Mivla
Rios
Venho observando o comportamento dos novos jovens solteiros nas redes sociais
virtuais. É uma rotina bem redondinha, com começo, meio e fim.
Domingo
à noite explodem no facebook e no twitter a choradeira e as dores de cotovelo –
avalanche de frases, vídeos e verdadeiros depoimentos de carência, solidão e
amores não correspondidos. Todo mundo reclamando dos relacionamentos
frustrados, das cafajestagens alheias e da solidão. E esse batido vitimizado se
arrasta pela segunda e pela terça, pelo menos.
Na
quarta surge um novo comportamento – frases de autoajuda, pensamentos positivos
e toda uma corrente de esperança começa a nascer. Chega de valorizar quem não
me valoriza, ou é tempo de deixar pra trás aquilo que não me faz bem ou ainda
algo como Deus não demora, Ele capricha se tornam a bola da vez.
Quinta,
novos ares. Fim de semana se aproximando, é hora de mostrar superação,
capacidade de dar a volta por cima e se preparar para o período “mais” incrível
de toda a sua existência. Neste novo momento é de praxe criticar quem declara
afeto. Afinal a sexta vai chegar e é preciso estar livre, leve e solto pra se
acabar nas baladas.
Aí vem a
tão esperada sexta-feira. E com ela todas as infinitas possibilidades de
curtição, pegação, badalação, dentre outras. Todo mundo feliz, montados nas
roupas, maquiagens, sapatos, e carros novos e cheirosos. Simbora! O mundo vai
ficar pequeno pra tanta diversão sem compromisso.
Sábado é
o ápice! Ou ainda o que pode se chamar de UTI (Última Tentativa de Indivíduo).
Todo mundo na caça, buscando curtição a todo custo. O investimento é alto,
expectativas idem. Vamos pra rua que é lá que mora a felicidade.
Pois
bem, num destes sábados me aventurei numa balada do estilo denominado “sertanejo
universtário”. Casa cheia, só gente bonita, feliz e carência alguma. Me diverti
com o coro de vozes cantndo letras do tipo:
– Se
namorar fosse bão isso aqui tava vazio.
– Tá a
fim de um romance compra um livro.
– As
mina pira, garra na tequila, pula na piscina, fica fácil de pegar.
– Gata,
me liga, mais tarde tem balada. Quero curtir com você na madrugada.
– E hoje
vai rolar o tchê, tchererê tchê tchê.
– Eu
quero tchu, eu quero tcha. Eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tchu tcha.
– Ai, se
eu te pego. Ai, ai, se eu te pego.
– É meu
defeito: eu bebo mesmo, beijo mesmo, pego mesmo. No outro dia nem me lembro.
Lembra
sim!!! Tanto lembra que mal amanhece o domingo começa a dor de cotovelo, de
novo. Todo mundo cantou as letras das musiquinhas acima, dançou, gritou,
rebolou e até beijou ou fez o lêlêlê, mas a verdade é que voltam todos à estaca
zero e o ciclo recomeça. Vai ser mais um fim de domingo de “mimimi” nas redes
sociais.
O
negócio é de uma incoerência catastrófica, pois os mesmos seres humanos que estavam
gritando aos quatro cantos do mundo o quão ridículo é o amor na sexta e no
sábado, começam a chorar por ele no domingo e estendem isso na segunda e terça.
O tal de rolar um lance, sem compromisso, que todo mundo quis e cantarolou,
virou algo sem sentido e a turma passa a se perguntar onde estão os
sentimentos, o caráter e o amor.
Sinceramente
gente, me explica, por favor, porque eu acho que estou ficando meio burrinha.
De que lado vocês estão? O que realmente pensam e buscam? Estou confusa. Se o
negócio é pegar, beijar e fazer o lêlêlê, qual o problema de estar sozinho
domingo à noite? Não era isso que vocês queriam? Eu, hein?!
Fico por
entender e pensando mais à frente. Que tipo de estrutura de relacionamentos
essa nova juventude vai construir? Será que teremos famílias? E os sentimentos
serão mesmo renegados e lembrados apenas no final do domingo, na segunda, e,
com sorte, na terça?
Como
diria o locutor esportivo Sívio Luiz: “O que é que eu vou dizer lá em casa?”
Isso tudo é muito estranho, pra mim, nonsense.
Sou de
uma geração quase extraterrestre, que nasceu ainda na década de 70 (nos últimos
seis meses 1979, tá?). Que conheceu o mundo sem a internet e as redes sociais e
fica meio que no vácuo, sem entender essa conta que, na minha opinião, não
fecha. Um dia o povo quer somar, no outro quer subtrair. Não há uma sequência
lógica de raciocínio. Das duas uma, ou a minha matemática tá ultrapassada, ou
essa turma ainda não aprendeu que pra ganhar algo é preciso perder alguma
coisa. Não dá pra ter tudo e todos, o tempo todo, sem nenhum prejuízo
emocional, moral ou afetivo. É isso que eu, analogicamente, penso.
Fim da
equação, pelo menos pra mim.
(Mivla Rios é professora e coordenadora do curso de Comunicação da Faculdade
Pitágoras.)
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