos esnoba o espaço.
Agência Estado (13.08.2011)