Imagine que você tem 12, 13
anos. Está em plena idade que os franceses apropriadamente chamam de l’âge bête. Você sabe que seu
colégio não pode reprovar ninguém, sabe que a aprovação é automática. Fala
sério, você vai queimar as pestanas em cima dos livros?
Mais tarde um pouco, ao
escolher se vai ou não para a faculdade, você, se é aluno de uma escola do
Estado, sabe que tem vagas garantidas e, portanto, vai continuar a poupar suas
pestanas. E se é aluno de uma escola privada, vai ficar desestimulado pois sabe
que pelo menos 50% das vagas já têm dono.
Sim, esse é o novo sistema
de cotas: 50% das vagas serão disputadas por todos os vestibulandos. As
vagas restantes – lembrem-se, os outros 50% - irão para os alunos das escolas
públicas.
Será que algum burocrata
pensou na qualidade das turmas nas faculdades? E nos professores que terão que
lidar com o aluno chegado de uma escola Triplo A sentado ao lado de outro de
uma escola que era indigente até em giz?
Tudo isso com que intuito?
Fazer justiça social à custa de nossos jovens? Não era melhor e muito mais
decente reformar nosso sistema de ensino e transformar nossas escolas públicas
em ilhas de excelência?
E que não me venham com a
‘direita nefasta’ contra a ‘brava esquerda’ dedicada ao bem comum. Pois nenhuma
das duas cuidou do essencial - da Educação. Caso contrário hoje estaríamos
a meio caminho de uma situação como a da Coreia do Sul que levou 20 anos – uma
geração completa – mas saiu do atraso feudal que a envergonhava.
Ao ler sobre essa nova
absurda quantidade de cotas destinadas a quem não tem culpa de nada e que vai
continuar sem saber o que lhe aconteceu, fico tentando imaginar o que se passou
na cabeça dos burocratas que mangicaram
essa barbaridade.
Jurar não posso, mas quer
me parecer que eles acharam mais fácil e menos trabalhoso diminuir as
exigências na hora do ingresso na faculdade. Os pais vão ficar felizes – meu filho está na faculdade!
– e o Estado está livre de explicar porque a maioria não passa no exame de
acesso. Que pode continuar a ser haddadiano,
afinal, as cartas já estão marcadas.
O curioso – será? – é que
nós já tivemos escolas públicas da melhor qualidade. Não conheço de outros
estados, por isso peço permissão para citar apenas escolas do Rio: Pedro II,
André Maurois, Amaro Cavalcanti, Desembargador Oscar Tenório, Soares Pereira, e
muitas outras. Ser professor de Escola Pública e fazer carreira no Estado era
uma honra. A cidade conhecia e valorizava seus mestres.
Faziam parte da elite
quando ser da elite significava ser o ‘que há de mais valorizado e de melhor
qualidade em um grupo social’.
Será que hoje, ao
contrário, quanto mais rasteiro, melhor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário