Eu diria que foi bom o ano se bem gastas foram as horas em quanto me gastei, em que medida vivi, me dividi e somei no trabalho, nas amizades, na família, no amor.
Suponho tenha sido bom o ano se meus sonhos e minhas vontades não se curvaram aos vícios ou virtudes com que esses mesmos sonhos e vontades foram, em quanto me gastei, contrariados pelo meu caráter sem me enfraquecer ou sem que de tudo me arrependesse. E se tudo me fez crescer apesar das objeções, do não e o talvez. E se não me conformei aos usos que vão com o tempo e as modas dissipando em nuvens vontades e sonhos.
Se o ano foi bom?
Suponho, tenha sido, se não me amesquinhei a favor ou contra a mesquinhez de um governo, de uma política, de um partido, de um salário, de uma religião ou crença a me ofuscar a visão como quem vive à custa e a reboque das opiniões do mundo feito massa, manada, multidão, com o coração e a mente manobráveis, valetudinário, pusilânime. Se não violentei minha natureza para vender meu peixe mais caro do que realmente valia nem falseei argumentos para aferir vantagem ou alimentar ilusões ou extorquir esperanças.
Suponho tenha sido bom o ano se não dei por funda esperança rasa, para frente, para trás ou de través a iludir-me de auto-confiança, se honestamente não caí de joelho diante de falsos deuses e ídolos de papel. E se dei a cada coisa dimensão, peso e medida pelo que realmente é e não pelo que aparenta ser, se não cedi a adulações nem acariciei máscaras de afetos deliberados que me tributaram falsas estimas. E se sentei-me à mesa igualmente grato em todas as horas do banquete de mil talheres ou do trivial repasto ou repouso.
Terá sido bom o ano se, inacessíveis a mim as cordilheiras himalaias, meus arremessos e escaladas não foram arrivismo, mas caminho e conquista, levados a passo lento que fosse, porém firme, sob calos meus e meus. Terá sido bom o ano se não disfarcei minha insegurança com indiferença nem se por orgulho julguei inteligência o equívoco de não reconhecer ou reparar os erros, pedir ou conceder uma chance de acertar, fingindo dominar sentimentos que, no fundo, fizeram-me refém da culpa.
Foi bom o ano?
Terá sido se, sob o manto ou à descoberta de minhas falhas e acertos tudo fiz e vivi se não à imagem de um deus ou para espelho de meus semelhantes, por redenção da minha humanidade e em razão da vida.
Feliz Ano Novo. Você tem toda a razão. Que bom que as minhas vontades não se curvaram aos vícios ou virtudes, contrariando meu caráter. Outro dia escutei um que gritava: "ninguém toca a minha personalidade". Achei genial. Beijos. Adriana.
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