segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mensagem à família

Na educação de nossos filhos

Todo exagero é negativo.

Responda-lhe, não o instrua.

Proteja-o, não o cubra.

Ajude-o, não o substitua.

Abrigue-o, não o esconda.

Ame-o, não o idolatre.

Acompanhe-o, não o leve.

Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.

Inclua-o, não o isole.

Alimente suas esperanças, não as descarte.

Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê exemplo.

Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.

Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.

Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.

Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.

Não lhe dedique a vida, vivam todos.

Lembre-se de que seu filho não o escuta, ele o olha.

E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...

Ensine-lhe a viver sem portas.

(EUGÊNIA PUEBLA)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O crime do professor de matemática

Professor de matemática de uma escola estadual na Baixada Santista (SP) é acusado de apologia ao crime por passar aos alunos do ensino médio problemas cujos temas são tráfico de drogas, prostituição, armas de fogo, furto de veículos (clique aqui, para ler a notícia).

Nas questões, o professor pergunta, por exemplo, qual a quantidade de pó de giz um traficante deverá misturar para ganhar 20% na venda de 200 gramas de heroína ou quantos clientes cada prostituta deverá atender para que o cafetão compre uma dose diária de crack.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs rezam que os conteúdos sejam adaptados e contextualizados com a realidade do aluno para garantir-lhe uma educação de qualidade. O final feliz dessa história seria a sua integração na sociedade moderna como cidadão consciente, responsável, atuante, crítico.

Infeliz foi o professor ao retratar, em sua prática, realidade mais real que a do país de Cocanha. Tráfico de drogas, prostituição, armas de fogo, crime? Ora, isso só se vê na TV, na internet, na imprensa, no cinema, não na realidade dos alunos.

A realidade do aluno brasileiro está no ENEM. Este sim, um teste real para um país ideal. Uma avaliação inclusive blindada contra fraudes do tipo furto e vazamento de provas - crimes que facilmente não acontecem na realidade, não é mesmo?

Pode alguém questionar o viés ideológico na proposta do professor, alegar que os fatos abordados nos problemas de matemática estejam até contextualizados em uma realidade maior e mais abrangente, da qual os alunos fazem parte. Porém, que não é parte do cotidiano deles e, portanto, estaria o professor incitando ao crime.

Ou ainda, como disse ex-aluna do professor, que se o problema fosse do tipo “Joãozinho comprou um doce” ninguém iria prestar atenção, portanto o professor, longe de estimular o crime, foi mal interpretado. 

Mas dentro das escolas está a realidade e não uma abstração que a escola devolve à sociedade. Esses jovens estudantes, no futuro, se sobreviverem a essa realidade, dela se encarregarão como trabalhadores, líderes, dirigentes, políticos, um presidente da república, quem sabe. Como e-leitores, enfim.

Imagino se o problema fosse de outro tipo, no exemplo dado a seguir. O enunciado pode parecer longo, mas está adequado à proposta do ENEM que é “apresentar uma situação-problema para o estudante pensar e buscar a solução”, contextualizada como “uma estratégia para estabelecer relações entre o conhecimento e o mundo que nos cerca, envolvendo, portanto, questões sociais, políticas, culturais e mesmo aquelas relacionadas ao nosso cotidiano”. Eis o problema:

“Zé Dirceu do PT era ministro da Casa Civil no governo Lula e comandava um esquema de corrupção conhecido como mensalão. Consistia em pagar propina a deputados para aprovarem no Congresso os projetos do governo. Cada deputado recebia R$ 30 mil reais em média, e houve até assessor de deputado que foi preso em aeroporto com U$ 100 mil dólares na cueca. A Justiça aceitou a denúncia contra 40 acusados e definiu o esquema como uma “sofisticada organização criminosa”. O processo é longo e o crime pode prescrever. Sabe-se que das 33 ações penais abertas pelo Supremo Tribunal Federal desde 1996 contra políticos com foro privilegiado, 13 prescreveram e foram extintas. Considerando que a demora no julgamento do processo beneficia os acusados e por isso os crimes políticos ficam impunes, qual é a probabilidade de que sejam todos devidamente condenados?”

Em problema dessa natureza, quem estaria fazendo a apologia ao crime?

