sábado, 11 de agosto de 2012

Uma conta que não fecha

Mivla Rios
Venho observando o comportamento dos novos jovens solteiros nas redes sociais virtuais. É uma rotina bem redondinha, com começo, meio e fim.
Domingo à noite explodem no facebook e no twitter a choradeira e as dores de cotovelo – avalanche de frases, vídeos e verdadeiros depoimentos de carência, solidão e amores não correspondidos. Todo mundo reclamando dos relacionamentos frustrados, das cafajestagens alheias e da solidão. E esse batido vitimizado se arrasta pela segunda e pela terça, pelo menos.
Na quarta surge um novo comportamento – frases de autoajuda, pensamentos positivos e toda uma corrente de esperança começa a nascer. Chega de valorizar quem não me valoriza, ou é tempo de deixar pra trás aquilo que não me faz bem ou ainda algo como Deus não demora, Ele capricha se tornam a bola da vez.
Quinta, novos ares. Fim de semana se aproximando, é hora de mostrar superação, capacidade de dar a volta por cima e se preparar para o período “mais” incrível de toda a sua existência. Neste novo momento é de praxe criticar quem declara afeto. Afinal a sexta vai chegar e é preciso estar livre, leve e solto pra se acabar nas baladas.
Aí vem a tão esperada sexta-feira. E com ela todas as infinitas possibilidades de curtição, pegação, badalação, dentre outras. Todo mundo feliz, montados nas roupas, maquiagens, sapatos, e carros novos e cheirosos. Simbora! O mundo vai ficar pequeno pra tanta diversão sem compromisso.
Sábado é o ápice! Ou ainda o que pode se chamar de UTI (Última Tentativa de Indivíduo). Todo mundo na caça, buscando curtição a todo custo. O investimento é alto, expectativas idem. Vamos pra rua que é lá que mora a felicidade.
Pois bem, num destes sábados me aventurei numa balada do estilo denominado “sertanejo universtário”. Casa cheia, só gente bonita, feliz e carência alguma. Me diverti com o coro de vozes cantndo letras do tipo:
– Se namorar fosse bão isso aqui tava vazio.
– Tá a fim de um romance compra um livro.
– As mina pira, garra na tequila, pula na piscina, fica fácil de pegar.
– Gata, me liga, mais tarde tem balada. Quero curtir com você na madrugada.
– E hoje vai rolar o tchê, tchererê tchê tchê.
– Eu quero tchu, eu quero tcha. Eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tchu tcha.
– Ai, se eu te pego. Ai, ai, se eu te pego.
– É meu defeito: eu bebo mesmo, beijo mesmo, pego mesmo. No outro dia nem me lembro.
Lembra sim!!! Tanto lembra que mal amanhece o domingo começa a dor de cotovelo, de novo. Todo mundo cantou as letras das musiquinhas acima, dançou, gritou, rebolou e até beijou ou fez o lêlêlê, mas a verdade é que voltam todos à estaca zero e o ciclo recomeça. Vai ser mais um fim de domingo de “mimimi” nas redes sociais.
O negócio é de uma incoerência catastrófica, pois os mesmos seres humanos que estavam gritando aos quatro cantos do mundo o quão ridículo é o amor na sexta e no sábado, começam a chorar por ele no domingo e estendem isso na segunda e terça. O tal de rolar um lance, sem compromisso, que todo mundo quis e cantarolou, virou algo sem sentido e a turma passa a se perguntar onde estão os sentimentos, o caráter e o amor.
Sinceramente gente, me explica, por favor, porque eu acho que estou ficando meio burrinha. De que lado vocês estão? O que realmente pensam e buscam? Estou confusa. Se o negócio é pegar, beijar e fazer o lêlêlê, qual o problema de estar sozinho domingo à noite? Não era isso que vocês queriam? Eu, hein?!
Fico por entender e pensando mais à frente. Que tipo de estrutura de relacionamentos essa nova juventude vai construir? Será que teremos famílias? E os sentimentos serão mesmo renegados e lembrados apenas no final do domingo, na segunda, e, com sorte, na terça?
Como diria o locutor esportivo Sívio Luiz: “O que é que eu vou dizer lá em casa?” Isso tudo é muito estranho, pra mim, nonsense.
Sou de uma geração quase extraterrestre, que nasceu ainda na década de 70 (nos últimos seis meses 1979, tá?). Que conheceu o mundo sem a internet e as redes sociais e fica meio que no vácuo, sem entender essa conta que, na minha opinião, não fecha. Um dia o povo quer somar, no outro quer subtrair. Não há uma sequência lógica de raciocínio. Das duas uma, ou a minha matemática tá ultrapassada, ou essa turma ainda não aprendeu que pra ganhar algo é preciso perder alguma coisa. Não dá pra ter tudo e todos, o tempo todo, sem nenhum prejuízo emocional, moral ou afetivo. É isso que eu, analogicamente, penso.
Fim da equação, pelo menos pra mim.
(Mivla Rios é professora e coordenadora do curso de Comunicação da Faculdade Pitágoras.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário