sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Velho novo diálogo

Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault. Colbert foi ministro de Estado e da economia do rei Luís XIV. Era o administrador da fortuna de Mazarino, cardeal e estadista italiano que serviu como primeiro ministro na França, um colecionador de artes e joias, principalmente diamantes.
“Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço…
Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então como havemos de fazer?
Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável.” 

2 comentários:

  1. meu. deus.
    parece que não há saída para quem está no meio, apertadinho, sufocado entre o roubo e a reposição. e sobre a 'inesgotabilidade'... foi genial.

    só não tão belo e genial porque aplica-se a humanos. quem sabe uma fonte de energia eterna, um amor eterno, a justiça eterna?... o roubo eterno, a exceção da beleza do eterno, é maldito.

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  2. um último tiro:
    quanto maior o meio, maiores as sobras.

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