O professor?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Interpretação de texto

Na sala de aula, a professora analisava com seus alunos o famoso poema de Carlos Drummond de Andrade:

"No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho.
E eu nunca me esquecerei
Que no meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho."

Depois de explicar exaustivamente que ao analisarmos um poema podemos detectar as características da personalidade do autor, implícitas no texto, a professora pergunta:

– Joãozinho, qual a característica de Carlos Drummond de Andrade que você pode perceber neste poema?

– Uai, fessora, eu tô matutando aqui: ou ele era traficante ou usuário.

Menos que conversa

Vá lá.

Eu quereria o inédito de uma hora para gastar com o clichê de curtir a vida porque a vida é curta.

Nem curta nem curtida, tudo é mais do que suspeita a vã promessa ou filosofia. É menos também.

Mas escrevo para aparecer.

Aparecer para mim, dizer oi, como vai, vamos dar um rolê eu-e-você.

Não me agradecem meus dedos genuflexos.

Menos cansados que arrependidos ficarão de teclar bolinando o desabafo, essa tecla surda.

Eu poderia apenas dizer e deixar a palavra no vácuo, no acaso, na concha oracular dos silêncios.

Na vida a me escapar entre os dedos.

Ou beber um bom vinho sem me expor a uma audiência comigo em particular.

No fundo as coisas simples da vida vão compungindo as rasquices do tempo.

Que passou armando ciladas para o coração – e ora se reconhece de repente envelhecido.

E envilecido de pesares maduros, verdes por fora e por dentro azedos como limões.

Não faço deles a limonada nem dos apesares a certeza das miragens ou a ilusão do verniz sobre a juventude que fui vincando à unha para abrir caminho às rugas tão leais à experiência.

No fundo, no fundo o tempo perdido é esperança perdida.

Noves fora, os temores e as prudências fizeram bem comportados os impulsos da juventude e converteram em limites a inquietude do corpo e da alma.

Tenho do que me arrepender e o arrependimento é só a fraqueza de não ter tentado.

A força de ter vencido é jamais suficiente para convencer da derrota de não tentar.

Os sonhos já não gravitam como satélites ao meu redor, sob a influência das ilusões ou dos planetas.

Nem despencaram em abismos absolutos.

Diluíram-se na nebulosa em que oculto as debilidades de minha única vitória sobre mim.

Não fiz mal a ninguém, senão a mim.

Não há nisso amor ou felicidade, mas já é um consolo.

Sob o qual todas as presunções perdem a força.

Sob o qual resta um futuro que ainda é sonho.

E por isso mesmo não contenta nem basta.

A little less conversation

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Homem-mulher e música

A evolução da relação homem-mulher através de músicas que marcaram época.

Década de 30:
Ele, de terno cinza e chapéu panamá, em frente à vila onde ela mora, canta:
“Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa! Do amor por Deus esculturada.
És formada com o ardor da alma da mais linda flor,
de mais ativo olor, na vida é a preferida pelo beija-flor...”

Década de 40:
Ele ajeita seu relógio Pateck Philip na algibeira, escreve para a Rádio Nacional e, manda oferecer a ela uma linda música:
“A deusa da minha rua, tem os olhos onde a lua, costuma se embriagar.
Nos seus olhos eu suponho,que o sol num dourado sonho,
vai claridade buscar...”

Década de 50:
Ele pede ao cantor da boate que ofereça a ela a interpretação de uma bela bossa:
“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça,
É ela a menina que vem e que passa, no doce balanço a caminho do mar.
Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema.
O teu balançado é mais que um poema,
É a coisa mais linda que eu já vi passar.”

Década de 60:
Ele aparece na casa dela com um compacto simples embaixo do braço, ajeita a calça Lee e coloca na vitrola uma música papo firme:
“Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar
e o infinito não é maior que o meu amor, nem mais bonito.
Me desespero a procurar alguma forma de lhe falar,
como é grande o meu amor por você...”

Década de 70:
Ele chega em seu fusca, com roda tala larga, sacode o cabelão, abre porta pra mina entrar e bota uma melô joia no toca-fitas:
Foi assim, como ver o mar,
a primeira vez que os meus olhos
se viram no teu olhar...
Quando eu mergulhei no azul do mar,
sabia que era amor e vinha pra ficar...”

Década de 80:
Ele telefona pra ela e deixa rolar um:
Fonte de mel, nos olhos de gueixa,
Kabuki, máscara.
Choque entre o azul e o cacho de acácias,
luz das acácias, você é mãe do sol. Linda...”

Década de 90:
Ele liga pra ela e deixa gravada uma música na secretária eletrônica:
“Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz.
Mas já não há caminhos pra voltar.
E o que é que a vida fez da nossa vida?
O que é que a gente não faz por amor?”

Em 2001:
Ele captura na internet um batidão e manda pra ela, por e-mail:
“Tchutchuca! Vem aqui com o teu Tigrão.
Vou te jogar na cama e te dar muita pressão!
Eu vou passar cerol na mão, vou sim, vou sim!
Eu vou te cortar na mão!
Vou sim, vou sim! Vou aparar pela rabiola! Vou sim, vou sim!”

Em 2002:
Ele manda ver pelo ringtone do telefone celular:
“Só as cachorras! Hu Hu Hu Hu Hu!
As preparadas! Hu Hu Hu Hu!
As popozudas! Hu Hu Hu Hu Hu!”

Em 2003:
Ele a chama para dançar no meio da pista:
“Pocotó pocotó pocotó...minha eguinha pocotó!

Em 2004:
Ele chega junto no baile:
“Ah! Que isso? Elas estão descontroladas! Ah! Que isso? Elas Estão descontroladas!
Ela sobe, ela desce, ela dá uma rodada, elas estão descontroladas!”

Em 2005:
Ele resolve mandar um recado para ela:
“Hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bundalelê!”

Em 2006:
Ele a chama pra dar umas pegadas ao som de:
“Tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha!!!
Calma, calma foguetinha!!! Piriri Piriri Piriri, alguém ligou pra mim!”

Em 2010:
Ele encosta o carro com o porta-malas abarrotado de caixas de som no máximo volume:
“Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás.
Pra que você quer saber?
Eu sou o lobo mau, au, au
Eu sou o lobo mau, au, au
E o que você vai fazer?
Vou te comer, vou te comer, vou te comer,
Vou te comer, vou te comer, vou te comer,
Vou te comer, vou te comer, vou te comer.”

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A casa


A casa foi demolida.

Quem se importa?

O último a sair foi o tio inventariante quem cuidou do alvará de demolição.

Lá ficaram, abandonadas, as histórias que os fantasmas vão contar, cada qual num canto.

Talvez reunidos, orquestrando estranhas liras, as rabecas de seus rancores e mágoas, reclinados em invisíveis cadeiras de balanço daquela que foi a soturna sala de estar.

Para onde um menino correu a se esconder atrás da porta, donde viu o pai desertor ir embora para sempre e a mãe enlouquecida arrancar os cabelos e atear fogo às roupas naquele dia eternamente fechado em segredos de uma história por contar.

O tempo se encarregou de tudo a seu modo.

Tomou conta do jardim, deixou sentimentos encanteirados em fundas raízes de flores rasteiras e miúdas pisadas por um cão indócil.
    
Quando cheguei para ver, a casa era ruína.

Era uma hora sombria, engastada em silêncio e pó dos monturos.

De longe vi a casa.

Era como se ela me esperasse, eu senti.

Para um acerto de contas já impossível.

O espólio da saudade e do arrependimento tardio – se havia, se houve – deixou um inventário de perdas. E danos a que muita lágrima não deu alívio nem liquidou as faturas dos remorsos encortinados sob os gentis retratos do salão, as cabeças baixas à mesa do jantar, a tortura das convenções e etiquetas.

Escombro, poeira, restos amontoados no chão.

A fachada ainda de pé, esperando, como todas as fachadas se mantêm e esperam.

Alguma alegria contida, algum farrapo de sonho outrora encarcerado, o choro e as vozes abafadas dentro da casa, nas paredes, nos quartos, agora livres de exortações e reprimendas, senões e sinas. Dos atavios da família desfeita.

Quem não foi afligido?

Ninguém ali foi feliz.

Se foi, agora o que importa, quem vai dizer?

As lembranças pesam sobre todos os sobrevivos como vigas mal amarradas de um teto prestes a desabar, a que seríamos obrigados a suportar para sempre.

Mesmo demolida não abandonamos a casa.

Nem ela a nós.

Tem vida própria e em nós vive.

Com tudo o que de nós ali abrigamos e o que de resto restou.

Afastei-me devagar, o olhar caído.

No meio de tudo descobri os cacos de um espelho.

Que refletiam meus olhos exatamente quando me perguntei quem me odiava tanto.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O padre e o político

Certo padre recebia um jantar de despedida pelos 25 anos de trabalho ininterrupto à frente de uma paróquia.

Um político da região, membro da comunidade, foi convidado para entregar o presente e proferir um discurso.

O político estava demorando a chegar. O sacerdote, então, decidiu proferir umas palavras:

“– A primeira impressão que tive da paróquia foi com a primeira confissão que ouvi.

Pensei que o bispo me tinha enviado a um lugar terrível, pois a primeira pessoa que se confessou disse que tinha roubado uma televisão; roubado dinheiro aos seus pais; que tinha desviado fundos da empresa onde trabalhava, além de ter aventuras amorosas com a esposa do chefe; que em outras ocasiões se dedicava ao tráfico e venda de drogas; e ainda confessou que tinha transmitido uma doença à própria irmã.

Fiquei assustadíssimo… Mas com o passar do tempo, entretanto, fui conhecendo mais gente que em nada se parecia com aquele homem… Inclusive vivi a realidade de uma paróquia cheia de gente responsável, com valores, comprometida com a sua fé. E desta maneira tenho vivido os 25 anos mais maravilhosos do meu sacerdócio”.

Foi então que nesse momento chegou o político, e foi lhe dada a palavra para que entregasse o presente da comunidade, prestando a homenagem ao padre.

Pediu desculpas pelo atraso e começou o discurso dizendo:

“– Nunca vou esquecer do dia em que o padre chegou à nossa paróquia… Tive a honra de ser o primeiro a me confessar a ele…”

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dos contos do reino


Ia a Rainha de Jabá a passear de carruagem com um de seus ministros punguistas.
De repente, deu-se um tremendo apagão.
Mais tremendo que o apagão foi o peido, daqueles de cair o cu da bunda, que um dos cavalos soltou.
A Rainha de Jabá nem ligou o facho. Para segurar a panca, disse ao ministro:
– Oh, não sei como isso aconteceu.
E o ministro parlapatão, sem se atordoar pelo estertor dos gases porque tão acostumado estava aos beija-cus de praxe:
– Não se incomode, Majestade, pensei que tivesse sido o cavalo!
Quanto ao apagão, mais que a luz dos lampiões faltou a luz da consciência em primeira – e única – hipótese.
A falta de luz no reino nem é por causa da ignorância ou da ingenuidade dos súditos e a cumplicidade dos acólitos.
É da ilusão mesmo. Que faz o olho da cara mais cego que o olho do cu.
Logrado em sua ilusão, ainda assim o povo não viu.
No que acham bem bom a rainha e seus ministros, porque quanto menos o povo vê, mais se furta.
Um cego de nascença foi quem disse:
– Só no paraíso tem luz para todos, neste reino é que nunca.
Ninguém ouviu, cada um e todos conformados em sua ilusão, miopia ou conveniência.
O pior cego é o que não quer ouvir.
Em tempo de treva, cada qual agarre sua vela.
E toque a rezar que mais treva há de vir.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A vitória nossa de cada dia

Clarice Lispector

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.

Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.

Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.

Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.

Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

(Do livro "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres")

Balanço

“O Olimpo e os seus habitantes cabem nesta palavra: infância. A mocidade é já velhice, política, profissão, e uma certa loucura em que ardem ignobilmente os últimos farrapos do nosso ser divino. A infância é uma saudade e a mocidade um remorso”.

(Teixeira de Pascoaes, Duplo Passeio)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Síndrome de Jerusalém

É um transtorno mental, quando a pessoa acredita ser um personagem bíblico.
A doença foi identificada em 1982 pelo Dr.Yair Bar-El, direitor do hospital psiquiátrico de Jerusalém, onde foram tratados o rei David, Sansão, Jesus e a Virgem Maria.
O termo altamente evocativo poderia ser usado para descrever qualquer pessoa que acredite ser o salvador – de uma empresa, por exemplo, de uma equipe esportiva, de qualquer organização ou instituição.
Ou de um país.
Já conhecemos essa aplicação do termo.
E o que acontece quando a Síndrome de Jerusalém é agravada por uma sociopatia.
O sociopata parece um tipo afável, carismático, mas é egocêntrico, despreza as leis, as regras e as obrigações, não tolera frustrações.
É previsível o que em geral acontece quando a veneração acaba.

