Vá lá.
Eu quereria o inédito de uma hora para gastar com o clichê de curtir a vida porque a vida é curta.
Nem curta nem curtida, tudo é mais do que suspeita a vã promessa ou filosofia. É menos também.
Mas escrevo para aparecer.
Aparecer para mim, dizer oi, como vai, vamos dar um rolê eu-e-você.
Não me agradecem meus dedos genuflexos.
Menos cansados que arrependidos ficarão de teclar bolinando o desabafo, essa tecla surda.
Eu poderia apenas dizer e deixar a palavra no vácuo, no acaso, na concha oracular dos silêncios.
Na vida a me escapar entre os dedos.
Ou beber um bom vinho sem me expor a uma audiência comigo em particular.
No fundo as coisas simples da vida vão compungindo as rasquices do tempo.
Que passou armando ciladas para o coração – e ora se reconhece de repente envelhecido.
E envilecido de pesares maduros, verdes por fora e por dentro azedos como limões.
Não faço deles a limonada nem dos apesares a certeza das miragens ou a ilusão do verniz sobre a juventude que fui vincando à unha para abrir caminho às rugas tão leais à experiência.
No fundo, no fundo o tempo perdido é esperança perdida.
Noves fora, os temores e as prudências fizeram bem comportados os impulsos da juventude e converteram em limites a inquietude do corpo e da alma.
Tenho do que me arrepender e o arrependimento é só a fraqueza de não ter tentado.
A força de ter vencido é jamais suficiente para convencer da derrota de não tentar.
Os sonhos já não gravitam como satélites ao meu redor, sob a influência das ilusões ou dos planetas.
Nem despencaram em abismos absolutos.
Diluíram-se na nebulosa em que oculto as debilidades de minha única vitória sobre mim.
Não fiz mal a ninguém, senão a mim.
Não há nisso amor ou felicidade, mas já é um consolo.
Sob o qual todas as presunções perdem a força.
Sob o qual resta um futuro que ainda é sonho.
E por isso mesmo não contenta nem basta.
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