segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Quinze minutos de infâmia?


No futuro todos terão direito a 15 minutos de fama, profetizou Andy Warhol, o artista que pintou ícones do cinema, como Marilyn Monroe, e produtos norte-americanos famosos como garrafas de coca-cola.
A previsão do artista se confirmou com as chamadas celebridades instantâneas. Aquelas pessoas anônimas que ganham notoriedade repentina, por causa de algum escândalo ou algum fato de repercussão na mídia, a exemplo dos fênomenos da Internet. Essas celebridades-relâmpago costumam voltar ao anonimato da mesma maneira – ou até pior – que dele saíram. Algumas são inofensivas, nem duram o tempo da estação.
Na posse da presidente Dilma Rousseff, a esposa do vice Michel Temer, ex-miss Marcela Temer, roubou (calma, é apenas força de expressão) a cena. Instantaneamente atraiu os flashes e ofuscou a estrela vermelha do PT vestida de branco.
Logo após a posse de Dilma, foi a vez da família Lula da Silva ganhar (mais uma vez) os noticiários por causa de fatos nada meritosos. Os filhos de Lula receberam de presente passaporte diplomático sem motivo justificável, senão o de facilitar-lhes as viagens ao exterior. A seguir, foi a família toda passar férias à custa de dinheiro público, no Forte dos Andradas, uma reserva militar do Guarujá. Segundo consta, “a convite do Ministério da Defesa”, o que tornaria legal a hospedagem.
No estrelato dos Lulinhas, a ascensão foi mais que meteórica. De “pobres” que eram em 2003 saltaram milionários para 2011, donos de seis empresas. Um deles mora em apartamento cujo aluguel de R$12 mil reais é pago por um anônimo amigo dono do grupo Gol, de empresas que têm contratos com o governo, sócio do Lulinha Fábio Luís na Gamecorp. Tudo isso sob as benesses de papai, o filho do Brasil que confunde governar com ser dono do país. O mesmo Lula que tanto enxovalha “as elite” quando lhe falta argumento e razão para explicar imoralidades administrativas como a farra dos cartões corporativos e o mensalão, sem o mínimo de decoro de se repimpar por conta do erário.
Outra faceta da fama e da popularidade de Lula evidenciou-se pouco antes de deixar a presidência, quando decidiu não extraditar o assassino Cesare Battisti, condenado pela justiça italiana. Os fatos já renderam páginas e páginas nos noticiários e até mesmo dada a frequência com que foram expostos, podem parecer mais distantes do interesse público que a aparição de uma celebridade instantânea como Larissa Riquelme, a modelo que ficou mundialmente famosa porque assistia aos jogos da Copa da África com um celular entre os seios. Ou a reprise de um BBB global com novas figurinhas carimbadas com o tempo de duração da passagem de um cometa.
O futuro chegou e o reverso do epigrama de Warhol equivale a dizer que todos terão quinze minutos de infâmia, ao passar por uma experiência vexatória, uma humilhação ou constrangimento. Isso é possível porque a tecnologia pode tornar pública a vida de qualquer um. O olhar penetrante da mídia pode escancarar um deslize, um relaxo ou um malfeito – para usar uma expressão do repertório de Dilma Rousseff, e pronto, realizam-se os quinze minutos da profecia. Acontece que alguns escândalos permanecem, renitentes para além do tempo tolerável senão à solução, ao opróbrio que merecem.
Acontece também que fama e popularidade duradouras têm um custo e manter-se no centro das atenções exige mais que disposição de ânimo. Exige mais do que o “encanto” de declarações bonachonas e de histrionismos no circo do poder. Não deve ser por isso que Lula faz por prolongar os oito anos de poder e fama com mais infâmias. Como se não bastasse o besteirol somatizado ao longo de dois mandatos espetaculosos pelo talento de iludir com a bufonaria de que não sabia de nada.   
No Brasil, já se disse, não tem escândalo que dure 24 horas. Até porque, no circo político mal estoura um escândalo logo vem outro ocupar a cena e tudo não passa de altercação. Resta um vaudeville de infâmias, à burla da lei, onde o mau gosto e um mal ajambrado script se repetem a cada eleição, a cada governo com a canastrice irremediável dos maus atores. Que nem se lixam para a opinião pública e o reproche da plateia, como já declamou um deles, o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), sob acusação de desviar dinheiro público. Ele ganhou, além de notoriedade, um novo mandato. “Vocês batem, mas a gente se reelege.”, declarou no ato da comédia de horrores.
Tem sido assim no teatro político onde a tragicomédia dos maus costumes vai ampliando a galeria das infâmias. Se a fama é o mais duradouro dos túmulos, o que dizer da infâmia? Que a terra lhe seja leve, Lula.

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