Com tanto vaso ruim...
... e vai-se Millôr Fernandes (1923-2012).
Humorista, desenhista, escritor, dramaturgo.
Pensador, gênio.
Criança, muito cedo eu já lia Millôr no jornal O Pasquim e em sua coluna Pif Paf, na revista O Cruzeiro. Alguns exemplares chegavam lá em nossa casa humilde porque um tio da Marinha os trazia do Rio de Janeiro, numa época em que computadores eram visagens da ficção científica e livros eram um luxo, tesouros da juventude, asas e sonhos que pairavam acima das nossas necessidades. Mas instigavam descobrir e ir muito além delas.
Eu gostava das ilustrações, do estilo de Millôr, embora, menino, me escapasse um tanto da ironia de seus textos.
É dele, impagável, a frase: “O último refúgio do oprimido é a ironia, e nenhum tirano, por mais violento que seja, escapa a ela. O tirano pode evitar uma fotografia, não pode impedir uma caricatura. A mordaça aumenta a mordacidade.”
Millôr foi um dos meus primeiros professores nas primeiras letras, ao lado das revistas Conde Drácula (das edições Bloch), Gato Félix e Walt Disney, que minha infância devorou no pensamento mágico.
O Brasil fica mais medíocre.
Mais conveniente, mais conformado.
Menos divertido.
Mais jeca.
Mais intelectualmente castrado nestes tempos obscuros e sem graça do “politicamente correto” em que, parafraseando Millôr, mais brinca a hipocrisia como quem brinca com a roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada... e em geral, quando a gente encontra um espírito aberto, entra e verifica que está é vazio.
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