O cara aí já se comparou ao Próprio em várias ocasiões

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Enem e a balada do movimento estudantil


O Enem dos dois últimos anos foi um “projeto piloto”.

É isso que só agora, depois das trapalhadas a bordo dos dois mau pilotados exames, veio a público dizer Malvina Tuttman, nova diretora do Inep, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais responsável pelas provas.

A esculhambação do Enem-Sisu e a permanência de Fernando Haddad no cargo de ministro da Educação ainda resistem à prova da incompetência porque estudantes brasileiros não têm uma entidade que, de fato, os represente.

Tinham a UNE, a União Nacional dos Estudantes.

A UNE ficou pianinha na aba de Lula. E nem miudinho vai piar na aba de Dilma Rousseff.

Ao fim do mandato, Lula destinou R$ 57,5 milhões dos cofres públicos para a entidade. O dinheiro foi dado a título de indenização, vez que a sede da UNE, no Rio de Janeiro, foi destruída no ano de 1964.

A UNE, consta, pretende construir nova sede de 13 (número sugestivo, não?) andares. O prédio é projetado por Oscar Niemeyer. Orçado em R$ 40 milhões, incluiria um teatro, um memorial e a sede da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas.

Resta saber que necessidade tem a UNE desse portento arquitetônico.

O préstimo da UNE hoje caberia numa sala comercial.

Basicamente tornou-se uma repartição cujo expediente é emitir carteirinhas estudantis de meia-entrada para cinema e show de sertanejo “universitário”.

Diferente da UNE que era uma entidade militante, com destacada história de enfrentamento do poder, na resistência política dos anos 60, nos movimentos culturais e estudantis de ideologia esquerdista.

OK, foi mal. Já sei: falar de “esquerda” nesse país é tão cafona quanto dizer cafona. Ah, sim, e quanto às ideologias e o ativismo abraçados, at long time ago, por estudantes que punham o bloco na rua a serviço da liberdade. Agora, servos do poder.

Hoje a UNE defende que o governo – isto é, o dinheiro público – financie a entidade para que ela mantenha boas relações com o governo.

Por ‘boas relações’ entenda-se até protesto contra a criação de uma CPI para investigar irregularidades da Petrobras no governo Lula. A manifestação aconteceu em 2009, durante o 51º Congresso da UNE. Quem patrocinou o congresso? A Petrobras. Nada a ver com aquela, outrora, combativa agremiação.

É a nova categoria emergente: a “burguesia” estudantil financiada com dinheiro público.

Movimento estudantil? Só na balada.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A sabedoria de Salomão

Arqueólogos da Universidade de Jerusalém descobriram em Megido uma pedra de basalto com uma inscrição antiga referente ao rei Salomão.
Eis a tradução de parte do texto:
“(...) Então as duas mulheres agarraram o jovem, se dirigiram ao rei, e se puseram diante dele.
E disseram-lhe as mulheres:
‘Ah, meu senhor! Somos viúvas e moramos na mesma casa, e temos, cada uma, uma filha. Ora, este jovem mancebo enamorou-se de nossas filhas, e sem que a outra soubesse, prometeu casar-se com cada uma delas.’
Assim falaram perante o rei.
Então disse o rei: Tragam-me uma espada.’ 
E trouxeram uma espada diante dele.
E disse o rei:
‘Dividam em duas partes o jovem, e deem a metade a uma, e metade à outra.’
Mas uma mulher clamou e disse:
‘Ah, meu senhor! Dê à filha de minha companheira o jovem, e de modo nenhum derrame sangue.’
A outra, porém, disse:
‘Cortem-no ao meio.’
Respondeu, então, o rei:
‘Que o jovem se case com a filha desta segunda mulher.’
Disseram então os conselheiros do rei:
‘Ó rei. Mas ela quer que ele seja cortado ao meio!’
Respondeu o rei:
‘Isto prova que ela é a verdadeira sogra!’
Então todos admiraram a sabedoria do rei Salomão!”