quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dos Contos do Reino


Era uma vez um reino, muito além da Taprobana, da terra dos brasões assinalados. O rei era chegado em birita e tatibitati. E com birita e tatibitati governava o rei, bicado de glórias etílicas em terras viciosas, a dispensar menos que o prometido aos seus também bicudos súditos, no reino destarte edificado.
Biritava El-Rey e biritava o povo, de tal modo e tanto que a birita era produto de exportação e patrimônio nacional. E tanto era que qualquer motivo, ou falta de, era pretexto para lavar o peritônio com quissuco.
Um dia o reino recebeu a visita de arauto de terras estranjas. Este arauto, pasmem, não era chegado aos xaropes de grindélia, às calibrinas e birinaites. Estranhou as useiras e vezeiras umazinhas, abrideiras e saideiras tão em voga neste lugar das águas bentas. Pois não é que o indigitado abstêmio deu de anunciar aos quatro cantos do mundo que naquele reino distante a giribita era uma instituição social e, ooohhh, o rei tinha real pendor pelas paratis.
Seguiu-se verdadeira comoção pública e, diante do caldo entornado, reuniu-se emergencial Conselho para enfrascar tão grave assunto de Estado. Era preciso fazer algo depressa. Afinal, tamanha toldança, sabia-se, só era comparável à gafe de outro rei que, tolo, caiu na lábia de espertalhões bajuladores os quais se aproveitaram do vaidoso monarca para vender-lhe um tecido mágico. O tecido, garantiam, somente pessoas inteligentes poderiam ver. Tendo-se mostrado primeiro a seus ministros que para não passarem por idiotas confirmaram as mágicas excelências do tecido, o rei veio finalmente a público com suas novas roupas. Com pompa e circunstância diante do reino engalanado sob ohs! e mais ohs! de espanto, desfilou a vaidosa majestade até que um menino gritou: o rei está pelado!, o rei está pelado! Não se sabe que fim levou o menino, na sua impertinência de enxergar a real nudez.
Mas no reino do berro dágua era incabível tal desfaçatez. Pois, pois. Quanto ao arauto alienígena que vinha arrotar sobriedade em terras de tome juízo e arrebenta peito, decidiu o unânime e régio Conselho, com base no artigo 51 da madeira de lei, expulsá-lo do reino com um pé na bunda. O que logo se fez, sob decreto real e cuspe de marimbondos.
A história não termina por aí. Alguns poucos anos depois, sob a ressaca de ideira pifa, deu-se o rei pela tampa, depois de reincidentes batidas envolvendo as carruagens e carroças do reino em trabuzanas danadas nas brabas dos pileques. Calamidade nas estradas reais! O rei então conclamou seu experimentado Conselho, decretou a moderação da perigosa instituindo uma dita lei seca. Sua majestade, claro, tinha seu próprio cocheiro, e a lei não alcançava a caneca de sua realeza. Todo o reino, a princípio, passou das talagadas às choradas e aos bebericos, passou a beber socialmente como se dizia nos gírios drinques.  O rei deu-se por satisfeito e, como de praxe embriagado com sua vaidade, voltou ao mé de seu reinado.
Passado o tempo, sabendo os bicudos súditos as leis esponjadas, como sói acontecer no reino das maçanganas, os costumes ficaram ainda mais frouxos e diluiu-se, por fim, o clamor reinante. E foi então que o povo, cheio da fanta e no cheiro dos perfumes, começou de novo a tropeçar nas próprias pernas e na glória das cascatas, vendo o chão entrar na terra.  

Moral da história: Rei bicudo, reino bicado.

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