Guilherme
Menezes*
Tá na hora do povo começar
a valorizar matemática.
Quando escolhi fazer
Ciência da Computação, fui obrigado a ouvir de alguém o absurdo de que eu
passaria o resto da minha vida instalando Windows.
Aqui, ouço os chineses
dizerem que eles querem que os filhos e filhas sejam engenheiros, antes de
qualquer outra profissão.
Parece que vivemos em um
mundo em que as coisas são construídas por mágica. No supermercado, os produtos
aparecem magicamente na prateleira. Você abre a torneira e sai água. Existe um
esforço deliberado para separar o processo do produto.
Vivemos no mundo em que
você pode conseguir qualquer coisa comprando um livro e seguindo 7 simples
passos. Sem esforço. Você abre a torneira e aprende a consertar seu
relacionamento.
No Brasil, especificamente,
vivemos no mundo em que você quer fazer uma empresa sem pagar nem valorizar
direito seus engenheiros, usando mão de obra de estagiários. Não sei porque os
juros são altos, o Brasil é o país do retorno rápido e do processo terminado
pela metade. É a mágica do produto sem processo.
Nossas crianças recebem uma
educação meia-boca, focada em ideologias, como se focar o aprendizado em
matemática fosse uma conspiração capitalista de direita com o objetivo de criar
uma força de trabalho desvalorizada para a exploração da burguesia.
Só que não é. Ensinar
matemática é dar as ferramentas para uma criança entender e modificar o mundo,
criar, produzir o que ela acha que é significativo. É dar poder e liberdade
para a criança.
Poucas coisas dão mais
poder a uma pessoa do que a capacidade de entender a estatística. É essencial a
criança sair da escola sabendo que uma média vale mais que um exemplo, e que em
determinadas situações nem a média nem nenhuma ferramenta estatística é capaz
de simplificar a realidade. Quantas situações de violência, racismo, machismo
são frutos da simples incapacidade de perceber essas diferenciações?
Vivemos um delírio (e acho
que não só no Brasil) de que você pode ficar rico, virar chefe, diretor, ser
ouvido, criar seus filhos, tudo sem trabalhar. Para aprender matemática, o
menino tem que sentar a bunda na cadeira e gastar umas horas entendendo o que
está acontecendo. No nosso mundo do produto, ninugém quer saber do processo, e
perde-se a oportunidade de ensinar às crianças a lição mais importante que a
matemática ensina: não é possível fazer as coisas pela metade. Você tem que
sentar e aprender tudo sobre funções, porque senão você vai se estrepar quando
tentar aprender trigonometria. É simples. Quanto mais tempo você gasta com o
problema, melhor vai ser a solução.
E em uma realidde em que o
que importa é o consumo do produto, e não o processo do protudo, você encontra
aberrações lógicas como pessoas querendo ser chefes sem trabalho. Ou um país em
que as coisas são consistentemente feitas pela metade.
(*O texto é produto
de Guilherme Menezes, ex-aluno, hoje engenheiro de computação, uma daquelas
exceções que justifica e honra o processo de ensinar a pensar o pensado.)
Muito bom!Todos os nossos alunos deveriam ler esse texto.
ResponderExcluirJeanne France
Chego dia 20 gostaria de te ver, Stefannia
ResponderExcluirSaudades... Vai ser uma grande alegria revê-la, depois de tanto tempo.
ExcluirAbraço,
Juarez