terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dos Contos do Reino

Menos de uma década. Foi o quanto bastou para supitar em toda parte e qualquer lugar uma profusão de macacas de auditório. Nunca dantes vista na história do reino do trololó...
A micagem no reino passou a ser tanta. E de tal monta e de tamanho espectro que muita gente nem se deu conta e entrou de gaiato na onda do everybody macacada.
Tanto mico em oferta. A torto e a direito. Tudo junto e misturado já era praticamente um problema de saúde mental pública. Apesar do pouco se me dá da opinião, também, pública. Inclusive menos preocupada em saber se o pato é macho do que com o beber ovo.
Mas eis que um dia, obscuro pero atento filósofo alertou para o fenômeno quando, de repente, não mais que de repente, acordou com a macaca. 
Tratou logo o ilustre desconhecido luminar de buscar explicação para o fenômeno. Mais por razões de macacoa que de macacos me mordam propriamente dita.
Pois foi o inaudito filósofo, em sua investigação, dar com os olhos na página tal, do livro tal, do tomo tal, na súmula tal, onde se lê:
“Descartes afirma que os macacos poderiam falar, se quisessem, mas preferiam guardar silêncio para não serem obrigados a trabalhar.”
Em outro volume, leu que Chita, a inseparável macaca do rei dos macacos, é na verdade um chimpanzé macho e sua inserção na cultura e na civilização do reino, onde adquiriu o gosto de beber cerveja, depõe bastante contra os naturalistas. Mas sendo o tema mais afeito às artes comerciais que à literatura científica, isso não vem ao caso.
Ora, para o filósofo, Descartes é Descartes e macacos são macacos.
Pespegado pela máxima de Protágoras, a ideia de que “o homem é a medida de todas as coisas”, o filósofo relativizou.
Mas de Zaratustra, na página tal, do livro tal, do tomo tal, estava a pergunta arrebatadora: Que é o macaco para o homem?
Para o filósofo, a resposta surgiu com a desconfiança inveterada de que o macaco serve de modelo a certos tipos humanos nas más disposições que demonstram em suas tendências imitativas e naquela espécie de memória circense, idiota feliz.
Com a questão a macaquear-lhe as preocupações, a qual dedicou denodado exame, chegou o filósofo à conclusão. De que os homens são em tudo semelhantes quanto diferentes dos macacos.
Em tudo se assemelham porque, tal como as crianças, aprendem por imitação e gugudadá. Mas em muito se diferem porque, mais obstinados, ora se calam, circunspectos como se, aos bandos, gente fossem; ora, aplaudem – e isso o que mais fazem, se para tanto bananas lhes dão e não tenham de trabalhar. Principalmente trabalhar.
Convencido de que havia descoberto o raciossímio oculto sob a imitação do macaco, eis que se viu o filósofo no dilema da vã filosofia ao expor sua tese a uma plateia. Formada, em maioria, por macacas de auditório.

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