Duas amigas modernetes, over 40, se encontram e
conversam rapidamente.
Uma, toda animada, diz que arrumou um namorante, um promotor... de vendas.
Na semana seguinte, elas se reencontram no salão de beleza.
A primeira conta que a fila andou, o boy magia da vez é um juiz... de
futebol de várzea. Toda prosa, lembra que conheceu os dois na mesma boate, a
Babylow, que é uma ferveção nas sextas-feiras:
– É uma loucuuuraaaa, amiga! Total flex, cê precisa ir lá pra ver, Su!
A segunda, Suzilene, a Su, era um tanto bem resolvida. Pelo menos, se
achava. Mas ficou com a curiosidade naturalmente aguçada, de tanto que a amiga
falou do lugar, e resolveu pousar na balada.
Não deu outra.
De cara conheceu o bofe.
Ele tinha os dedos indicador, médio, anular e mínimo tatuados com as letras
L O V E e um coraçãozinho torto no polegar. Era previsivelmente bem mais jovem
e contava entusiasmado ter um futuro promissor como chefe da controladoria...
do setor de perdas do supermercado Trem Bão.
Com todas as despesas da noite pagas, motel inclusive (Suzilene fazia
questão e ele nem se fazia de rogado), o affair durou o tempo de baixar a maré
da ressaca, curada com água de coco e sopa de missô, no quarto às escuras. Mas
a ressaca moral...
Poucos dias depois, ela estava no consultório de uma terapeuta focal,
dessas especializadas em dar uma geral rapidinha na alma e espanar para bem
longe o pó acumulado das angústias.
À especialista – muitíssimo bem recomendada por outra amiga –, Suzilene
queixou-se de que estava assim, repentinamente, sentindo um vazio interior.
– Acho que estou ficando deprê.
A terapeuta, craque no perfil das pacientes – mais uma das que atendeu
naquela semana, reconheceu logo alguns grilos, menos que sintomas. Tratou logo
de tranquilizá-la.
A princípio entabulou uma conversa sobre mudança de hábitos, uma vida mais
saudável e estimulante.
Suzilene pareceu animar-se.
O quadro não era grave.
– Massagens relaxantes, sono regular, atividades físicas, dieta balanceada,
mas principalmente sair da rotina, mulher!
– Nossa, eu já faço academia e dieta só mesmo se for para sumir de vez.
– Bem, um pouco mais de diversão, quem sabe... Olha, eu poderia sugerir...?
Antes que a outra concluísse, Suzilene assentiu e ergueu o olhar, um pouco
mais confiante.
Discreta, a terapeuta abriu a gaveta, pegou um cartão e entregou-lhe.
Era o endereço da boate Babylow.
Suzilene pegou o cartão e dobrou-o na mão.
Fez uma pausa e respirou fundo.
– Sabe o que é?... eu fui lá na sexta-feira...
– E aí?...
Aí, ela agradeceu e, encarando a terapeuta, levantou-se, caminhou até a
porta. Voltou-se e fez um gesto com a mão, distendendo os dedos indicador e
polegar.
Não se referia ao tamanho do salário, ó, nem do futuro promissor do bofe
daquela noite. É que, até então vivendo sozinha, independente, bem resolvida e
feliz – embora isso pudesse parecer impossível às amigas e ao resto do mundo,
Suzilene convenceu-se ali de que estava mesmo era precisada de uma boa dose de
uísque. Caubói.
E antes de fechar a porta atrás de si, ainda ouviu a voz dizer-lhe:
– Por gentileza, peça para entrar a próxima.
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