sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dos contos do reino


Ia a Rainha de Jabá a passear de carruagem com um de seus ministros punguistas.
De repente, deu-se um tremendo apagão.
Mais tremendo que o apagão foi o peido, daqueles de cair o cu da bunda, que um dos cavalos soltou.
A Rainha de Jabá nem ligou o facho. Para segurar a panca, disse ao ministro:
– Oh, não sei como isso aconteceu.
E o ministro parlapatão, sem se atordoar pelo estertor dos gases porque tão acostumado estava aos beija-cus de praxe:
– Não se incomode, Majestade, pensei que tivesse sido o cavalo!
Quanto ao apagão, mais que a luz dos lampiões faltou a luz da consciência em primeira – e única – hipótese.
A falta de luz no reino nem é por causa da ignorância ou da ingenuidade dos súditos e a cumplicidade dos acólitos.
É da ilusão mesmo. Que faz o olho da cara mais cego que o olho do cu.
Logrado em sua ilusão, ainda assim o povo não viu.
No que acham bem bom a rainha e seus ministros, porque quanto menos o povo vê, mais se furta.
Um cego de nascença foi quem disse:
– Só no paraíso tem luz para todos, neste reino é que nunca.
Ninguém ouviu, cada um e todos conformados em sua ilusão, miopia ou conveniência.
O pior cego é o que não quer ouvir.
Em tempo de treva, cada qual agarre sua vela.
E toque a rezar que mais treva há de vir.

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