terça-feira, 31 de julho de 2012

"The Supremes"

Vera Magalhães (Jornal Folha de S.Paulo, 31/07/2012)
A partir de quinta-feira, a Olimpíada de Londres ganhará concorrência na TV e no noticiário de sites e jornais: a cobertura extensiva de um inédito julgamento de 38 réus de uma vez na mais alta corte de Justiça do país.
Mais de 500 jornalistas foram credenciados para relatar as sessões do mensalão, que vão se arrastar, como um reality show, por semanas a fio.
Transformados em estrelas de uma espécie de "Show de Truman" judiciário, os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal experimentarão uma overdose da exposição que passaram a ter desde o advento da TV Justiça, que transformou rostos desconhecidos em figuras públicas.
Vários membros do STF relatam casos em que já foram abordados na padaria ou em voos com perguntas do tipo: "E aí, quando vocês vão julgar o mensalão?''. Esse tipo de cobrança anônima, somada à pressão da opinião pública, contribuiu para que o julgamento fosse marcado para agora, em pleno período eleitoral.
A TV Justiça e uma preocupação em "arejar" o STF, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso, fizeram com que a corte tenha, hoje, um perfil menos vetusto e mais sensível à chamada voz rouca da rua.
Não à toa, Ricardo Lewandowski, o revisor do mensalão, disse em 2007 que muitos ministros votaram "com a faca no pescoço'' pela abertura da ação penal que agora será julgada.
Essa atenção inédita sobre uma corte antes impermeável ainda será sentida em decisões como a do ministro José Antonio Dias Toffoli, que, até agora, não disse se vai se considerar suspeito de votar, dado o seu histórico de advogado do PT e ex-assessor de José Dirceu, réu no caso.
Houve quem sugerisse proibir imagens no plenário. Na semana passada, advogados tentaram impedir o uso dessas cenas na campanha eleitoral. O problema é que, uma vez exposto à luz do sol, o Supremo não pode mais fechar as persianas.
"The Supremes", o show, estreia quinta-feira, na TV aberta e fechada.

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