Já não é de hoje que se
promove o tal indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB), segundo o qual a
medição do progresso de uma comunidade ou nação não deve ficar restrita ao
desenvolvimento econômico, mas deve avaliar o bem-estar psicológico, a saúde, o
uso equilibrado do tempo, a vitalidade comunitária, educação, cultura,
resiliência ecológica, governança e padrão de vida.
Acredito que pouca gente
seja contra a sociedade perseguir individualmente tais objetivos, mas há dois
perigosos elementos do discurso pelo FIB: (1) a prosperidade econômica é uma
imposição maléfica que deve ser "sanada" e (2) é necessário promover
uma mudança social em prol do bem-estar coletivo em parceria, também, com o
governo.
Isso reforça o mito de que
a economia é um corpo estranho e danoso para a sociedade. E que o mercado é
formado por um grupo pequeno de grandes empresas que controlam tudo e a todos,
e não por cada de um de nós, do pipoqueiro ao consumidor até os grandes
empresários. O mercado somos nós.
O segundo ponto talvez seja
mais grave por reforçar uma certa agenda política que faz uso da palavra
coringa "social" com o objetivo de legitimar suas finalidades.
Como, no Brasil, movimento
social é algo que está (ou quer estar) intimamente ligado ao governo, de
preferência financiado pelo nosso dinheiro, temo que seus defensores virem mais
um braço do partido no poder a defender o modelo estatista, que está na origem
do horror contra o mercado e a iniciativa privada.
Talvez soe bonito acusar o
crescimento econômico pelos males do mundo e pelos problemas que inviabilizam
ou destroem aqueles nove pontos descritos pelo indicador.
Mas pergunte a cada uma das
pessoas que vivem nas diversas escalas da pobreza para saber se elas conseguem
perseguir tais objetivos sem, antes, prosperar economicamente.
Atribuir ao Estado
responsabilidades que são individuais faz com que a elite política no poder
acredite realmente estar cumprindo uma nobre missão em nome de bem-comum, do
coletivo, nem que para isso seja preciso esmagar a sociedade. Não se engane: a
tutela estatal é uma espada de Dâmocles.
Se levarmos em conta o que
acontece quando o governo desenvolve novas funções a partir da expropriação das
riquezas que produzimos (no Brasil, trabalhamos de janeiro a maio só para pagar
tributos), certamente a Felicidade Interna Bruta terá que alterar seu nome para
outro bem menos alegre.
Por uma dessas ironias da
história, a FIB foi criada em 1972 por Jigme Singya Wangchuck, rei daquele
pequeno país chamado Butão.
Essa nação aparece no 141º
lugar (de 187) do Índice de Desenvolvimento Humano 2011 da ONU, em 142º lugar
(de 183 países) na lista do Doing Business de 2012, que mede a facilidade de
fazer negócios, e em 111º lugar (de 179 países) na lista do Índice de Liberdade
Econômica 2012 da Heritage Foundation (qualificado como país não livre, como o
Brasil).
Certamente, a Felicidade
Interna Bruta do rei de Butão era mais elevada do que a dos seus súditos.
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